Madame Teia, a Sony se supera a cada filme

Voltamos a comentar mais uma produção da Sony Pictures em associação com a Marvel Studios. E como sempre, uma hora (ou algumas) de um grande exercício de paciência e resiliência. Assim como foi em Venom e Morbius, a jornada em Madame Teia (Madame Web), novo longa que tenta extrair alguma coisa de boa do Aranhaverso dos quadrinhos da Marvel, é mais uma jornada complicada para nós, que de alguma forma, crescemos acompanhando esses personagens, mesmo que pra lá de secundários, e que depositamos alguma fé de algo de bom possa surgir. E claro, nessa altura do campeonato, já sabemos que é jogo jogado. Madame Teia é mais um fiasco pra lá de sem-vergonha da Sony Pictures nessa parceria que, provavelmente, nunca terá fim.

Vamos aos fatos. Ainda que Venom tenha feito bilheteria, tanto o primeiro, quanto o segundo filme, foram muito aquém das possibilidades. Morbius então, nem se fala. Qual a possibilidade de que Madame Teia teria de ser um bom filme? Pois é. Mas, como sempre, quando a gente acha que não pode ficar pior, a vida se encarrega de mostrar o contrário. Em Madame Teia, vemos Dakota Johnson, da trilogia 50 Tons, protagonizando seu primeiro filme de supers. E pelo visto, ela não teve nenhum problema em assumir um papel do qual tinha zero conhecimento. Um ator/atriz, minimamente bem informado, deveria fugir das propostas da Sony Pictures dentro do Aranhaverso e que não esteja diretamente ligado ao seu personagem central: o Homem-Aranha.

Nessa pegada de personagem da série C da Marvel Comics, Madame Web tem direção de S. J. Clarkson, que foi a responsável por Defensores e alguns episódios de Jessica Jones. Nada muito promissor dentro do pacote. Ela conduz a história que coloca a origem de Cassandra Web (Dakota Johnson) nas telonas, mas sempre de forma apressada, bizarra e pra lá de errante. O prelúdio, mostrando a mãe pesquisadora na floresta da Amazônia Peruana já é o sinal para sabermos que “daí pra fente, é só ladeira abaixo”. Ela se confronta com um vilão com zero carisma, profundidade ou talento, vivido por Tahar Rahim (Napoleão, Maria Madalena). A descoberta da mãe de Cassandra (relativa a uma aranha especial que nunca foi encontrada) é o estopim para sua cura, mas desencadeia, na verdade, sua própria morte e o nascimento de sua filha. O problema é que até então, o filme sequer se dignou a mostrar que ela (interpretada por Kerry Bishé) estava grávida.

Depois da introdução, somos diretamente jogados para a vida de Cassandra, uma socorrista (e motorista de ambulância?), que compartilha seu dia a dia com Ben Parker (ouch!), vivido por Adam Scott. Aqui vemos que o filme até tinha uma ideia para ser trabalhada. Com uma herança poderosa correndo nas veias, ela começa a ter pequenas visões do futuro. Fato, que, vejam só, o vilão também se depara. Mais do que isso, o seu propósito ‘maligno’ nasce de sonhos/pesadelos, onde sempre vê um trio de heroínas (baseadas nas personagens vividas por Sydney Sweeney (Julia Cornwall/Mulher-Aranha), Isabela Merced (Anya Corazón/Garota-Aranha) e Celeste O’Connor (Mattie Franklin/’outra’ Mulher-Aranha). Nesses sonhos, o trio acaba matando o ‘vilãozão’ Ezekiel Sims. Por isso, ele decide que precisa descobrir quem elas são e fazer o que acha mais “correto”: matar elas. Claro né, afinal ele é um vilão. Enfim, um plot bem, mas bem complicado, e a ideia das visões, que poderia gerar algo interessante, já foi jogada no lixo.

Depois disso, Cassandra se encontra com o trio (de futuras heroínas) em rápidas passadas. Até decidir usar seu poder para realmente fazer a diferença. E isso inclui o quê? É claro, salvar o trio de garotas. Tudo isso com uma construção fraquíssima, usando o clássico argumento do “porque sim”. E pra ficar pior, a interação das três é digna de muita vergonha, com três (quatro) atrizes talentosas desperdiçando seu tempo e reputação em diálogos dignos de Malhação (nada contra). São vários os momentos em que a gente se torce na cadeira do cinema pensando “o que estou fazendo com a minha vida?”. 

E o que no início só parecia ruim vai piorando gradativamente. Desde os primeiros conflitos até o confronto final, tudo nos faz pensar no como esse projeto chegou à luz do dia. E na pressa de construir uma “equipe”, o vilão se mostra apenas uma cópia malfeita do Homem-Aranha, que pouco conversa e que pouco mostra do que é capaz. Afinal, ele consegue ser derrotado sem sequer arranhar suas possíveis vítimas, sem colocar medo em ninguém, e, por óbvio, sem conseguir minimamente concatenar alguma frase que faça o mínimo de sentido em todo esse bolo. 

O último ato do filme segue complicando ainda mais tudo que foi mostrado, chegando ao cúmulo de que fogos de artifício cegam a nossa protagonista ao “estourar dentro da água”. Tudo para no final ela aparecer com o óculos característico da personagem dos quadrinhos (porque sim), em uma cadeira de rodas estilo Charles Xavier (porque sim), e já de alguma forma, liderando as três jovens que aparecem já com poderes (porque sim), dando a entender que já existe um time com todas as Mulheres-Aranhas possíveis de se colocar em um futuro filme que, assim como Madame Teia, não se presta a ter sentido na nossa existência. 

Lado postiivo? Dessa vez não tem cena pós-créditos.