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Maria Madalena | Crítica

Uma das mais controversas personagens da história mundial ganhou uma releitura agora no cinema. Maria Madalena, uma das seguidoras mais conhecidas de Jesus Cristo estreia dia 15 de março em todo o Brasil. A história dirigida por Garth Davis, de Lion – Uma Jornada para Casa, ganha contornos de redenção e empoderamento, e uma visão até então, pouco, ou quase nunca divulgada. Uma daquelas obras necessárias para desmistificar, e até mesmo corrigir, leituras de um mundo despreparado (no passado) para dar lugar ou protagonismo às personagens femininas. A produção tem em seu elenco Rooney Mara no papel principal, além de Joaquin Phoenix como Jesus Cristo e Chiwetel Ejiofor como o apóstolo Pedro. Apesar da pegada bíblica, é uma história universal e não ofende qualquer tipo de crença.

Como um filme de época e que envolve diversos sentimentos, a narrativa foca em Maria Madalena desde seus primeiros momentos, tendo Jesus e os apóstolos circundando os últimos dias do messias. O acerto é por dar ênfase total à personagem título, sem esquecer a necessária história que todos esperam ver, e valorizar os que a cercam. O roteiro assinado por Helen Edmundson e Philip Goslett destaca a força e a personalidade, construindo um perfil adequado de quem ao mesmo desafia a família por não aceitar casamentos combinados e a “necessidade” de constituir família, mas também não sabe ao certo o que seguir para o futuro. Isso até o dia em que ela percebe que seu destino e sua vida terão outro sentido seguindo uma palavra mais igualitária. Desde o início ela contraria hierarquias, mas sem parecer acima de tudo e de todos. Mesmo sendo diferente, ela mostra dúvidas e cresce conforme os acontecimentos (que já imaginamos) vão acontecendo ao seu redor: uma palavra e uma mensagem de paz do Messias, seus dons miraculosos, e acima de tudo, o significado que ele traz ao mundo, apenas pregando de que somos nós que construímos um lugar melhor para viver.

 

E entre os desafios da personagem, ficam evidentes os obstáculos de ser mulher. E transpondo aos dias atuais, muitos desses desafios, erroneamente, ainda existem. Afinal, não existe lugar “certo” para a mulher. Ela pode estar onde quiser, e a liberdade dela é pauta até hoje. É de Maria Madalena a interpretação mais acertada de tudo que Jesus Cristo prega. Os cenários reais e  a necessária desglamourização da história da Bíblia é também um destaque interessante. Mesmo em um processo hollywoodiano, ter um grupo de vagantes por Jerusalém, seguindo um homem por todos os lados, nunca poderia ser um trabalho para pessoas que parecem ter saído de um instituto de beleza. Aqui, o sofrimento na peregrinação e na qualidade de vida dos apóstolos fica evidente. Tudo é envolto de muito esforço e crises reais, culminando em momentos de rebelião que levam ao desfecho violento da morte de Jesus Cristo.

Rooney Mara interpreta Maria Madalena

Rooney Mara cumpre novamente um competente papel de protagonista. Embora uma escolha também dentro de um arquétipo de atriz padrão da indústria do cinema, ela impregna uma sutileza interessante, mesclando sentimentos importantes para a configuração de uma protagonista.

Com uma mensagem importante, Maria Madalena tira os contos bíblicos de algumas zonas de conforto históricas dentro da linha evolutiva do cinema. Infelizmente, é quase impossível recriar uma fatia da Bíblia sem um desfecho descritivo (daqueles com texto na tela mesmo), mas as últimas frases do filme são necessárias até mesmo para os católicos mais fervorosos. Maria Madalena é uma importante história para ser recontada. Não é só cinema de entretenimento.

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