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Ferrari aposta em boas atuações e nas nuances de um homem

Um magnata idealista e quase falido tentando lidar com todos os dramas da sua vida. Enzo Ferrari marcou a história do esporte, mas como eram os bastidores da vida do empresário? É isso que nos mostra Ferrari, de Michael Mann, um filme para os amantes do automobilismo não colocarem defeito.

Baseado no livro de Brock Yates, “Enzo Ferrari: o Homem e a Máquina”, o filme tem um recorte específico da vida do criador da escuderia mais famosa do mundo. Acompanhamos o verão de 1957 na Itália. A empresa está quase indo a falência após uma década da sua criação. É quando Enzo Ferrari toma a decisão de apostar tudo o que pode na corrida Mille Miglia, que percorre um longo trecho em seu país.

Colocar Adam Driver no papel principal me pareceu um tanto quanto arriscado. Afinal, não poderiam ter escalado um ator mais velho? Contudo, o Adam de Girls nos surpreende. A maquiagem é até crível, sua postura como italiano empresário e influente também. O crescimento da sua atuação está exponencial e Ferrari coroa isso. Ao seu lado, Penélope Cruz. Após viver diversas personagens espanholas perturbadas, ela encarna uma italiana quase mafiosa que quer defender a memória de seu filho. E, mais uma vez, ela vai bem nesse papel. Penélope tem um drama pungente em sua atuação que casa muito bem com uma italiana traída querendo refazer uma parceria que deu certo por um período, mas que se perdeu em algum momento da história.

Se Penélope é uma ótima esposa traída, Shailene Woodley é extremamente convincente como a amante complacente. Ela espera, aguarda, aceita. Faz tudo o que é esperado de uma mãe camponesa nos anos 1950. A amável Lina Lardi (Shailene) é o completo oposto da energia sexy e caótica de Laura (Penélope). A escalação de elenco foi muito bem quando colocou atrizes tão diferentes para esses papéis, mostrando as duas facetas da vida de Enzo Ferrari.

Falando em escalação de elenco, temos o brasileiro Gabriel Leone. No filme, ele vive Alfonso de Portago, uma promessa do automobilismo. O ator, que vai viver Ayrton Senna em breve, já havia mostrado seu talento em Dom, mas podemos apostar que vai despontar no cenário internacional. Sua participação é grande e sua atuação é realmente muito boa, seu papel é um dos destaques do filme. Com apenas 30 anos, Gabriel Leone pode se tornar nosso Pedro Pascal brasileiro. Que os jogos comecem.

Gabriel Leone estreia muito bem em Hollywood

Com costuras do passado e do presente, Ferrari tem um ritmo bem construído que não cansa o espectador. A mistura da ficção com a realidade funciona e o recorte temporal consegue contar uma história sem precisar apressar os acontecimentos. Além disso, o trabalho na ambientação em terras italianas é muito satisfatório.

E, voltando aos amantes do automobilismo, esse filme é para vocês. Todas as cenas que envolvem os carros e a velocidade são excelentes. São um oferecimento do oscarizado diretor que, mais uma vez, mostrou o motivo de estar apostando, há quase vinte anos, nesse projeto. O longa fica ainda mais interessante para quem gosta de corridas e de futebol, porque alguns easter eggs estão escondidos durante a narrativa.

Apesar de ser um ótimo entretenimento, não é um filme que aprofunde sentimentos. Explico. O longa não provoca emoções como compaixão, por exemplo. Nem quando ficamos sabendo de uma das passagens mais tristes da vida de Enzo e Laura, temos um sentimento de empatia. Nesse quesito, o roteiro peca ao contar tudo muito corrido e não envolver o espectador. Nem a falência iminente causa algum sentimento. No fim, estamos assistindo para ver apenas as belas cenas de corrida. Inclusive, o final se torna abrupto e a absolvição no tribunal é apenas contada por letras brancas em um fundo preto quando tudo está finalizado.

Contudo, apesar desse porém, Ferrari é um bom filme. As excelentes atuações contam de forma interessante uma história que fica no imaginário de quem gosta de automobilismo. Enzo Ferrari não é herói nessa história. Contudo, não é vilão. São muitas nuances de um homem que vive para sua escuderia mais do que para sua família ou para a própria fortuna. Ele tem uma única paixão que está bem clara enquanto o filme vai rodando. E, nesse quesito, acabamos nos apaixonando junto com ele. Vale a pena a pipoca!

Veredito da Vigilia

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