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O Agente Secreto é realmente tudo isso

Brasil, 1977. Entre bloquinhos de carnaval e a repressão da ditadura militar. A busca por identidade e o triste lugar de esquecimento. O Agente Secreto, novo filme de Kleber Mendonça Filho, chega aos cinemas no dia 6 de novembro e é a escolha, acertada, do país no Oscar.

Wagner Moura protagoniza uma história que vai se construindo aos poucos. Durante bastante tempo, temos muitas perguntas e pouquíssimas respostas. O clima de tensão ajuda a escrever um roteiro que prende durante 2h40 em que não se vê o tempo passar. Marcelo (Moura) está dirigindo seu fusca amarelo rumo à Recife. Pouco sabemos deste homem que, logo na primeira cena, se compadece de um corpo que está caído em um posto de gasolina.

Ao chegar na capital pernambucana, ele encontra Dona Sebastiana, personagem de Tânia Maria, que é responsável por roubar a cena todas as vezes em que aparece. Neste prédio, estão pessoas refugiadas, como eles mesmo chamam. Uma dentista desquitada, vivida por Hermila Guedes, por exemplo, compõe aquele núcleo que se encontra e, entre comemorações, relembram as mazelas que o país vem passando.

Com uma direção de arte primorosa, assinada por Thales Junqueira, o longa nos leva diretamente para 1977 e a escolha da cor do filme é outro grande acerto da equipe técnica. E esses dois fatores unidos à trilha sonora que mistura diversos gêneros faz com que O Agente Secreto tenha o tamanho que deve ter. É um filmaço.

A assinatura do diretor está ali. É um filme do Kleber. Divertido na medida, com diálogos inteligentes e uma pitada de nonsense que fazem rir enquanto nos deixam questionando o que está acontecendo na tela. Com cenas que lembrar o documentário Retratos Fantasmas e outras em que vemos Bacurau, a identidade de O Agente Secreto está ali e deve ser lembrada por muitos e muitos anos.

Tânia Maria é genial em O Agente Secreto
Prepare-se para repetir as frases de Dona Sebastiana

Falando em elenco, várias figuras carimbadas voltam ao longa. A genial Tânia Maria, que já participou de Bacurau e de Seu Cavalcanti, longa do diretor assistente Leonardo Lacca, Udo Kier e Thomás Aquino estão no longa em papéis interessantes. Contudo, o casamento entre Kleber e Wagner funciona muito bem. O ator, reconhecido internacionalmente por Narcos, se reafirma como um dos grandes do Brasil e, até mesmo, do mundo.

Quem ainda não assistiu O Agente Secreto se questiona para saber qual é a história desse filme. E, tudo que falei até aqui, é o máximo que eu posso contar sem estragar a experiência de assistir o filme pela primeira vez. É interessante notar que o Brasil acaba fazendo um pacto de silêncio – necessário – para preservar a magia do filme de Kleber Mendonça Filho.

Por óbvio, existe uma comparação direta entre Ainda Estou Aqui, de Walter Salles com O Agente Secreto. Enquanto o primeiro título falava sobre lembrança, o segundo aborda o esquecimento. Se Walter fala, abertamente, sobre ditadura militar, Kleber não cita, em nenhum momento o que está acontecendo. É implícito. Cada um tem uma visão de como essa época foi a partir do relato, das vivências e, ao que tudo indica, da forma em que encaram a vida. São dois grandes filmes da cinematografia brasileira.

O Agente Secreto nos faz vibrar a brasilidade latente. A alegria de viver em um país que, apesar dos pesares, fala da sua história e a relembra. Kleber Mendonça Filho fez um filme para debater o esquecimento, mas nos fez lembrar o quão importante é viver com liberdade, sem medo de se ser quem é. E lembrou, também, que o nosso povo tem a capacidade de rir até mesmo quando parece que o mundo vai ruir à nossa volta.

Veredito da Vigilia

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