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Retratos Fantasmas revisita cinemas e emoções

Nem relato, nem ensaio. Tão pouco documentário. Kleber Mendonça Filho (Bacurau) define seu novo longa apenas como um “filme”. E essa é a única vez que apenas pode aparecer neste texto. Retratos Fantasmas é um filme de superlativos. Um longa que, com inteligência e sutileza, une o passado e o futuro contando uma história pessoal que pode ser de todos nós.

Retratos Fantasmas é sobre tudo o que já vivemos. A casa que nos abrigou por muito tempo, o barulho de um antigo vizinho, a cidade que se transforma. O retrato da vida que passou. Que se modificou. Que deu espaço para uma nova era.

Narrado pelo diretor, o longa tem Recife como personagem. As histórias de Kleber se misturam com os acontecimentos da cidade. Contudo, em vários momentos, sinto que ele poderia estar em Porto Alegre, ou qualquer grande cidade. Porque Retratos Fantasmas é sobre pertencimento. É sobre o mundo que muda da mesma forma em todas as grandes capitais.

O primeiro ato tem a casa em que Kleber morou por mais de 40 anos como peça central. O local que o diretor começou a treinar seu ofício e que foi, inclusive, parte fundamental de outros filmes seus, como Som ao Redor e Aquarius. Ele fez um movimento muito difícil: fechou as portas da casa que cresceu. Do ambiente que morava a memória de sua mãe.

Entretanto, não foram apenas essas portas que Kleber fechou. Ele nos faz viajar para o centro da cidade e fechar cinemas que ajudaram a escrever a história de Recife. Fomos com ele, para épocas em que o cinema era na rua e era prestigiado. Uma época em que tudo que era relacionado aos cinemas era glamouroso e artesanal. Os 35mm, os projetistas, a derrocada. A história vai nos envolvendo de tal forma que, quando vemos, estamos completamente apaixonados pelo que está sendo narrado. 

Com uma pesquisa primorosa, Retratos Fantasmas é diferente de tudo que você já viu. Não é um documentário, nem um ensaio. É um filme. Um filme feito para quem ama cinema e sabe a importância que a arte tem na sociedade. E, ao mesmo tempo, é um pedido de socorro. Mais uma vez, Kleber Mendonça Filho abre o Festival de Cinema de Gramado deixando o público encantado. 

 A Vigília indica que você vá, a partir do dia 24 de agosto, aos cinemas para assistir essa grande obra.

Veredito da Vigilia

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