Vidro: Shyamalan entrega, mas não surpreende | Crítica
A espera acabou. Vidro (Glass), um dos filmes mais esperados de 2019, chegou às telonas fechando uma trilogia de tirar o fôlego. Afinal, M. Night Shyamalan começou tudo em 2001, com Corpo Fechado e continuou em Fragmentado, em 2016, impactando e trazendo um novo olhar peculiar aos cinemas mundiais.
M. Night Shyamalan criou um universo tão denso e sombrio que, infelizmente não conseguiu se reinventar. Depois de Bruce Willians e James McAvoy brilharem, foi a vez de Samuel L. Jackson. Que bateu na trave. O Sr. Vidro, que deveria protagonizar todo o filme, dividiu seu papel principal com o drama dos outros dois personagens e deixaram a desejar, não pela atuação, mas pelo tempo em tela.
O roteiro também é assinado pelo diretor Shyamalan e esse é o maior tropeço do filme. Pela primeira vez, os três homens com transtornos e com qualidades sobrenaturais são tratados como super-heróis. Pela primeira vez também, os universos se colidem e Sr. Vidro orquestra um grand finale, que decepciona. Mas não vamos entrar aqui em spoilers.
O filme inicia enrolado, chega em seu ápice no meio e decepciona no final. A história demora para engrenar, mas temos a qualidade de atuação, que salva e muito Vidro. James McAvoy repete seu papel, na mesma grandiosidade de Fragmentado, fazendo que, em cada uma das expressões, possamos saber qual das 20 e poucas personalidades está falando. Kevin agora se refere à todas as suas personalidade como Horda. Claramente, ele se sobressai aos outros, que atuam discretamente. Bruce Willians retorna, em um papel de David Dunn mais cansado e justiceiro, mas também com talento, tão incrível quanto em Corpo Fechado e O Sexto Sentido. Samuel L. Jackson roteiriza, ou narra, de forma silenciosa o filme e tudo faz sentido no final.
Contudo, a falha de roteiro pode ser facilmente relevada. Afinal, o encontro com Corpo Fechado e Fragmentado traz muitas respostas que pareciam arquitetadas há quase duas décadas por Shyamalan. Se não foi, a coincidência foi feliz. Tudo nesse filme parece milimetricamente organizado. Os enquadramentos tortos, a troca de câmera rápida, os planos em primeira pessoa. As cores, tão importantes para o diretor, também estão presentes. Dunn é verde, Vidro é roxo e Kevin (ou a Horda) amarelo, jogando com essas cores durante todo o longa. Tudo faz parte de um universo muito único e constrói esse filme de suspense/terror/horror que é tão particular de Shyamalan que não surpreende. E esse quê de surpresa falta durante todo o filme.
Shyamalan traz uma discussão muito pontual neste longa. Em época em que os super-heróis e suas grandes franquias ganham cada vez mais espaço nos calendários de lançamentos, o diretor e roteirista debate sobre a capacidade do público de querer viver uma vida irreal e imaginar o mundo sob a perspectiva dos quadrinhos. Quem são de verdade os super-heróis? Em uma cena, Dra. Elle Staple (Sarah Paulson) pergunta “vocês já viram o que é uma convenção de quadrinhos?” um tanto quanto estarrecida. A personagem tem como objetivo mostrar que não existe nada sobrenatural, só devaneios da cabeça deles. A discussão pontual dura o filme todo, sutilmente.
Vidro fecha a trilogia de forma honesta, mas não grandiosa. Falta algo, falta um ápice. Falta o verdadeiro fator surpresa. Mas traz o universo de M. Night Shyamalan de forma pura e simples, como tanto gostamos. Vale o ingresso e a pipoca, mas prepare-se para sair da sala de cinema esperando algo mais.