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Sombra e Ossos vai muito além da obra que inspirou a série

Ao assistir o trailer de Sombra e Ossos, inspirada nos livros de Leigh Bardugo, logo percebemos que a nova série da Netflix tem a pegada de filmes teens, que inundaram os cinemas dos anos 2000. Sagas como Harry Potter, Divergente, Percy Jackson, Maze Runner, Jogos Vorazes e tantas outras utilizam o velho clichê do “adolescente escolhido”, que lutaria contra as forças do Mal e livraria o planeta da grande ameaça que vinha dominando tudo e todos durante anos. Completam o combo alguns triângulos amorosos e momentos em que o mocinho será enganado pelos vilões. 

Pois bem, temos tudo isso em Sombra e Ossos, que estreia no dia 23 de abril. Somos apresentados à localidade de Ravka, que ficou dividida após o Herege Negro criar uma barreira de sombras, a Dobra, na qual as criaturas monstruosas chamadas de Volcras habitam, impedindo que os lados Leste e Oeste se unam e vivam como uma nação. Para encontrar uma solução temos pessoas dotadas de habilidades especiais, os Grishas, que são o foco dessa trilogia (Sombra e Ossos; Sol e Tormenta e Ruína e Ascensão) e de outros livros escritos pela mesma autora. Aos humanos “normais”, resta atuar como militares ou alguma outra função do cotidiano. Nossa protagonista, Alina Starkov (Jessie Mei Li), é a cartógrafa dos militares, que tem a missão de mapear a Dobra. 

Alina, a nossa protagonista clichê

Alina tem uma forte ligação com seu amigo de infância, o também órfão Malyev (Archie Renaux), que nos livros é chamado de Maly e na série de Mal. Tal personagem sofreu grandes transformações de personalidade em relação à obra original. O rastreador do exército é mais galanteador, cheio de si e não demonstra nenhum sentimento amoroso desde o início a sua amiga nas páginas do livro, enquanto que nos capítulos da série, ele é retratado mais como um brutamontes brigão, que passa o tempo todo se ferindo e é apaixonadíssimo pela garota. 

Mal/Maly vivendo o seu momento Jacob, da Saga Crepúsculo

Tais mudanças também são perceptíveis na protagonista, que é menos donzela em perigo e encantada com tudo de novo que vê, e mais uma garota com uma personalidade mais firme, querendo se empoderar. Outra alteração também foi no passado da jovem, que aqui recebe mais atenção do que no primeiro livro. Claro, tudo isso faz parte do clichê do escolhido ser alguém odiado por todos devido a sua origem. Mas voltando a série, Alina descobre ser a Conjuradora do Sol, um ser com a capacidade de manipular a luz e que naquele mundo parecia ser somente uma lenda. Após tal descoberta, a garota é transportada aos domínios da realeza, sob a tutela do general Kirigan, o Darkling (Ben Barnes), um homem descendente do Herege Negro e que busca a redenção para sua linhagem destruindo a Dobra. Esse feito poderá ser conquistado caso ele e a Conjuradora do Sol unam forças, restaurando a paz e a união em Ravka.

A imponência de Darkling

Pois bem. A história do primeiro livro da trilogia possui essa narrativa linear, no qual acompanhamos somente a jornada de Alina e a descoberta de seus poderes. Porém, com certeza isso não renderia uma série de oito capítulos de praticamente uma hora cada. Por isso, personagens de um outro livro, de um spin-off escrito por Leigh Bardugo, foram inseridos na trama, que passou a ser contada por diferentes núcleos, culminando no mesmo final. O núcleo em si é formado por Kaz Brekker (Freddy Carter), dono do Clube do Corvo, Inej (Amita Suman), uma espiã especializada em missões furtivas e Jesper (Kit Young), um pistoleiro com problemas em jogatina. Todos fazem parte da duologia Six of Crows.

Confesso que gostei de como eles foram inseridos na história, pois são muito carismáticos, o que pode lhes render uma série spin-off futuramente. 

Esse trio merece uma série só deles

Outro núcleo, que somente no final da série se justifica um pouco, mas não a ponto de fazer grande diferença no decorrer dos fatos, é da Grisha Nina Zenik (Danielle Galligan). Para você ter uma noção, chegamos a ter episódios nos quais ela não aparece, não fazendo falta alguma para tudo o que estamos assistindo e o desenrolar da trama naquele momento.

Nina e a sua jornada esquecível

Sombra e Ossos conta com figurino e cenários bem caprichados, inspirados na época da Autocracia czarista. Contudo, os efeitos especiais, principalmente na manifestação de alguns poderes, deixam a desejar. Além disso, tem aquele gostinho de filme adolescente dos anos 2000, porém em outra mídia, o que lhe rendeu mais tempo para ser trabalhado e também, enxertado, já que a série foi pensada a longo prazo, inserindo desde cedo personagens que não precisavam estar aqui e agora. 

Se essa jogada foi precipitada ou não, só o tempo dirá. A verdade é que você provavelmente vai atrás dos outros livros da Trilogia Grisha assim que o último capítulo dessa primeira temporada terminar. 

Veredito da Vigilia

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