“O Esquema Fenício” tem a estética de Wes Anderson. E o conteúdo?
Wes Anderson é um diretor com muitos fãs. Fãs esses que defendem seus filmes — tanto pela estética, bem como por seu humor. E, para esses, já adianto que não precisam vir me crucificar. “O Esquema Fenício” vai seguir funcionando para vocês. Contudo, para quem não tem adoração por Anderson, o longa terá o mesmo efeito de “Asteroid City“.
Nessa história, Benício del Toro vive Zsa-zsa Korda, um dos homens mais ricos da Europa. Prepotente e sempre pronto para fazer um negócio de origem duvidosa, Korda tem em seu currículo diversas quedas de avião. Por este motivo, decide designar a sua filha Liesl (Mia Threapleton) como herdeira e responsável por sua herança. A jovem vive em um convento e está prestes a se tornar freira, então fica entre a família e a igreja.
Confesso que, ao saber desse mote, esperava um desdobramento muito mais estilo Sucession. Afinal, quando ele escolhe a única mulher para ser sua beneficiária, parti do pressuposto que os irmãos não eram dignos. Na verdade, eles são crianças. De qualquer forma, nem poderiam tocar os negócios. Pode parecer preciosismo da minha parte, mas quando o fio condutor se rompe logo no início, fica difícil acreditar no restante.

Por óbvio, Wes Anderson vai sair do tradicional e promover diferenças sutis e interessantes em todo figurino que ajudam a contar a história das personagens. Leisl tem diversas camadas. A futura-ex-freira está rompida com seu pai, mas tem uma inquietação para descobrir quem é aquele homem. Apesar de dedicar grande parte da sua vida ao convento, usa batom vermelho combinando com as unhas ou unhas verdes combinando com a meia-calça. A vaidade não foi posta de lado — e talvez, por isso, tope as investidas do pai para tocar os negócios da família.
Já Korda é uma figura repetida. Canastrão, enrolado, megalomaníaco. Fica difícil criar empatia com ele e nos vemos, em alguns momentos, torcendo para que ele se dê mal. Nem vilão, nem mocinho, apenas uma pessoa detestável.

O restante do elenco de apoio parece um grande Déjà-vu. Já vimos todos aqueles personagens com os mesmos trejeitos em outras obras do diretor. Não sabemos se é uma continuação, um reaproveitamento ou uma mesmice. Eu sempre escolho acreditar que é um universo expandido. Me sinto mais confortável assim. Michael Cera aparece como uma peça importante na trama, mas vai se tornando, cada cena que passa, mais pitoresco.
Logo após sair da exibição do filme, comecei a receber muitos questionamentos comparando com “Asteroid City”. E foi a pergunta que fiz para um amigo que assistiu em Cannes. O último filme de Wes Anderson me deixou, sim, ressabiada. Achei moroso. E esse se encaminha para a mesma pegada. Lento, sem grandes acontecimentos, mas com muita estética, que é a marca desse diretor, “O Esquema Fenício” pode ser facilmente esquecido.
Mas, como falei na abertura, você é fã de Wes Anderson, vá com alegria aos cinemas.