CríticaSéries

Narcos | Crítica da 3ª temporada

Narcos é uma daquelas séries que você não julga e nem questiona a qualidade técnica. Diferente de outras produções da Netflix, aqui temos cenários reais, efeitos práticos (pouquíssimos digitais) e uma história baseada em fatos reais. E se a terceira temporada perde em alguma coisa em relação às duas anteriores, é uma bola que já quicava desde o desfecho do primeiro arco. Não contar com a figura icônica de Pablo Escobar (Wagner Moura) é com certeza o maior fato no comparativo. Se antes tínhamos uma quase exclusiva história do maior narcotraficante dos anos 90, tínhamos também o nascimento de um império. O que separa a terceira temporada das demais é principalmente o estilo. Diferente do Patrón, os grandes chefes de Cali não ligavam para a popularidade. Sequer queriam se envolver em tudo, como fez outrora Escobar e sua megalomania. Outro que ficou pelo caminho foi o personagem de Boyd Holbrook: o policial Murphy e parceiro de Javier Peña (Pedro Pascal). Mas nem por isso Narcos se perdeu.

Javier Peña varia seu trabalho nos bastidores e na linha de frente

Dando continuidade à história dos barões da cocaína, ficamos com a herança da prisão de Escobar. Apesar de uma vitória política, sua morte não freou a produção ou distribuição de drogas. Pelo contrário. Abriu portas para um sistema ainda maior, agora com operações paralelas de vários chefes. Aqui é retomada a saga de Javier Peña (Pascal). Ele segura as pontas da nova temporada com classe. Divide a tela com dois novos parceiros (nem um pouco cativantes, mas que cumprem suas funções), políticos, e, acima de tudo, o chefe de segurança dos irmãos Rodriguez. É no papel de Jorge Salcedo (Matias Varela) que vemos conduzida a dualidade de bem e mal nessa temporada. E são nesses momentos decisivos que temos o resgate da tensão que tínhamos nas duas histórias anteriores.

Salcedo (esquerda) foi o delator do patrão Rodriguez

Narcos, assim como outras produções da atualidade – cito Bingo – O Rei das Manhãs e  Feito na América -, traz temas e joga luz a fatos por vezes colocados em alguns porões escuros da história. E nesse caso, nossa história entre os anos 80 e 90. E nesse caso, três produções que se entrelaçam em uma palavra: cocaína. Embora a ação da DEA em busca dos chefões de Calli tenha sido “exitosa”, ela mostra todo o interesse político dos EUA em manter a tensão de guerra em outros países para, de alguma forma, lucrar oferecendo ajuda. Já no lado colombiano, a denúncia de um presidente eleito com dinheiro do tráfico. Duas verdades que trazem novas interpretações para situações vividas anteriormente.

Assim como nas temporadas com Pablo Escobar, temos as cenas fortes. Os crimes em massa, os atentados, as armadilhas do narcotráfico e os enlaces políticos e internacionais com as improváveis viradas de mesa. Os poderosos chefões de Cali, que quase conseguiram escapar ilesos, chegam, assim como el Patrón, aos seus desfechos trágicos. Mortes proporcionais a tudo que eles fizeram e impactaram na vida de toda uma sociedade. E como Narcos não é uma série sobre personagens, e sim sobre histórias ligadas ao crime e ao narcotráfico, já sabemos que vem mais por aí. Quase um mês após a estreia da terceira temporada de Narcos no serviço de streaming recebemos a notícia de que um dos produtores foi morto ao buscar locações para a quarta temporada, desta vez já apontando para as relações entre México e EUA. Em mais um daqueles momentos em que a vida imita a arte, ou a arte que imita a vida (nesse caso, a ordem é quase impossível de estabelecer) Carlos Muñoz Portal, assistente de produção foi morto a tiros. Impossível não pensar que isso possa ter alguma relação com o futuro da produção.

Fora as tragédias do mundo cão, a terceira temporada de Narcos é muito boa. A Vigília Recomenda.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *