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Futilidades são confrontadas em Triângulo da Tristeza

O longa “Triângulo da tristeza” que estreia nas salas de cinema brasileiras em 16 de fevereiro é o mais novo trabalho do diretor sueco Ruben Östlund. A história vem na esteira de alguns filmes que trazem como pano de fundo ricos confinados em lugares de luxo e/ou paradisíacos e que são confrontados com seus valores ou colocados sob um tipo de pressão ao qual não estão acostumados. O filme foca inicialmente no casal de jovens modelos e influenciadores Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean, atriz sul-africana falecida prematuramente em 2022) que em sua relação de permutas e trocas menos afetivas – e muito mais econômicas e simbólicas – participa de um cruzeiro de luxo.

A película é dividida em três atos, no qual primeiramente vemos o contexto vazio da relação do casal em seu “habitat natural”: os castings e desfiles do mundo da moda, restaurantes e hotéis caros. Em alguns momentos, Carl tenta levantar uma discussão sobre os papéis de gênero, no entanto, suas tratativas são em vão.

Na sequência passamos para a segunda parte onde assistimos à “interação” quase inexistente da dupla – cuja maior preocupação é com a produção de selfies e conteúdos do que com o passeio – com os outros passageiros do cruzeiro. Durante essa parte, somos apresentados a outros personagens como o capitão alcoolista e marxista interpretado por Woody Harrelson (Venom: Tempo de Carnificina); o bilionário russo capitalista Dimitry (Zlatko Buric) e a comandante Paula (Vicki Berlin), entre outros personagens que vão sendo apresentados com suas motivações.

A riqueza e sua parte ridícula em Triângulo da Tristeza.
Mundo da moda, hotéis caros e cruzeiros. Tudo sob uma ótica cheia de crítica em “Triângulo da Tristeza”

Aqui temos uma (primeira) reviravolta. No momento em que, durante um jantar, o navio passa a sofrer uma agitação violenta, várias verdades inconvenientes começam vir à tona. E por aqui, já fique preparado, pois, para além de uma alegoria, há cenas explícitas de escatologia – muito incômodas e desagradáveis, assim como no recente Babilônia – mescladas ao diálogo irônico sobre política e classes sociais entre o capitão e o russo.

Nesse ponto, após um acidente, o filme dá mais uma virada e somos levados a presenciar suas consequências com um grupo de sobreviventes, dentre eles o casal de modelos. Colocados à prova por sua falta de habilidade para sobrevivência, é aqui que a personagem Abigail, uma camareira da equipe do navio (interpretada magnificamente pela atriz filipina Dolly De Leon) cresce e se impõe na hierarquia da luta pela vida. A partir disso, uma série de relações e comportamentos começam a surgir até o final, que fica totalmente em aberto.

Triângulo da Tristeza foi o vencedor da Palma de Ouro
Passarelas antes do caos!

Triângulo da Tristeza é um filme com boas passagens e tiradas expressivamente críticas, sobretudo em relação à questão da imagem e do mundo das celebridades e da moda, mas por vezes perde a mão parando a narrativa do filme para um certo ‘didatismo excessivo e panfletário’ que compromete o andamento e deixa os 142 minutos de projeção bem arrastados, se perdendo na repetição (desnecessária) de algumas piadas. Nesse sentido, muitas ideias são abandonadas e o próprio final do filme não diz a que veio.

É um filme incômodo e que por vezes atinge o seu propósito de satirizar a elite e seus comportamentos fúteis. Porém, em outras, parece tão inócuo quanto o título do filme, um termo utilizado na área da cirurgia plástica para identificar a zona entre as sobrancelhas e o nariz, onde se acumulam as rugas e portanto necessita ser alterado para fins estéticos de prolongamento da juventude e da beleza.

Veredito da Vigilia

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