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X-Men: Fênix Negra, o fim de uma era | Crítica

Assistir X-Men: Fênix Negra é com certeza um misto de sentimentos. Precisamos reconhecer, foi o X-Men de Bryan Singer, no já não tão próximo ano de 2000 quem abriu (ou re-abriu) as portas do cinemão para os super-heróis dos quadrinhos. O grupo formado, em uma origem não tão fiel às obras de Stan Lee e Jack Kirby, por Professor X (Patrick Stewart) Vampira (Anna Paquin), Wolverine (Hugh Jackman), Tempestade (Halle Barry), Jean Grey (Famke Jamsen), Ciclope (James Marsden) e o “vilão” Magneto (Ian McKellen) foi responsável pela consolidação de que o mainstream poderia beber novamente dessa grandiosa fonte. Depois veio Homem-Aranha de Sam Raimi, e o resto, como sabemos, é pura história (na maioria das vezes, vitoriosa). E chegar, 19 anos depois, em um momento em que os heróis que salvaram a Marvel da falência estão se despedindo do estúdio que começou essa nova onda só impulsiona esse misto de sensações. O diretor Simon Kinberg  soube dosar tudo que vimos na franquia em um filme bonito, cuidadoso com os detalhes e efeitos especiais, mas como prevíamos (confira aqui), a nova ideia de recontar uma saga da Fênix Negra não funciona tanto como efeito dramático. Não em um filme só.

Não me leve a mal, caro leitor. Eu, junto com toda a galera da Vigília, era uma das pessoas que mais queria morder a língua com X-Men: Fênix Negra. Mas já sabia que seria muito difícil alcançar o nível de empatia antes visto nas páginas (de John Byrne e Chris Claremont) e, de certa forma, inserido na primeira trilogia de (X-Men, X:2 e Confronto Final). As notícias de regravações, de um diretor assinando sua primeira obra na cadeira principal e a compra da Fox pela Disney deixaram o cenário ainda mais conturbado. Por que esperar personagens tão queridos em um novo filme se sabemos que o futuro deles será totalmente diferente? Quase impossível deixar esse contexto todo de fora. O negócio então foi manter um exercício de não subir a expectativa e tentar enxergar o filme como uma despedida. E assim X-Men: Fênix Negra consegue ser emocionante.

Com essa ideia, as luzes apagaram e uma gravação de Simon Kinberg entra na sessão especial para os jornalistas. Ele agradece pelas críticas, tanto as positivas quanto as negativas ao longo de todos os anos, em uma quase apelativa busca pela sensibilidade de quem está na sala escura. O longa começa, e logo percebemos a narração, desta vez de Jean Grey (Sophie Turner) no lugar do professor Xavier (tradicional nas aberturas dos outros filmes). Entramos no carro da família Grey e vemos uma abertura impactante, bem montada e certeira. Um excelente cartão de visitas, seguido de um Professor X, sempre marcante na pele de James McAvoy, que acaba por levar a jovem mutante para sua escola. Seu discurso inicial é simples, e ao mesmo tempo belo, simplificando uma equação que na prática é absurdamente difícil. Principalmente na sociedade. No nosso mundo.

O início do fim

Passados os créditos iniciais, entramos na trama propriamente dita. Com cenas incríveis e uma sonorização amplificada pela sala IMAX, vemos que os atuais X-Men (pós Apocalipse) são vistos como heróis e não mais como aberrações. A mudança é drástica e temos até uma cópia do “bat-fone” (da série dos anos 60 do Batman), em uma conexão direta da Casa Branca com a Mansão X. Estranho, mas funciona o suficiente para que a equipe de Mística/Raven (Jennifer Lawrence, visivelmente cansada deste papel) e Hank McCoy/Fera (Nicholas Hoult) vá para o espaço em uma missão inesperada. O ritmo é acelerado o suficiente para lembrarmos de como Vingadores: Guerra Infinita foi marcante em seu primeiro terço. “Saímos em missões espaciais agora? Legal!”, ressalta Mercúrio (Evan Peters) em uma de suas poucas falas. Rápido, mas marcante. Em dois toques, estamos com Ciclope (Tye Sheridan), Tempestade (Alexandra Shipp), Noturno (Kodi Smit-McPhee) e claro, Jean Grey (Sophie Turner), onde deveriam estar para que a fagulha da Fênix fosse acionada. No meio dessa quase missão suicida, temos um orgulhoso Professor X, destoando de seus comportamentos nos longas anteriores. Aos iniciados, temos uma ponta da mutante Cristal (Halston Sage, antes cortada de X-Men: Apocalipse) em uma festa de celebração na Mansão X fazendo o que faz de melhor com a voz e com as luzes.

James McAvoy (Charles Xavier), Kodi Smit-McPhee (Noturno), Tye Sheridan (Ciclope), e Alexandra Shipp (Tempestade) em X-Men: Fênix Negra. Créditos: Doane Gregory.

A partir daí, o que menos importa é a história ou seus dramas. Eles não são marcantes como deveriam, muito por culpa de uma saga que deveria ser contada com calma e com mais capítulos. Os gatilhos dramáticos são apenas suficientes para que tenhamos o embate da Fênix contra seus irmãos mutantes. Até mesmo a clássica derrota inicial não joga com nossos sentimentos, mas serve como uma ‘vitória’ tardia, pois já não dava mais pra aguentar a presença forçada e inorgânica de uma personagem junto aos X-Men. Um ponto positivo e um alívio para a próxima uma hora e meia de filme. Ainda mais depois de uma equivocada frase (lacradora), que tal qual a personagem, não teve qualquer personalidade ou naturalidade ao texto e aos longas. Valeu a tentativa, mas execução não foi boa.

Ação, ação e mais ação

Para ampliar ainda mais o conflito instalado, temos alienígenas chegando na terra para buscar essa nova força que está em Jean Grey. E, com eles, o plano mais genérico dos filmes de ação: dominar e conquistar o mundo. E cabe a Jessica Chastain mostrar seu carisma em 20 segundos de cena, para depois, encarnar uma ameaça quase robótica. Quase um T-1000 de O Exterminador do Futuro vagando pelo mundo com alguns comparsas, também sem qualquer tipo de expressão ou importância para os fãs mais assíduos de quadrinhos.

Sophie Turner e Jessica Chastain. Uma é a trama do filme, outra, uma vilão sem grandes expressões. Créditos: Doane Gregory.

A partir daí, entramos em uma sequência de aventura com efeitos práticos e digitais. E o visual está sempre jogando a favor do filme. Temos uma excelente Tempestade finalmente mostrando seus poderes em lutas, alguns mutantes aleatórios para preencher cotas, e boas coreografias de luta (que nunca foi um dos pontos altos da franquia X). Noturno, Magneto (Michael Fassbender) e Ciclope fazendo jus aos seus poderes e claro, a Fênix mostrando quem manda. A ação é tanta que chega a um momento em que o filme fica arrastado. A mente cansando já começa a pensar: “Onde tudo isso vai parar?”.

O final é digno, previsível, e com poucas consequências, alavancado pela excelente trilha sonora do mestre Hans Zimmer. E, tal qual o início do filme, nos remete à franquia original e ao nosso misto de sentimentos. Um adeus bonito de uma franquia que marcou muita gente, mais no sentido simbólico do que catártico. Obrigado por tudo Fox, mas os X-Men realmente precisam oxigenar, e, certamente terão seu respiro e inovação, agora em outro estúdio, o mesmo que te comprou. Obrigado.

Veredito da Vigilia


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