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Trama Fantasma | Crítica

E o último dos indicados ao Oscar chega aos cinemas. Embalado pela assinatura do diretor Paul Thomas Anderson e por ser apresentado como último filme da brilhante carreira do ator Daniel Day-Lewis, Trama Fantasma traz vários filmes em um só. É uma história de amor, mas ao mesmo tempo de confronto. É uma história em que a necessidade de estar no comando de uma relação a dois parece doentia, tóxica e retoma a clássica máxima de que a linha entre amor e ódio é realmente muito tênue. Não é um filme de fácil digestão, então pode trazer um pouco do sentimento que Mãe!, de Darren Aronofsky, trouxe em 2017, mas sem entrar em paralelos divinos ou da criação do mundo. É um filme de Paul Thomas Anderson, responsável por obras como Boogie Nights – Prazer Sem Limites (1997), Magnólia (1999) e Sangue Negro (2007). E tudo isso já nos prepara um pouco para Trama Fantasma. A estreia oficial é dia 22 de fevereiro. Além de Melhor Filme, o longa também concorre em outras cinco categorias do Oscar: Melhor Ator, para Daniel Day-Lewis, Melhor Atriz Coadjuvante, para Lesley Manville, Diretor, Figurino e Trilha Sonora.

E ele começa quase que como um romance. Temos Reynolds Woodcock (Lewis) como um metódico (leia-se chato e exigente) e famoso estilista e costureiro de vestidos. Com poucas motivações no mundo que o cerca, ele parece retomar as energias para a vida e a carreira ao conhecer a garçonete Alma (Vicky Krieps). Após se conhecerem e passarem bons momentos, ela passa a integrar a equipe de Woodcock. E aqui vemos todos os tipos de caprichos, dedicação e situações que atualmente iríamos direcionar para um workaholic de primeira grandeza. Um tirano da alta costura e que não sabe lidar com as pessoas. Não tente confrontá-lo. Alma parece ter essa possibilidade, ainda que logo vá perceber que caiu em um relacionamento tóxico e abusivo. Não daqueles que beiram a violência física, mas a violência psicológica. Aqui o filme já começa a ganhar os contornos mais dramáticos.

Em meio ao enfrentamento de Alma e Reynolds, temos a irmã do costureiro. Cyrill (Lesley Manville) é o que restou da família Woodcock, da qual Reynolds não esconde a falta da mãe. É dela o escape e o entendimento do metódico estilista. Uma forte e necessária bengala de apoio. Em meio ao jogo de xadrez psicológico do casal, ela vai percebendo o quanto Alma está ao mesmo tempo se prejudicando, e se esforçando pelo relacionamento. E vai passar de dominada para dominadora. A trama cresce exatamente ao ritmo longo e demorado que Paul Thomas Anderson dá na construção da relação do casal. Ele não deixa nenhum detalhe de fora, sempre acompanhando os personagens de uma luz própria (ou falta dela) aliada a trilha sonora que auxilia na tensão. Já estamos em um thriller que mescla um tom de terror, e teremos até mesmo um toque sobrenatural.

Mas o espetáculo todo fica para o embate final. Não é a batalha do bem contra o mal, mas o choque de duas personalidades fortíssimas e que afloram a dualidade entre o rico que sempre teve do bom e do melhor, e a humilde, que busca em situações mais simples um pouco de felicidade. Se Daniel Day-Lewis não precisa provar mais nada em sua carreira como ator, Vicky Krieps abraça seu papel com tanta força quanto o veterano oscarizado, fazendo frente de forma surpreendente. E as cenas finais são aquelas de gravar na história tamanha a tensão em um simples servir de refeição. Trama Fantasma é uma soma de forças do cinema. Mas não é para todo mundo.

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