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Pequena Grande Vida | Crítica

Em um primeiro momento, ao se deparar com trailers e pôsteres de Pequena Grande Vida, você não terá a dimensão nem o tamanho da história da qual estamos lidando. Aliás, medidas, dimensões, noções e tamanho das coisas são as grandes temáticas do filme, que é, mais profundo e menos comédia do que as peças de marketing apresentaram até então. A obra de Alexander Payne (conhecido de Sideways – Entre Umas e Outras e Os Descendentes) não se pode julgar pela capa, e vem carregada de lições. São muitas e isso talvez atrapalhe o todo. Mas sim, você ainda vai conseguir rir em alguns momentos.

Paul Safranek (Matt Damon) faz sua consulta de como é ser um “reduzido”

A premissa é uma mistura de ficção-científica com comédia. Para salvar o mundo, um experimento consegue com sucesso reduzir os humanos para até 13 centímetros. Com isso, a produção de lixo, a devastação das matas, o problema da fome global e até mesmo da economia passam a ser problemas, proporcionalmente, reduzidos. Formam-se então, as primeiras colônias de “reduzidos”, espalhadas pelo mundo. No meio disso, o casal de classe média vivido por Matt Damon e Krysten Wiig: Paul e Audrey Safrânic. Decidido a mudar de vida para dar melhores condições e conforto para a esposa, Paul se vê em um drama de ter mudado de tamanho enquanto a mulher sorrateiramente desiste do procedimento aos 46 minutos do segundo tempo. Tragicômico.

Em sua casa gigante, mas de poucos centímetros, Paul passa a viver em uma realidade totalmente diferente da sua. Ele é agora um milionário no mundo de Lazerlândia, tudo proporcionado pela sua poupança, que no mundo real não passava dos três dígitos. A partir daqui, o filme dá uma guinada para a esquerda e passa a deixar a comédia imaginada para explorar situações que nos remetem à sociedade atual. Afinal, com tal experimento consolidado, governos tiranos passam a reduzir seus opositores e fugitivos buscam refúgio embarcando em encomendas e contrabandos tais como vemos os animais silvestres hoje em dia. E, certamente, para um humano de 13 centímetros, tais trajetos podem ser fatais. Apesar do tamanho, nem precisamos ir muito longe para ver que essa realidade existe. Mesmo que humanos não estejam dentro de caixas de sapatos.

Matt Damon e Hong Chau contam uma das tramas cheias de lições, exemplos e reviravoltas

Outro paralelo com a realidade são as colônias e divisões de classes. Mesmo no mundo perfeito de Lazerlândia, os que sofrem são os hispânicos, os latinos, os refugiados e os vietnamitas que, por algum motivo nem tão especial, também foram reduzidos. Os muros que Trump imaginou construir ao redor do México são os limites da cidade dos sonhos com o mundo real. E quando você acha que o filme já deu uma virada, aguarde sentado. Mais surpresas virão. Tudo sempre de forma muito questionadora. O que acontece no mundo? Por que acontece? Quais são nossas barreiras? Quais são nossos limites? Estamos cuidando de tudo que nos rodeia? Sabemos ao certo qual é a nossa razão de existir?

Pois é. Tudo isso e muito mais em um filme que não dá pra medir com régua a partir do cartaz, do elenco e da carcaça quase cômica que envolve a história. O que nos faz pensar nas nossas Pequenas e Grandes Vidas. Se o maior mérito do filme é questionar, o pior é não saber como fazê-lo, colocando todas as questões ao mesmo tempo. Sem foco, a força acaba se espalhando.

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