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The Dirt: cinebiografia do Mötley Crüe aposta na treta e não na música

The Dirt – Confissões do Mötley Crüe chegou ao catálogo da Netflix no dia 22 de março trazendo a cinebiografia da “lendária” banda de glam e hard rock Mötley Crüe. Com momentos divertidos, bem produzidos e coreografados e até uma certa dose de drama, o trabalho do diretor Jeff Tremaine, conhecido por seus trabalhos com o grupo de humor JackAss, é entretenimento puro, focando nas potenciais polêmicas midiáticas que consolidaram o submundo do rock no início dos anos 80, ou seja: sexo e drogas. Mesmo mostrando momentos graves, os fãs vão notar que a obra é um tanto romantizada (afinal a produção é dos próprios integrantes), o que alivia muito a barra dos músicos – o baterista Tommy Lee agradece. Com essa pegada, o vocalista Vince Neil (Daniel Weber), o guitarrista Mick Mars (Iwan Rheon), o baixista Nikki Sixx (Douglas Booth) e o baterista Tommy Lee (vivido pelo rapper Machine Gun Kelly) acabam apenas sendo retratados como um bando de adolescentes deslumbrados com a fama. E potencializando as tretas, o filme acaba esquecendo as músicas.

“The Dirt” – Confissões do Mötley Crüe é baseado no best-seller e autobiografia da banda, tratando dos sucessos, excessos e ascensão da banda na ruas de Hollywood. O roteiro é de Erik Olsen e Amanda Adelson.

Logo nas primeiras cenas já vemos qual é a “vibe” do filme. Não é uma sessão da tarde, então, por favor tirem as crianças da sala. Afinal, o Mötley Crüe sempre teve em sua essência a extravagância no visual, nas bebidas, drogas e mulheres. Temos de cara cada um dos músicos se apresentando com uma interessante escolha de narração em off. Sem vergonha de ser feliz, The Dirt nos remete às clássicas comédias adolescentes dos anos 80 que focavam em festas e situações de picardia – ou só motivos para mostrar mulheres sem roupa. A diferença é que muitas delas realmente aconteceram.

Vemos a banda se encontrando, se construindo, fazendo sucesso e crescendo, com momentos importantes divididos com outros grandes astros do hard rock e heavy metal, como David Lee Roth (Christian Gehring) e um caricato Ozzy Osbourne (interpretado por Tony Cavalero, que caprichou na entonação da voz). Nesta última, a reprodução de uma igualmente clássica história do mundo musical, afinal, nem só de cabeças de morcego é feita a dieta alimentar de Ozzy. E, assim como a história do morcego, essa cena não foi inventada. O acidente de Vince Neil que vitimou o baterista da Hanoi Rocks, Razzle, também é um momento importante do filme.

Tommy Lee (Machine Gunn Kelly), Vince Neil (Daniel Weber), Nikki Sixx (Douglas Booth) e Mick Mars (Iwan Rheon)

Mas o ponto crítico é que o filme pouco foca na música. Ela certamente aparece, e permeia principalmente nos momentos de ascensão da banda, mas não entra verdadeiramente no foco principal, que são as polêmicas. E no final das contas, The Dirt acaba esbarrando nos clichês das cinebiografias musicais, que se dividem em: começo da carreira, ascensão, derrocada e volta por cima. Esse último aspecto, no entanto, ainda entra como um ponto de interrogação. Apesar de ser mais orgânica e mais eficaz nas reproduções de shows e coreografias – momentos muito melhores do que os efeitos especiais e computação vistos em Bohemian Rhapsody – The Dirt não consegue encerrar com tanta força.

Mesmo apostando em situações que beiram o bizarro e o caricato, The Dirt acaba sendo um trabalho até acima da média nas produções originais da Netflix. Divertido, ele conta uma história bem conhecida, explorando momentos difíceis e incríveis (de morte e de quase morte), mas acaba esquecendo – propositalmente – outros. Com um bom ritmo e boas sequências, o longa ainda mostra de relance a chegada do grunge, cena musical que basicamente ofuscou o hard rock, quase ignora a fase de John Corabi, e ignora totalmente as fortes polêmicas de Tommy Lee, resumindo seus piores momentos a um soco em uma namorada. Mas vale bastante o play no seu serviço de streaming. Você com certeza vai se divertir.

Veredito da Vigilia

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