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Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis mostra que o Universo Marvel não tem limites

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, o segundo filme da Marvel Studios no ano, inaugura um novo gênero dentro do Universo Cinemático da Marvel. Se tínhamos espionagem em Viúva Negra, aventura em Homem-Aranha, comédia em Homem-Formiga e ação com Capitão América, agora entramos no mundo da fantasia. Não só entramos, mas mergulhamos com tudo. Um mundo diferente, que só quem já construiu uma longa estrada ao longo dos últimos 13 anos pode arriscar sem qualquer tipo de preocupação. Shang-Chi é a tão comentada mescla de filmes de artes marciais com a fantasia oriental, aquela consagrada por O Tigre e o Dragão, mas, ainda assim, é aquele filme básico de origem que a Marvel costuma entregar. O que para os fãs, é claro, nunca vai ser um grande problema, mas está longe de ser uma grande revolução.

Comandado por Destin Daniel Cretton (Luta por Justiça), Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis também expande o Universo Marvel nas telonas de uma forma surpreendente, mostrando que realmente a geografia do mapa da Marvel nas telonas não tem limites. Logo de cara somos apresentados a toda uma nova mitologia em uma cidade encantada e muito procurada por Xu Wenwu (Tony Chiu-Wai Leung) o pai de Shang-Chi. É ele também o tão comentado Mandarim, que surgiu em Homem de Ferro (2008) e teve continuidade em Homem de Ferro 3 (2013). Bem, quase isso. A polêmica revelação de que o ator Trevor Slattery (Ben Kingsley) se fazia passar por um terrorista internacional continua de pé. Aliás, ele volta aqui e com uma carga cômica incrível. Se talvez em Homem de Ferro 3 ele fosse um dos problemas do filme, ele agora é quem tem as melhores piadas. Mas o Mandarim, na verdade, não passa de um nome do qual o próprio imaginário social criou com seus vídeos. Uma decisão que parece bem acertada. Ao invés de termos os anéis mágicos vistos nos quadrinhos, vemos os tais anéis como braceletes poderosos, e que se aliam ao ballet e coreografias de lutas, que são realmente um dos pontos fortes do filme, por mais que elas não pareçam ter consequências físicas em quem sofre com socos e chutes.

Wenwu (Tony Leung) e Ying Li (Fala Chen) são a origem de tudo em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis.

Com a introdução dos Dez Anéis e do provável vilão, temos a carga dramática e familiar amparada em Ying Li (Fala Chen), a mãe de Chang-Chi. Completando a família, temos a sua irmã Xialing (Meng’er Zhang) e descobrimos porque Shang-Chi está nos Estados Unidos. Ele fugiu de seu pai, que parece ter enlouquecido após a perda de Ying Li. Era ela quem fazia conexão entre pai, filho e irmã. Mas não antes, sem passar pela infância e a adolescência do futuro herói, que foi treinado para ser uma máquina de lutar.

Avançamos para os dias atuais onde a vida segue após o Blip (uma recorrente após Ultimato). É onde vemos como funciona a dinâmica de Shaun (nome que Shang adota em sua nova vida) e a melhor amiga Katy (Awkwafina). Sem grandes rodeios, temos uma rápida introdução da rotina deles e já vamos para novas cenas de luta e a necessidade de Shang-Chi ir em busca da irmã. Sendo atacado por parte do exército do pai, temos a primeira amostra das habilidades do herói em uma cena agitada dentro de um ônibus em San Francisco (boa parte dela está nos trailers). É onde aparece a primeira vez o vilão Punho de Lâmina (Florian Munteanu), que é basicamente jogado na trama, assim como o Agente da Morte, que literalmente entra mudo e sai calado. Ponto negativo.

Shang-Chi (Simu Liu) e Punho de Lâmina (Florian Munteanu) em uma cena agitada. Mas não me pergunte de onde saiu esse cara.

Aliás, esse é um dos problemas do filme. Sem dar o devido peso e importância a seus personagens, somos simplesmente jogados a missões que oscilarão flashbacks explicativos (até demais) com cenas de ação e alívios cômicos. E tudo isso apresenta Shang-Chi como um filme sem muita personalidade, apenas seguindo uma cartilha já vista no MCU. Embora o visual e a mitologia compensem – são realmente lindos -, ainda estamos em um filme sem tanta alma. Por sorte, todo o elenco trabalha muito bem, rompendo barreiras importantes e simplificando demais a trama. Neste aspecto, Tony Chiu-Wai Leung é quem move a história toda. Embora não tenhamos o devido capricho nas suas motivações, sua interpretação abrevia muita coisa. As coisas simplesmente precisam andar e acontecer para que tenhamos uma grande batalha no final. E isso pode até não fazer tanto sentido entre personagens que até pouco tempo estavam conversando na mesma mesa.

shang-chi e a lenda dos dez anéis
Xialing (Meng’er Zhang), Shang-Chi (Simu Liu) e Katy (Awkwafina) na equipe do bem.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis nem de longe vai revolucionar o cinema de quadrinhos, como fez Pantera Negra, nem tão pouco será um semi-desastre, como Thor: O Mundo Sombrio. Mas serve muito para entregar um blockbuster divertido e movimentado, que tem em seu terceiro ato uma revolução de cenários, figurinos, coreografias, personagens e fauna mística, com tudo que se pode imaginar. É como se uma nova Wakanda fosse inaugurada. Os fãs de animes e cultura oriental vão certamente se deliciar com batalhas grandiosas. Um misto de Os Cavaleiros do Zodíaco com Dragon Ball, mas com todo esmero e competência que o CGI da Marvel pode garantir. É um deleite visual, embora tenha também seus pequenos problemas e “forçadas” de barra, mas passa. Shang-Chi emula um pouco que Mulan foi recentemente, com todo o visual incrível, mas uma história sem tanto peso ou preocupações para o espectador. Na verdade, parece muito mais um longa focado no público infanto-juvenil, onde o visual e as lutas se mostram itens mais essenciais que um bom roteiro.

shang-chi e seus momentos fantásticos
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis apresenta o lado fantástico da Marvel

Como todo bom filme Marvel que se preze, Shang-Chi também aposta em participações especiais que fazem o olho dos leitores de quadrinhos brilharem. Entre elas está a participação de Wong (Benedict Wong) e do Abominável/Emil Blonski, que certamente veremos novamente num futuro muito próximo. As outras completam o velho check-list da fórmula Marvel (e que de forma alguma passaram na cabeça desse que vos escreve), mostrando que Shang-Chi não está sozinho e que muito provavelmente teremos uma continuação. Mas isso, a gente até já imaginava antes de assistir, não é mesmo?

Veredito da Vigilia

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