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Segunda temporada de Expresso do Amanhã alerta sobre os perigos de um líder

Como já falamos em nosso texto de Primeiras Impressões da segunda temporada de Expresso do Amanhã (Snowpiercer), Wilford, o criador do trem que concentra toda a raça humana ainda existente na Terra, está vivo e querendo retomar o seu “brinquedinho”, que foi roubado há sete anos por Melanie (Jennifer Connelly) e os outros maquinistas do Snowpiercer. 

Na segunda temporada de Expresso do Amanhã temos uma crítica bem evidente ao perigo que os líderes carismáticos representam em um mundo com pouca esperança ou passando por uma grande catástrofe (como a que estamos vivendo desde 2020, por exemplo). Wilford, vivido por Sean Bean, tem todas as características de uma figura destas: é manipulador, usa a miséria alheia como proposta de campanha e só se interessa pelas pessoas que são úteis para ele. Bom, sempre tem aquele ponto fraco, que parece reavivar alguns sentimentos passados, mas mesmo assim não é suficiente para detê-lo. Na verdade, o seu calcanhar de Aquiles, sempre vai ser o seu ego.

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”

Porém, do mesmo jeito que temos o vilão Wilford com os seus objetivos, também temos o mocinho Andre Layton (Daveed Diggs) tentando “ocupar” essa vaga de líder no coração dos passageiros. Essa dinâmica da comparação entre os dois – Antigo Referência X Novo Referencial – está presente na atmosfera de toda a segunda temporada. Podemos fazer esse paralelo com qualquer cargo político ou de liderança em nossa sociedade. “Quando fulano estava no poder era bem melhor”. “Por que você não faz como o cicrano fazia?”. “Beltrano saberia como agir nessa hora”. Tudo isso vai minando a cabeça de Layton, que por mais bem intencionado que seja, vive com a sombra do antigo salvador o perseguindo a cada tomada de decisão.

Layton precisou engolir alguns sapos na segunda temporada

O fato de Expresso do Amanhã ser lançado semanalmente (com episódios duplos na primeira e última semana), deixou a série muito dinâmica. Cada capítulo focava em um personagem, que ditaria para onde o roteiro iria correr naquele dia. Um dos mais importantes foi o focado em Melanie, nos apresentando um ar meio Stephen King de narrar as coisas em ambientes solitários e claustrofóbicos. Porém, a personagem de Jennifer Connelly não aparece tanto quanto na primeira temporada, o que deu mais espaço para outros membros do trem. Na minha opinião, a pessoa que mais evoluiu nesses dois anos de série foi a encarregada pela Secretaria, Ruth. Alison Wrigth vai de uma mulher com a fé cega em seus ideias, para uma importante liderança na busca por igualdade e conscientização dentro da locomotiva. 

Ruth foi a personagem que mais evoluiu na série

Todo esse desenvolvimento de personagens só foi possível graças aos diversos temas que o segundo ano da série se propôs a debater. Assuntos como religiosidade, limites da ciência, desgraças utilizadas em benefício próprio, relações familiares e claro, questões ambientais permitiram que Expresso do Amanhã nos impressionasse em seu segundo ano, já que não sabemos o que esperar de um programa que se passa inteiramente dentro de um trem que fica rodando infinitamente por um mundo congelado. 

Lute pelo que você acredita

A verdade é que a série já se distanciou bastante do filme que vimos em 2013, baseado na HQ francesa e estrelado por Chris Evans, com direção por Bong Joon-ho (Parasita). Agora temos um universo cada vez mais próprio, podendo até mesmo se desprender totalmente de todos os vagões das outras mídias que o antecederam.

Veredito da Vigilia

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