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Meu Pai conta um drama único com Anthony Hopkins em seu melhor

Meu Pai (Father) chega como um dos fortes concorrentes ao Oscar de 2021. Indicado a seis categorias, incluindo Melhor Filme, Atriz Coadjuvante, Melhor Ator, Direção de Arte, Edição e Roteiro Adaptado, o filme que marca a estreia do diretor Florian Zeller em longas dramáticos é aquele tipo de obra que se caracteriza pelo duelo de grandes atuações, sendo carregado nas costas por Olivia Colman (vencedora do Oscar de Melhor Atriz por A Favorita), mas principalmente pelo veterano Anthony Hopkins, que ganhou em 1991 a estatueta de Melhor Ator pelo clássico “O Silêncio dos Inocentes”, de Jonathan Demme. Mais do que isso, é um filme sensível e que muito provavelmente vai te fazer chorar.

Com o poder da precisão e da edição, Florian Zeller precisa de apenas 1h37 para, de forma muito orgânica, nos colocar dentro da casa de Anthony (que é interpretado por Anthony Hopkins) e das situações que vão criar o grande conflito da história (Zack Snyder se contorce com tanta objetividade). Ele, com 81 anos, mora sozinho em Londres, e a filha Anne (Olivia Colman) está preocupada. Anthony se recusa a ficar com cuidadores e tem mania de perseguição, enquanto a filha precisa se mudar para Paris, não podendo manter suas visitas diárias. A partir desse impasse, que é comum a inúmeras famílias ao redor do mundo, vamos pouco a pouco sendo deslocados por acontecimentos estranhos que vão nos por em dúvida quanto a tudo aquilo que passa diante de nossos olhos.

A construção da trama, feita em quase todo o tempo dentro do apartamento, possibilita que tenhamos inicialmente a ideia de conforto para Anthony. Um conforto que parece que será sonegado muito em breve pela decisão da filha. Mas como somos conduzidos pela mente de Anthony, logo percebemos que a narrativa pode ter sua linearidade quebrada. O passado dos personagens é apresentado em rápidos diálogos, e o relacionamento fraternal de Anne passa a ser uma grande dúvida. Dúvida que, aliás, vai prender os espectadores na cadeira, afinal, tudo que começa a acontecer vai gerar ainda mais perguntas e aflição. Ora para nossa simpatia com Anthony, ora por nosso entendimento do que Anne está passando. O próprio apartamento passa a ser um personagem importante, com mudanças de cenários que ajudam na confusão construída propositalmente pelo filme.

Mau Pai Olivia Colman e Anthony Hopkins

E todas essas dúvidas e aflições sobre o que é real em tela e o que pode ser ilusão é instigante demais. Hopkins salta de um pai fraterno e frágil para um senhor perigoso e sagaz em apenas dois segundos, enquanto a doçura de Anne mostra silhuetas distintas, também apontando certa dose de inocência e falta de controle. O filme precisa não mais do que seis personagens para ilustrar o drama entre pai e filha, portanto temos participações pontuais, mas também marcantes de coadjuvantes como Mark Gatiss, Olivia Williams e Imogen Poots. Presenças que possibilitam a quebra do ritmo e garantem a evolução da atuação de Hopkins, culminando em uma cena final incrível. É muito provável que o ator de 83 anos vença seu segundo Oscar, ainda que tenha bons rivais em Riz Ahmed (O Som do Silêncio), Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues) e Gary Oldman (Mank).

meu pai (father) anthony hopkins
As nuances de Anthony Hopkins em seu apartamento vão nos deixar intrigados

Ao final da jornada que vemos em Meu Pai (Father), a reflexão proposta por Florian Zeller, que também é autor da peça em que o filme é inspirado, é o que mais vai ficar latejando em sua mente. Afinal, é um filme sobre tomadas de decisões. Sobre resoluções de um relacionamento de uma vida inteira, entre pai e filha, com todas as emoções boas e ruins que essa condição pode proporcionar. É também sobre envelhecimento e como lidamos com ele não como indivíduos, mas como familiares, e como nossas decisões e histórias podem afetar um ciclo que um dia vai terminar. Meu Pai é preciso, bom de assistir e emotivo. Tragam o Oscar para Anthony Hopkins.

Meu Pai (Father) chegou a estrear em alguns cinemas brasileiros, mas pode ser visto via aluguel digital a partir do dia 9 de abril.

Veredito da Vigilia

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