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Pica-Pau: O Filme | Crítica

O pássaro mais aloprado da TV ganhou o cinema e conta com a participação da brasileira Thaila Ayala

Criado em 1940, o Pica-Pau marcou época na infância da maioria dos brasileiros. Durante anos a produção do pássaro azul, de grande nariz, com topete vermelho e que faz aquele som que é impossível de reproduzir em uma onomatopeia tomou conta dos baixinhos durante as manhãs em frente a TV. E agora, em 2017, tivemos a arriscada adaptação do personagem para as telonas. E fazer um filme “família” com a criação de Walter Lantz é um tanto quanto difícil. E é talvez esse o motivo que faça com que sua primeira aparição nos cinemas se perca em uma concepção rasa e com poucas sacadas sensacionais que víamos no passado. Por tudo isso, não dá pra entender o porquê da escolha de misturar live-action com animação. Fosse totalmente em animação, poderíamos ter mais proximidade com o público. Mas não. Arriscaram (é do jogo). Mas não deu muito certo.

Entre tantas coisas, os diálogos não funcionam, o roteiro é confuso e os personagens não têm profundidade. O núcleo infantil também não foi bem conduzido e fica difícil simpatizar. Porém, nem tudo vai mal. A personalidade do Pica-Pau está bem reconstruída e temos em tela a clássica malandragem. A acidez toma conta do enredo enquanto a ave faz de tudo para proteger seu território. Isto porque uma família resolve aproveitar o terreno de herança de um avô (cercado por uma área de preservação ambiental) para construir uma mansão e logo colocá-la a venda, vislumbrando muita grana (ou melhor, mansões, iates, 100 mil dólares…). Tudo isso até renderia uma boa história, pois a temática da sustentabilidade e das relações com a tecnologia traria uma possibilidade bem interessante de lição de moral, mas o desenvolvimento é muito superficial. A família em si também não cativa, composta pelo pai – que é o herdeiro do tal avô – Lance Walters (Timothy Omundson), pelo filho que não tem conexão com o pai ausente, Tommy (Graham Verchere) e pela noiva do pai, a quase madrasta Vanessa (a brasileira Thaila Ayala). O elenco se completa com dois taxidermistas maldosos que caçam o Pica-Pau para tentar vendê-lo no mercado negro, interpretados por Scott McNeil e Adrian Glynn McMorran, e pelas duas outras crianças, que se juntam à aventura, interpretadas por Chelsea Miller e Jakob Davies.

Os poucos personagens poderiam preencher as cenas de forma mais adequada, com maior entrada e de forma que entendêssemos suas motivações, mas o potencial foi desperdiçado. As atuações deixam muito a desejar. Mas o elemento mais negativo é de fato o contraste dos atores com os efeitos especiais. Infelizmente os componentes não combinaram e a interação com o Pica-Pau ficou muito forçada. E isso se repete no restante do uso do CGI para outras situações. Impossível crer, mesmo no mundo de faz de contas, que há um enxame de abelhas em cena. O gestual dos atores não condiz com a realidade de um ataque (parecido com a interação dos Inumanos com Dentinho, na série IMAX da Marvel). E mesmo numa produção para o público infantil, os atores e suas expressões exageradas são muito infelizes. Situações assim poderiam ser superadas, tanto pela tecnologia quanto pelas experiências anteriores (Scooby-doo, Garfield e outros longas com personagens clássicos da TV e dos quadrinhos). As cores vibrantes, por outro lado, são o único ponto verdadeiramente positivo. Elas dão um quê fantasioso ao filme, fazendo com que a fotografia o salve em parte, deixando-o ao menos visualmente atraente no que diz respeito às partes contracenadas no live-action.

Enfim, não foi dessa vez.

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