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A Melhor Escolha | Crítica

Uma road trip com Steve Carell, Laurence Fishburne e Bryan Cranston bem que poderia ser o prenúncio de um filme de comédia com grande potencial. Mas na verdade, em A Melhor Escolha, o humor (que inevitavelmente está presente) dá lugar à reflexão, crítica e uma certa depressão, amarrada em uma história que aponta o que tradicionalmente os poderes de Estado fazem: mentir.

Dirigido por Richard Linklater (Boyhood: da Infância à Juventude), o longa coloca os três astros em uma situação um tanto diferente. E o que os liga é o passado. Larry ‘Doc’ Sheperd (Steve Carell) busca pelos amigos que compartilharam várias experiências no Vietnã para uma última missão. O primeiro terço aborda a reunião dos antigos amigos de forma divertida, principalmente com Sal Nealon (Cranston, no melhor estilo Walter White na fase vida louca) que faz o tipo amigo debochado. Completa o time o (agora) reverendo Muller (Fishburne), uma figura completamente devota e diferente dos campos de batalha. Sheperd quer a ajuda dos veteranos para buscar o corpo do filho, morto no Afeganistão, e conforme o governo norte-americano: morto em campo de batalha com sua arma na mão, como um verdadeiro herói. O futuro contará que não foi bem assim.

Fishburne, Cranston e Carell levam o filme nas costas.

Caindo na estrada, os três vão relembrando um pouco do que viveram. Mas ‘Doc’ está sempre cabisbaixo. Steve Carell novamente se distancia de sua figura caricata de grande comediante e o silêncio é um de seus melhores amigos, junto com a introspecção. Rumando ao enterro do filho em um cemitério especial, com todas as honras de um militar, os três acompanham, com certa estranheza, o calvário do pai solteiro que agora perdeu seu último ente querido.

Chegando à base militar onde está o corpo do filho, Sheperd se depara com algumas situações inusitadas. E aqui algumas das críticas principais do filme. Tudo que lhe contaram era uma simples desculpa num momento de desconforto. Uma retórica bem ensaiada e manipulada pelo Exército para confortar a família de um rapaz que foi mandado a uma guerra sem sentido. Mas a crítica alcança não só o uso de tropas americanas no Oriente Médio. Não por acaso os veteranos do Vietnã não entendem até hoje o que estavam fazendo frente ao vietcongues, onde mais de 50 mil jovens dos Estados Unidos também deixaram suas vidas. E essa construção é o ponto alto do filme. Qual a razão disso tudo? Vale a pena? De quebra, nos remete a grande mentira dos governos do Tio Sam, que também ganharam destaque recentemente no filme The Post: A Guerra Secreta (de Steven Spielberg). Ambas construções botam o dedo na ferida e deflagram: o governo mente, e mente como tradição. Mesmo que seja para confortar famílias.

 

Depois dos principais relatos e do conflito de Doc, os amigos continuam sua saga, que vai resgatar também o passado. O compromisso com a verdade ganha novos contornos, e mesmo de forma sutil, conta que alguns segredos devem ser revelados e as famílias devem saber tudo o que aconteceu. Será? No momento crucial da crítica, o roteiro tem um revés que faz enfraquecer tudo que tinha sido construído até então. O tom posicionado da narrativa prefere subir no muro, deixando no ar a interpretação para cada um que estiver na cadeira do cinema. Tanto que seu final não se torna tão grandioso, ficando por vezes um tanto quanto arrastado, sem o mesmo ritmo certeiro que caminhava até seu terço final.

A Melhor Escolha entrega boas atuações e dá um gosto de quero mais ao termos os três grandes atores em tela. A ideia de uma comédia com os três já fica lançada e pode ser mais surpreendente do que a trama amarrada de Linklater. O muro nem sempre é o melhor lugar na hora de se contar uma história. Foi bom, mas não foi perfeito.

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