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Maid: best-seller vira uma grata surpresa no catálogo da Netflix

“Maid” chegou ao catálogo da Netflix em outubro e traz uma adaptação do best-seller autobiográfico de Stephanie Land. O título original do livro é enfadonho e pouco inspirado: Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo, mas Maid consegue ir na contramão e ser uma grata surpresa entre tantas opções adicionadas ao vasto catálogo da grande locadora com símbolo vermelho. 

https://youtu.be/M4nrGje_pyc

A história é em grande parte o que o longo título do livro descreve. Ela ganha contornos importantes por mostrar a superação de uma mãe que precisa encarar o marido abusador, dar condições para filha pequena de três anos como empregada doméstica e ainda contornar problemas trazidos pela própria mãe. Apesar de ter um contexto favorável se comparado a realidade brasileira, a história se assemelha à de uma parcela absurdamente grande da população mundial. Estima-se que o trabalho de empregada doméstica alcance mais de 60 milhões de pessoas em todo o planeta, a maioria, mais de 80%, por lógica da sociedade patriarcal, é de mulheres.

Mas vamos à série. A história conta como Alex saiu de um casamento feliz para uma noite humilhante na rua com sua filha Maddy. O fundo do poço nos Estados Unidos ainda pode ser mais cômodo que o do Brasil, afinal, mesmo com programas de assistência social altamente burocráticos, ela consegue com algum esforço um local para morar e ficar longe do marido que pratica violência doméstica, em sua grande maioria, violência psicológica. Imagino que isso seja quase impossível por aqui.

O núcleo principal, tão essencial para a série, é formado por atores que entregam a qualidade para nos conectarmos com todas as etapas na apresentação dos personagens. Alex é vivida por Margaret Qualley (que fez uma ponta em Era uma vez em Hollywood). Seu marido é Sean (Nick Robinson, o próprio Simon, de Com Amor, Simon). A veterana Andie MacDowell é a despirocada Paula, mãe de Alex, personagem pela qual você nutrirá cada vez mais raiva, mas isso quer dizer que ela fez bem seu papel. Fun fact: ela realmente é a mãe da atriz Margaret Qualley, ou seja, tudo em casa.

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MAID: Paula (Andie Macdowell) vai fazer você passar raiva, muita raiva.Cr. Ricardo Hubbs/Netflix 2021

Lutando para dar uma vida minimamente digna para a filha, Alex, que até então tinha desistido da faculdade de Literatura para ser dona de casa, se vê abraçando a oportunidade na empresa de empregadas domésticas mais precária da cidade. A exploração da nova “firma” para com ela é outro grande obstáculo para começar a ganhar dinheiro. Ah, e claro, antes de chegar aqui, ela ainda precisará travar uma pequena batalha judicial pela guarda da filha. Basicamente os problemas iniciais de Alex vão se tornando uma grande bola de neve e a montanha que ela desce parece não ter fim.

Mesmo que possa soar piegas e clichê em vários momentos, é difícil não se apegar ao drama de Alex. Mesmo que essa seja a história de um expressivo número de mulheres no Brasil – e como falei, aqui a assistência é quase inexistente e a ralação seria dez vezes maior – Maid consegue nos prender na história. Isso também se deve ao fato da produção se dedicar ao máximo em humanizar todos os núcleos, colocar mais personagens no caminho e potencializar o drama sempre nos mostrando a pequena Maddy. A muleta da criança sofrendo é um grande catalizador de sentimentos, e ela é bem explorada. E mesmo que os perrengues às vezes fiquem bem pesados, a série mescla vários momentos de alívio e respiro, nos quais o público poderá se amparar e tomar fôlego antes de mergulhar em águas geladas e turvas novamente.

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MAID: Alex (Margaret Qualley), Maddy (Rylea Nevaeh Whittet) e Sean (Nick Robinson) formavam uma família feliz, até que…

O fato de trazer uma história de superação é também um alento para o desfecho dos 10 episódios (que tem em média 50 minutos). Apesar de longos, eles são fluídos e fazem da nossa imersão uma boa experiência, sendo formato maratona ou para aquele que gosta de regular a dose diária de consumo de streaming. Os cenários e os percursos que a personagem percorre, e até mesmo as metáforas visuais usadas também servem como alento e enchem os nossos olhos.

Maid traz uma história autobiográfica competente e inspiradora, mostrando que sonhos, conquistas e trabalho podem sim ser recompensados, mesmo que a vida insista em colocar obstáculos na nossa frente. 

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