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Ingresso para o Paraíso: comédia romântica que vai dar o que falar

Muitas vezes, a primeira impressão de um filme não é aquela que fica. Em alguns casos, saímos do cinema inebriados. Com uma sensação gostosa de ter assistido um Comfort Movie. Daqueles filmes que a gente já imagina o final e ele cumpre as expectativas. Foi assim que saí da sala de cinema após assistir Ingresso para o Paraíso. Porém, refleti muito durante o dia e comecei a enxergar os problemas do longa.

Convidar duas estrelas da comédia romântica para protagonizar um filme como ex-casal é quase um golpe baixo. George Clooney e Julia Roberts são, basicamente, o sinônimo do gênero. Ingresso para o Paraíso explora isso muito bem. Eles são protagonistas da história e Lily, de Kaitlyn Dever, é esforçada, mas como diríamos no bom português, foi esquecida no churrasco.

Assista, abaixo, ao trailer e já imagine a história:

Sim, é exatamente isso que você pensou. E aqui não estou te dando spoilers. Afinal, nada surpreende ou impressiona. Ol Parker repete sua fórmula de Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo. Belíssimas paisagens paradisíacas, conflito entre mãe e filha e um casamento. A história, que poderia ser um pouco mais original, cai na vala de inverossímil e deixa a impressão de “já vi isso antes”. Isso não me incomodaria geralmente. Mas Ingresso para o Paraíso tem alguns pontos que impediram que eu me conectasse com o filme.

Lilly é uma menina que se forma na faculdade, dedica sua vida à carreira de advogada. Quando se forma, resolve sair de férias. Afinal, quando voltar, tem uma vaga de emprego a esperando em um renomado escritório de advocacia. Ou seja, um sonho que se realizaria. Ou não. Já que ela decide ir para Bali, conhece um pretendente e decide se casar em 37 dias. Um sonho de uma vida deixado de lado por uma bela paisagem, um homem bonito e uma paixão de um mês. 

Dinheiro não é o problema aparentemente para ninguém neste filme. Ninguém nem toca no assunto. Uma carreira e todo investimento são preteridos por uma paixão fugaz. Sem contar os pais que atravessam oceanos para encontrar a filha com a maior tranquilidade. Isso não deixa com que o público se conecte com a história irreal.

Lily, de Kaitlyn Dever, passa quase batido por Ingresso para o Paraíso
Lily, de Kaitlyn Dever, passa quase batido por Ingresso para o Paraíso

Além disso, temos outros pontos a discutir. A relação entre os pais e a filha, que estão vendo a menina repetir a mesma atitude que eles tiveram quando tinham a sua idade. Eles repetem, inclusive, a atitude que reprovaram. O machismo de Gede (Maxime Bouttier) é latente. Em muitas oportunidades, ele se mostra irredutível, decide coisas em nome do casal, sem consultar Lilly e não demonstra gostar tanto dela assim.

Ingresso para o Paraíso mostra uma menina “certinha” com uma carreira toda pela frente que se deslumbra com belas paisagens e a chance de fazer uma loucura, repetindo exatamente a atitude dos pais. O filme diverte, dá essa impressão de Comfort Movie, tem uma bela fotografia, oferece ótimas atuações. Entretanto, os problemas são fúteis. O machismo está impregnado. E o final está bem claro. 

Se você procura um filme para dar umas risadas e não se preocupar exatamente com o que vai acontecer ou não deseja problematizar, essa pode ser uma boa escolha. Ver os oscarizados George Clooney e Julia Roberts atuam e interagindo é ótimo. Mas fica por isso mesmo.

Veredito da Vigilia

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