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Falcão e o Soldado Invernal: um respiro para o mundo

Dadas as devidas proporções, pois ainda estamos falando de uma série de super-heróis originais dos quadrinhos, a primeira temporada de Falcão e o Soldado Invernal trouxe ao mundo pandêmico parte do que ele precisava. O primeiro é claro, entretenimento de grande qualidade, e, assim como WandaVision, subindo demais a régua de exigências do público para uma série (ou minissérie de TV). Os demais canais que fiquem atentos! Em um momento em que estamos tanto tempo sem ir ao cinema, poder assistir a vinheta da Marvel Studios semanalmente no conforto de nossas casas é sim um grande alento para nossas vidas e um escape importante para nossa sanidade mental. Mas, acima de tudo, Falcão e o Soldado Invernal faz tudo isso com um verniz sólido com mensagens mundiais. A segregação racial que ainda é sistêmica, o sistema político que não olha para os menos favorecidos e as consequências graves que essas decisões erradas trazem ao nosso dia a dia, e às rotinas de quem, de alguma forma, só queria ajudar, mas acaba sendo um instrumento, uma peça no jogo de xadrez político, para o bem ou para o mal.

Como a maioria aqui deve ter acompanhado nossos reviews por episódio (se não viu, aqui está a chance), é fácil imaginar que esta crítica caminha tranquilamente para caminhos elogiosos. Salvo algum deslize em cenas de ação ou piadas que não funcionaram muito bem (Bucky pulando de um avião (?!?) e os heróis se confrontando no consultório da psicóloga, por exemplo), Falcão e o Soldado Invernal entregou demais. Usou todo o material visto desde a origem do Universo Cinematográfico da Marvel – ainda estamos discutindo a fabricação de supersoldados – e costurou de forma impressionante, causando várias emoções ao reunir não só os protagonistas, mas personagens periféricos como Sharon Carter (na pele de Emily VanCamp, que deve ganhar grande relevância depois desse desfecho), Barão Zemo (Daniel Brühl agora com o meme power da dancinha), e as Dora Milaje, diretamente de Wakanda para o deleite dos fãs. E ainda trouxe novos personagens. Quem não ama odiar John Walker (com Wyatt Russell em seu auge)? Quem não se emocionou com o histórico de Isaiah Bradley (Carl Lumbly), entendeu os motivos de Karli (a ótima Erin Kellyman) ou já não ficou ansioso com as (primeiras) aparições de Eli Bradley (Elijah Richardson) e Joaquin Torres (Danny Ramirez)? E o que falar da surpreendente aquisição de Julia Louis-Dreyfus como a Condessa Valentina Allegra de la Fontaine. Tudo isso em apenas seis episódios, e eu nem arranhei a superfície do que gostaria de apontar por aqui.

John Walker agora é o Agente Americano
Amamos Odiar: John Walker agora é o Agente Americano

Por se esperar que fosse uma série de ação, os heróis Sam Wilson (Anthony Mackie) e Bucky Barnes (Sebastian Stan) ganharam mesmo o público em seus respiros particulares. As cenas de luta (excelentes) ficam em segundo plano quando vemos o trauma de uma vida inteira do Soldado Invernal sendo colocado em seu tratamento. Afinal, é um cara com mais de 100 anos e que não tem qualquer tipo de relação ou conexão com o mundo atual. E também quando vemos Sam barganhando um empréstimo bancário – SEM SUCESSO – e sua relação com a irmã e os sobrinhos, passando pelo quinto episódio (talvez o melhor de toda a temporada) onde todos se reúnem para enfim consertar o barco da família. Tudo sempre com um poder de concisão, sem enrolações ou barrigas – os grandes problemas das séries Marvel com o selo da Netflix. A Marvel como sempre, coloca seus personagens em situações mundanas, fazendo com que o público seja cúmplice de suas trajetórias.

sharon carter
Sharon Carter/Agente 13 (Emily VanCamp) trouxe várias viradas para a trama. Créditos: Eli Adé. ©Marvel Studios 2021

Falcão e o Soldado Invernal também criam uma tábua de salvação para os fãs, que estão desde Homem-Aranha: Longe de Casa sem um filme da Marvel Studios. Mas acima de tudo, é no personagem de Anthony Mackie que vemos a evolução necessária e a mensagem principal. É a jornada dele que, embora possa ter alguns diálogos expositivos até demais, que dá peso a tudo que vemos. A “América” sempre fez questão de se distanciar dos negros. Sam passa a sentir tudo isso na pele, reforçado pelo Capitão América Negro que foi cobaia de experimentos e preso sem justificativas. O estopim necessário para que ele finalmente erga o escudo, legado manchado pelo queridinho e escolhido do governo – o loiro de olhos azuis. Até por isso, a chegada da encomenda de Wakanda, outra personagem cheia de significados na atual cultura pop, fez com que a produtora executiva e diretora da série Kari Skogland (Os Contos de Aia) acertasse em cheio o ponto do glorioso retorno de Sam com o visual icônico dos quadrinhos como Capitão América.

falcão agora é o capitão américa
Falcão finalmente assumiu o manto e o escudo deixados por Steve Rogers (Chris Evans)

O capítulo final, reforçando meu título, foi tudo que o mundo precisava, e sem vergonha de ser feliz. Os heróis fazendo o que sabem de melhor, sem lá grandes dificuldades (voltando à proporção de poder que eles tinham no cinema) e encerrando – por algum tempo – a discussão colocada no pós-blip, onde questões como imigração, fronteiras e conflitos internacionais (qualquer semelhança com o mundo real não é mera coincidência) guiam engravatados e pessoas sem lar.

Isso tudo trouxe um grandioso desfecho, mas claro, deixando algumas lacunas abertas. Não por acaso usei o termo “temporada” durante todo esse texto. Não é uma informação, mas tudo indica que sim, teremos alguma continuidade para a série Falcão e o Soldado Invernal. Culpa do Falcão e seu novo traje, que queremos ver por mais vezes, pelas sementes dos Jovens Vingadores (já plantadas anteriormente), e pelas últimas decisões de Sharon, Zemo, Val e do agora, Agente Americano. Nada é por acaso no mundo Marvel. E terminar a temporada com um pouco de paz, era tudo que a gente precisava no meio dessa pandemia.

falcão e o soldado invernal último episódio
Sarah Wilson (Adepero Oduye), Bucky, Sam e seus sobrinhos: um momento que a gente precisava. Créditos: Chuck Zlotnick. ©Marvel Studios 2021.

Já queremos mais Falcão e o Soldado Invernal, ou melhor Capitão América e o Soldado Invernal!

Veredito da Vigilia

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