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Duna: um épico em todos os sentidos

Os fãs da obra seminal de Frank Herbert esperaram algum tempo e algumas adaptações, mas enfim, agora possuem uma grandiosa versão de Duna na chamada sétima arte. Para que isso acontecesse, bastou fazer o que tradicionalmente funciona nas adaptações de personagens de livros e quadrinhos para o cinema: dar o comando do barco para quem é realmente apaixonado pela obra-prima e conhece como poucos o objeto a ser explorado. Hoje, dizer isso parece óbvio, mas foi preciso que Denis Villeneuve fizesse currículo com “A Chegada” e “Blade Runner 2049” para chegar amadurecido. Com Duna, o diretor mostrou que já está entre os grandes cineastas de sua geração e que pode mais, muito mais.

Os contornos épicos dessa primeira parte da história de Duna começam muito cedo, logo nos primeiros segundos de filme. O casamento de frases consagradas no livro, grandes panorâmicas de um planeta arenoso – a base para toda a saga – uma trilha sonora (que na sala IMAX estava no “talo”) assinada por Hans Zimmer, a fotografia de Greig Fraser (que estará em The Batman) e um elenco que dispensa apresentações fazem com que esta odisséia sci-fi rapidamente escale para ser um dos melhores filmes do ano. Está tudo no lugar.

Como primeiro filme (do que provavelmente será uma trilogia), Duna faz uma excelente apresentação de seus mundos e conceitos (coisas que seus antecessores pecaram bastante). Todo o teor de Frank Herbert parecia confuso na tela, mas aqui, Villeneuve conseguiu traduzir de uma forma muito fluida. Embora longo, não há espaço para ‘barrigas’ ou enrolações no filme. O grande arco da saga, que mistura aventura, sobrenatural, ficção científica e drama político está bem pontuado e vemos Timothée Chalamet entregar um excelente Paul Atreides, o protagonista que chega com ares de ser o grande escolhido. Amparam sua atuação sua mãe Jessica (Rebecca Ferguson) e seu pai Leto (Oscar Isaac) e os braços direitos das forças armadas Duncan Idaho (Jason Momoa) e Gurney Halleck (Josh Brolin). 

Duna: Oscar Isaac
A Casa Atreides antes de levar um duro golpe

No lado “escuro da força”, temos a casa rival tão bem amparada quanto a dos mocinhos, com um transformado Stellan Skasrsgard – o “temido” Barão Harkonenn – e seu primo (interpretado por Dave Bautista). Embora para quem não conheça essa saga tudo pareça muito padronizado (ou parecido com outras histórias), vale lembrar que é por causa de Duna existir (foi lançado em 1965) que essa impressão possa surgir. É nesta fonte que muitos ícones da cultura pop beberam durante décadas. Ou seja, Duna não é a cópia, mas sim a matriz para muito do que você já possa ter consumido. Se você gritar Star Wars, nós gritaremos Duna. Zendaya como Chani e Javier Bardem como Stilgar completam o elenco estelar.

E a cruzada por uma especiaria – o item mais precioso existente – vai colocar a Casa Atreides como um dos principais alvos do Império. O paralelo da guerra por um item de primeira necessidade, vale lembrar, é basicamente a tônica para todas as grandes guerras já vistas no mundo. E aqui, é claro, ela não é meramente ilustrativa. A exploração dos mais consolidados contra um povo que vive escondido nas areias é até mesmo uma metáfora bem clara nos dias de hoje. A briga por riquezas naturais saqueou o Brasil e ainda hoje é vista mundo afora. A necessidade de riqueza sempre deixa um rastro de destruição, e em Duna isso é bem evidente.

Duna Jason Momoa
Duncan Idaho: Jason Momoa em seu melhor papel na vida

E no meio dessa imensa guerra de mundos, vemos a Casa Atreides ser quebrada de dentro para fora, colocando o caminho de Paul junto ao do povo da areia. Essa saída é, na verdade, trabalhada durante todo o filme, que mescla ainda pitadas religiosas. A crença, a vinda de um ser escolhido e o poder de uma espécie de seita também terá forte influência na história e na formação do nosso personagem principal. Ver essa escalada na telona é empolgante ao passo de eu nem ter visto passar as duas horas e 35 minutos desta primeira parte. Valeu cada segundo. E claro, não posso deixar de falar nos grandes vermes da areia (que memetizaram fortemente aqui no Brasil). Eles também são um dos pontos altos, mostrando que os efeitos especiais estão ótimos, mesmo que você não tenha maturidade ao fazer o link direto com os referidos memes.

E claro, para que ela possa continuar, é importante que você também faça sua parte, levando Duna não só como um projeto muito arriscado para Denis Villeneuve, mas um sucesso de público e crítica, que é o que ele merece.

Duna estreia dia 21 de outubro, exclusivamente nos cinemas.

Veredito da Vigilia

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