Duas Rainhas | Crítica
Há algo sobre filmes bem elaborados e com mulheres fortes que está deixando o cinema em 2019 ainda melhor. “Duas Rainhas”, longa de estreia da diretora Josie Rourke vem para complementar essa lista de filmes. A estreia está prevista para dia 4 de abril nos cinemas de todo o Brasil.
Contando a história de Mary Stuart, interpretada por Saoirse Ronan (Lady Bird: A Hora de Voar, 2017), a rainha da Escócia, e da então rainha inglesa, Elizabeth I, interpretada por Margot Robbie (Eu, Tonya, 2018), o longa traz uma visão muito política da realeza bretã. É importante salientar que a real história de Mary Stuart e a passada no filme são diferentes, então, não adianta sair bravo do cinema. Uma adaptação é uma adaptação, nem sempre elas são fiéis a história original.
Duas Rainhas chega com uma das aberturas mais interessantes que já vi em longas. As primeiras cenas mostram uma rainha de costas e uma mulher presa, sendo levada para a decapitação, rezando em latim por sua vida – essa é uma parte interessante também, pois as guerras de Duas Rainhas giram em torno de três pontos principais: 1) o trono, 2) o patriarcado e 3) a divisão religiosa – e sendo, enfim, colocada sobre a mesa para sua sentença. Então, começamos o filme sabendo que Mary vai morrer e Elizabeth continua sendo a rainha. Aí você se pergunta: tá, e por que ver o resto do filme? Porque é interessante ver como as forças são sempre colocadas contra essas mulheres de poder.
Se há uma parte que não pode ser criticada em nada em Duas Rainhas, é o visual. Todo o visual. Desde a escolha das roupas, a maquiagem, as paisagens e as locações. Todo o filme é muito visualmente agradável, harmônico e sutil ao mesmo tempo. Por exemplo, quando Mary volta à Escócia depois de seu marido ter falecido, tudo é colocado em tons escuros. As roupas são pretas, o castelo é escuro e os dias são nublados, fortalecendo a ideia de luto por parte de Mary. Outra parte importante é a transformação do rosto e das feições de Margot Robbie depois que sua personagem pega varíola. A maquiagem é incrível.
Explicando brevemente, tanto Mary Stuart quanto Elizabeth tem o mesmo “nível” de direito a coroa inglesa e o parlamento inglês se sente ameaçado por Mary, dizendo que não podem deixar uma mulher que responde ao papa comandar a Inglaterra. E é nessa parte que o filme começa a tomar forma.
Duas Rainhas tem como principal foco não a relação entre as duas mulheres da realeza, mas sim os trâmites do patriarcado para comandar essas nações usando as rainhas como fantoches. Enquanto Mary é uma rainha corajosa, que preza por mudanças e tenta se proteger o tempo todo, Elizabeth tem um parlamento muito maior, completamente formado por homens, que tentam manipular a rainha durante o filme todo.
Mary luta durante todos os minutos de Duas Rainhas praticamente sozinha. Tentando, desesperadamente, ser ouvida e fazer valer suas decisões como rainha. Inclusive, há um momento em que você já vai estar se perguntando “mas é idiota ou só não pensa?” e uma pessoa trai Mary em um momento muito crítico. Só que Mary já está tão cansada de ter que lutar que ela só responde “Eles traíram a Rainha deles desde o momento em que eu pisei nessa terra, você acha que eles não te trairiam?”. Esse é um dos melhores diálogos do filme todo (não se preocupem, tem mais coisas antes dele e depois dele).
A parte ruim de Duas Rainhas é que qualquer coisa fora do foco no poder político fica um pouco apagado. Conflitos que deveriam ser muito mais trabalhados são deixados de lado, passados por cima e resolvidos entre uma cena e outra. Talvez haja muito plot para um longa só e esse seja o principal problema.
Em inglês o título de Duas Rainhas é “Mary, Queen of Scots”, que seria traduzido como “Mary, Rainha dos Escoceses” e teria muito mais sentido de acordo com o filme. Porque pelo título Duas Rainhas, achamos que o protagonismo vai ser dividido quando, na realidade, mal se vê da Inglaterra ou de sua Rainha. Mary é a protagonista absoluta de Duas Rainhas.
O longa é pesado, muito político e, ao mesmo tempo, muito bom. Vale muito a pena conferir Duas Rainhas no cinema. Além da obra como um todo, as paisagens ficam ainda mais incríveis na tela grande.
A Vigília Recomenda!