Dois + Dois: a comédia que não diverte
Será que a grama do vizinho é sempre mais verde mesmo? É isso que Diogo (Marcelo Serrado) e Emília (Carol Castro, Veneza), um casal considerado tradicional, vai tentar descobrir com as aventuras sexuais de Bettina (Roberta Rodrigues, Sob Pressão) e Ricardo (Marcelo Laham) em Dois + Dois, novo filme de comédia brasileiro.
Diogo e Ricardo são médicos, sócios em uma clínica, e suas esposas discutem sobre vida, casamento e tudo mais. Em uma dessas discussões, Emília descobre que Ricardo e Bettina são adeptos ao que o filme chama de “intercâmbio de casais”, popularmente conhecido como swing. A prática gera interesse em Emília (que não deixa claro se é um interesse genuíno ou uma forma de agradar o marido, mas tendo a imaginar que seria o segundo motivo). Emília e Diogo então entram em uma busca de uma desconstrução sexual.
É possível ver, durante as cenas, como o diálogo franco e claro entre os casais, principalmente os mais conservadores, faz falta na construção das relações, desde problemas simples de casa até na hora de externalizar as vontades sexuais.
Dois + Dois marca a estreia de Marcelo Sabak na direção. Sabak é roteirista de filmes como De Pernas pro Ar, SOS Mulheres ao Mar e Loucas pra Casar. A aposta poderia parecer certeira, já que o longa é um remake nacional do grande sucesso argentino de mesmo nome, sendo o filme mais assistido na Argentina em 2012. Porém, podemos apostar de longe que essa releitura não fará o mesmo sucesso que a original.
Com diálogos que não economizam piadas de duplo sentido, o filme consegue reforçar o conservadorismo que no início parece proposto a combater. No fim, é possível perceber que o filme só reforça um estereótipo criado na época de pornochanchadas e disseminado até hoje entre um público que não tem hábito de consumir cinema nacional, a ideia de que filme brasileiro é “só sexo e palavras de baixo calão”. É importante também ressaltar que o filme tem cenas e piadas extremamente transfóbicas. Em um país como o Brasil, que mais mata pessoas trans no mundo (falamos mais disso na crítica de Manhãs de Setembro), ver esse preconceito reforçado em cena é lamentável.
A visão elitista das práticas sexuais diversificadas também é um grande deslize no roteiro. De uma maneira que se tornou ineficaz, o filme parece querer criticar as festas fechadas e com segurança privada que acontecem nos condomínios de luxos de locais como Alphaville (região de alto padrão em São Paulo).
No fim das contas, Dois + Dois expõe masculinidade frágil, tóxica, objetificação da mulher e preconceito com novas práticas sexuais. O filme diverte pouco e não acrescenta nada. Poderíamos ficar sem essa. O filme entra em cartaz dia 12 de agosto.