Divertido e nostálgico, Mussum: O Filmis é todo de Ailton Graça
A sexta noite de exibições do 51º Festival de Cinema de Gramado nos reservou uma sessão divertida e repleta de emoção e nostalgia. Foi a vez de conferir Mussum: O Filmis, longa dirigido por Silvio Guindane (O dono do lar) tem no talento de Ailton Graça o grande destaque. O ator realmente se transforma para viver Antônio Carlos Bernardes Gomes, o artista, humorista, sambista, músico e compositor que se imortalizou na cultura pop brasileira como o Mussum da TV e dos Trapalhões. E o faz de maneira grandiosa, sem ser uma simples imitação, no que provavelmente deva ser um dos seus maiores desafios na carreira. Não é nada fácil interpretar um personagem tão rico dentro e fora das telas sem que isso possa parecer clichê ou exagerado. Graça acerta em cheio no tom.
Assim como Bingo – O Rei das Manhãs, Mussum: O Filmis toca em um recorte importante de uma história que muitos acompanharam pela TV ou mesmo pela música, desde o final dos anos 70. Antônio Carlos, ou para sua mãe Malvina, o Carlinhos, teve sua trajetória contada de maneira respeitosa. O filme na verdade é uma grande homenagem. Um filme biográfico pra cima, mas que não deixa de ilustrar situações óbvias, como o consumo exagerado de álcool (ou mé, como ele mesmo diria) e seu ápice saindo da carreira musical com os Originais do Samba para virar o ícone de humor da TV que até hoje ecoa em marcas de cerveja, camisetas e memes na internet. Dentre todos os Trapalhões, Mussum é quase uma unanimidade.
A história contada é bem linear e tem ótimos momentos. Para quem, assim como eu, cresceu assistindo Mussum todos os domingos no horário nobre da TV, o longa é como uma pequena viagem no tempo e cresce incrivelmente (é quase uma covardia hein!) quando usa de esquetes inesquecíveis de Mussum com seus amigos de programa. São momentos de riso e satisfação garantida. Se você não faz parte dessa geração, essa é uma grande oportunidade para conhecer um pouco mais sobre o talento de Mussum. Um talento popular como poucos.
Grande Otelo e grande elenco
O elenco é um grande acerto. Além da atuação assombrosa de Ailton Graça (impossível não ficar babando quando ele consegue até mesmo fazer movimentos de caretas que envolvem uma coordenação motora fina com perfeição) temos Yuri Marçal (Vale Night) como Antônio Carlos jovem (ainda antes de virar Mussum). Temos ainda uma Cacau Protásio como dona Malvina, uma mãe carinhosa e que fica longe do lugar caricato explorado pela atriz em sua carreira de humor apresentada até então.
No quesito “outros artistas”, o filme não se furta a mostrar uma gama incrível de participações que orbitaram a vida de Mussum. Passando de Garrincha (Simoninha), Elza Soares, Grande Otelo (Nando Cunha) – que fez o batismo do humorista na TV – Chico Anysio (Vanderlei Bernardino), Sargento Pincel (Christiano Torreão) e, obviamente, Didi (Gero Camilo), Dedé (Felipe Rocha) e Zacarias (Mauro Gonçalves). Todos estão caracterizados de forma muito competente.
Ainda que seja uma grande jornada, Mussum: O Filmis não é perfeito. Ele traz traços claros de cinema com o carimbo Globo Filmes, o que tira um pouco o peso em quesitos técnicos, tornando ele facilmente comparável com o tom de novela e minissérie. Determinados cenários e reconstruções históricas ficam visivelmente devendo no comparativo com outras obras de época que, por exemplo, passaram neste ano pelo Festival de Gramado. Há ainda um certo ar piegas em algumas cenas, mas que não tiram o brilho e o valor de uma obra que provavelmente vai tocar o coração de muita gente. Está longe da perfeição, mas acerta em cheio o coração de quem, assim como eu, é nerd há um pouco mais de tempo.