Conflito de gerações é o tema da quarta temporada de Aggretsuko
Conforme as temporadas vão passando, os conflitos a serem debatidos, assim como os personagens vão amadurecendo em Aggretsuko, anime da Netflix em parceria com a Sanrio, empresa que criou a Hello Kitty. Não perca as contas, estamos na quarta temporada de Aggretsuko.
A própria Retsuko, nossa panda-vermelha protagonista da série é um exemplo disso. Se antes ela precisava aprender a morar sozinha, arranjar um marido, fazer carteira de habilitação ou simplesmente decidir pela sua vocação, agora temos o conflito entre gerações no seu local de trabalho, a empresa de contabilidade. E tudo isso começa depois que Himuro, um jovem cão com ar de superior, fala mansa e olhar sedutor, é nomeado como novo presidente da “firma”.
Uma das primeiras medidas de Himuro é afastar o Supervisor Porcão – vilão nas temporadas anteriores – e colocar Haida, como novo chefe do departamento onde Retsuko trabalha. Isso tudo acontece depois de que os dois finalmente se acertam e começam a namorar. Porém, Haida parece começar a ser consumido pelo novo cargo e pelo tão sonhado reconhecimento.
Outra prova do amadurecimento tanto dos personagens quanto da série é o fato de vermos mais tempo de tela dos coadjuvantes, como aqui é o caso dos citados acima Porcão e Haida. Isso faz total sentido, uma vez que vemos uma Retsuko que começou a se empoderar na terceira temporada e já saber lidar melhor com os seus conflitos, sem tanto alarde, mas sim, de uma maneira consciente e objetiva.
Retsuko aliás agora funciona como um norte para os problemas dos outros, liderando, organizando e reunindo os personagens a sua volta, como se eles orbitassem ao seu redor. Isso deixa a participação de velhos conhecidos das temporadas passadas bem orgânica, sem parecer forçada ou apenas por conveniência de roteiro.
Quarta temporada de Aggretsuko começa leve, mas…
Assim como estamos acostumados a ver em Aggretsuko, temos um início leve, um pouco mais descontraído e aos poucos, conforme vamos tendo noção da proposta do tema central da temporada, somos apresentados a um clima mais sombrio, deixando seu desfecho dramático e reflexivo. No caso do quarto ano da série, é debatido como o novo causa estranhamento e resistência logo de cara, mesmo quando vem para otimizar os processos já defasados. Mesmo assim, classificar tudo como obsoleto, sem valorizar o que foi conquistado, descartando-o, também é um maneira equivocada de introduzir esse novo. O ideal é a colaboração entre ambos.
Não poderia deixar de falar de como a figura do trabalhador também é retratada aqui, mostrando os dois lados da moeda: o descartado e o “valorizado”. Muitas vezes não percebemos como estamos estagnados, acreditando que não precisamos aprender ou nos adaptar as novas metodologias do mercado, fazendo com que fiquemos perdidos ao sermos colocados de lado. Por outro lado essa falsa “valorização”, tratando o empregado bem só enquanto convém ou porque precisa dela para fazer o “trabalho sujo” também é um alerta que na maioria das vezes é difícil de perceber.
Infelizmente não gostei muito de como desenvolveram o final da quarta temporada, sendo a menos “pé no chão” até então, tentando fazer referência a filmes como “Missão Impossível”, por exemplo. Na minha opinião, não casou. As cantorias também estão em menor escala, mas tem o seu espaço na trama.
A quarta temporada de Aggretsuko prova o quanto não precisamos repetir uma fórmula todos os anos, só porque o público aprovou. É preciso explorar o universo criado e levá-lo sempre adiante, aumentando suas escalas e conflitos, bem como o amadurecimento de seus personagens.
Leia nossas críticas das temporadas passadas:
Retsuko começa a se empoderar na 3ª temporada de Aggretsuko | Crítica
Aggretsuko voltou ainda mais reflexiva | Crítica da 2ª temporada