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Como Nossos Pais fecha a segunda noite do Festival de Cinema e emociona

Direto do Festival de Cinema de Gramado

Para fechar a segunda noite de exibições do 45º Festival de Cinema de Gramado, o longa escolhido foi “Como Nossos Pais”. Dirigido por Laís Bodanzky e estrelado por Maria Ribeiro, “Como Nossos Pais” não é um filme sobre um relacionamento amoroso, nem nada assim. Essa é a história de Rosa (Maria Ribeiro) e as suas relações. Os homens que nos desculpem, mas assim como esse filme, essa crítica é praticamente um papo entre mulheres.

Quando falamos em “suas relações” entenda que são em diversos âmbitos. Acompanhamos as relações que Rosa mantém em casa, no trabalho, com seus pais, com os irmãos. E ela se torna o centro de todas, sendo sobrecarregada e solitária, como muitas e muitas mulheres. Ela que é responsável pela rotina das crianças, por acompanhar na escola, ajudar no tema de casa, atender quando choram, colocar para dormir, cozinhar, limpar, carregar a mãe para o médico, viver em volta do pai e dos novos casos românticos dele. O que faz com que, muitas vezes, ela esqueça dela mesma.

Logo no início do filme, vemos que a protagonista acaba sendo desacreditada em seu trabalho. Quando Rosa questiona o marido, Dado (Paulo Vilhena) o porquê dele não ajudar em casa, mãe dela, Clarice (Clarisse Abujamra) repreende a filha e fala que ele está empenhado em trabalhar para salvar o planeta. Isso porque ela não entende o trabalho da filha, que é produtora de conteúdo e escritora (e quem coloca dinheiro em casa).

Dado é o típico “desconstruidão de Facebook”. Quando tem plateia, lava pratos, dá atenção para as crianças, é ambientalista. Mas quando não tem ninguém olhando, ele nem se preocupa em voltar para casa. E acha que casamento se resume a ter ou não sexo. Esse é mais um problema que Rosa enfrenta.

Porém, a ferida que não está curada é com sua mãe. Clarice não questiona sua filha apenas em questões profissionais. Ela e Rosa discordam em quase todos os pontos. E era nessa relação que queria chegar. Como já diria a música de Renato Russo: “você culpa seus pais por tudo, mas isso é um absurdo. Eles são crianças como você”. E aí que está o principal ponto deste filme. Nós, mulheres, temos tendência a discordarmos de nossas mães. Rosa se queixa que sua filha, Nara, está a enfrentando. E o que Clarice responde à ela? “A partir de agora, só piora”. Realmente, é isso que acontece. Durante muitos e muitos anos enfrentamos as nossas mães. Contudo, em um momento da vida nós percebemos uma única coisa, que pode mudar tudo: nossos pais são humanos. Eles erram. E nossas mães irão falhar. Irão deixar pontas soltas no caminho, cometer algum deslize nessa vida, afinal, quem não comete erros? Nossas relações com nossos pais podem ser complicadas porque somos um resultado de nossa criação, que é responsabilidade deles. A grande lição desse filme é que precisamos começar a olhar para nossas mães e percebermos as fragilidades e o ser humano que existe dentro delas. Elas não são invencíveis e inquebráveis. Palavras e atitudes, principalmente vindas dos filhos, podem machucar muito. Mas, mais que tudo isso, talvez precisemos ver que nossas mães também podem sair para trabalhar e viajar pelo trabalho, sem causar a estranheza que isso causa (e ao mesmo tempo é naturalizado quando um homem faz a mesma coisa). Precisamos ver como, algumas de nós, são privilegiadas por terem como exemplo mulheres que sabem que a satisfação profissional e pessoal é ligada ao bem-estar dos filhos, mesmo que isso represente precisar optar por estar longe deles, uma decisão que não também não deve ser fácil.

Outra questão que é levantada, mesmo que sutilmente, é sobre a paternidade. Quem pode ser considerado pai? Aquele que cria ou o que tem a mesma tipagem sanguínea? Me nego a responder esse questionamento e é claro o que podemos imaginar o que acontece neste filme, como deveria ser.

Mesmo abordando todas essas relações, o longa ganha um carinho especial MESMO por falar de questões tão importantes para as mulheres dos dias de hoje. Precisamos falar sobre divisão de tarefas, feminismo, ocupação de espaços que deveriam ser igualmente de homens e mulheres e equiparação salarial. E tudo isso é abordado numa produção que conta com tanto protagonismo feminino. Maria Ribeiro e Laís Bodanzky brilham, fazendo um trabalho excelente a frente deste filme.

Com o selo da Globo Filmes, Como Nossos Pais é um filme que mexe com o público. O roteiro é excelente e o elenco não deixa a desejar! Poderemos ter uma forte candidata à Melhor Atriz.  As lágrimas saltam dos olhos e saímos da exibição querendo dar um abraço apertado em nossas mães. O longa estreia no dia 31 de agosto nos cinemas de todo o Brasil.

Foto: Cleiton Thiele / Pressphoto

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