Bom dia, Verônica: um thriller chocante e sobre mulheres | Crítica

Quantas mulheres que você conhece já sofreram algum tipo de violência? E quantas sofreram caladas, sem nunca denunciar? Bom dia, Verônica é o novo thriller psicológico da Netflix que chega dia 1 de outubro. A produção nacional traz uma narrativa potente e impactante sobre as violências que as mulheres sofrem todos os dias.

Verônica (Tainá Müller) é uma escrivã da polícia que vê sua vida mudar ao testemunhar uma mulher cometer suicídio na sua frente. A partir disso, ela começa uma investigação frenética para descobrir o que levou a vítima a tomar aquela atitude. É aí que a vida dela começa a cruzar com outras mulheres abusadas e violentadas.

Com nomes fortes no elenco, Bom dia, Verônica também traz Du Moscovis na pele do Tenente-Coronel Brandão e Camila Morgado no papel de Janete, sua esposa. Com todas as nuances de um relacionamento abusivo, os dois têm um segredo muito mais profundo para esconder. O policial, que cria pássaros e faz diversas vezes metáforas com gaiolas, é sombrio e faz a esposa ser conivente com as suas maldades. Janete aborda mulheres na rodoviária, vindas do Maranhão, e promete um emprego de doméstica. Assim, ela atrai as vítimas para que Brandão cometa crimes, seguindo um modus operandi. Os dois convencem muito em suas atuações. Mas Camila brilha. Suas expressões, seus olhares e gestos falam tanto quanto as palavras. A personagem sente tanto medo que podemos sentir o medo por ela. Existe um jogo de luz e cores muito interessante nas cenas dos dois. Brandão e seu universo verde, quando ele está com a sua faceta do mal, engolem Janete e seu universo vermelho, inclusive quando ele não está em casa. O verde reflete o tempo todo no entorno dela, cuidando dos seus passos. Já nas cenas em que brandão está mais bem humorado, as cenas são mais solares.

Com classificação de 18 anos é preciso dizer que Bom dia, Verônica é uma série forte. Principalmente para nós, mulheres, que muitas vezes nos reconhecemos nos pequenos ou grandes machismos, abusos e violências do dia a dia. Pequenos detalhes mostrados, como o fato de um policial homem acompanhar uma vítima ao exame de corpo de delito, ou uma delegada mulher reproduzir machismo perguntando à uma vítima de estupro que roupa ela estava usando ou se ela tinha bebido. São situações, infelizmente, recorrentes, que nos embrulham o estômago quando estamos assistindo. A série é bem gráfica, então, pessoas sensíveis à esses assuntos devem evitar.

Podemos dizer que Verônica é a nossa Marcella (da série homônima, também disponível na Netflix). Destemida, obcecada e com fantasmas do passado. E com um claro objetivo: salvar mais vítimas e descobrir o que aconteceu. Ela é incansável e isso incomoda até seus colegas de trabalho. Tainá Müller faz uma Verônica verossímil, inteligente, sagaz e destemida. A atriz está muito bem no papel.

No roteiro, adaptado de Ilana Casoy e Raphael Montes, por eles mesmos, existem poucos rodeios, mas muitas reviravoltas. Bom dia, Verônica é ótima indicação para quem adoras thrillers policiais e apresenta um tema que precisa ser abordado e debatido: a violência contra a mulher. É uma série em que o protagonismo feminino se faz presente de uma forma natural e sensível. 

A Vigília Recomenda muito!