Crítica

Besouro Azul não é o pior da DC

Um novo super-herói chegou às telonas. Jaime Reyes é o Besouro Azul, no novo longa da Warner/DC que entregou algo além da minha expectativa: um filme razoável.

Convenhamos, os trailers de Besouro Azul geram viradas de narizes e altas doses de indiferença. Parecia ser mais uma aventura escrachada anos 2000 do que uma nova produção de alta qualidade de uma das maiores empresas do mundo. Essa sensação também acompanha o filme, que, apesar disso, entrega algo relativamente decente.

Comparando com seus parceiros, aqui temos algo na linha do primeiro Shazam, de 2019 (que não me agradou, podem me odiar). Ou seja, uma pegada mais sessão da tarde e parecendo focar mais em um público infanto-juvenil.

No plot, temos os Reyes como pilar central, tanto para o desenrolar da história, quanto na vida de Jaime (Xolo Maridueña, de Parenthood e Cobra Kai), nosso protagonista. Ao retornar da faculdade, o jovem encontra sua família lutando contra as adversidades econômico-sociais de Palmera City, que se encontra dominada pela Kord Industries. Jaime acaba conhecendo Jenny Kord (Bruna Marquezine), sobrinha da CEO Victoria Kord (Susan Sarandon). 

Nisso, acidentalmente, Jaime acaba tendo que esconder um artefato misterioso, em formato de inseto. Assim que encosta no escaravelho, o jovem “ativa” o objeto, que passa a se fundir ao seu corpo, criando um traje que lhe concede poderes especiais.

O herói e sua família

O novo filme nos traz um novo herói adolescente, nos moldes ou numa possível tentativa de recriar a conexão do público com o nosso querido amigo da vizinhança Homem-Aranha. Curiosidade relacionada: Steve Ditko, co-criador do personagem da Marvel, foi o idealizador de Ted Kord, segundo personagem a receber o manto do Besouro Azul nos quadrinhos da DC, na década de 1960. Voltando ao filme, os paralelos entre o Besouro de Jaime e o Aranha de Peter Parker são vários. Além de serem “homens insetos”, são jovens dedicados, garotos bonzinhos e engraçados, que fariam tudo por sua família. Mas, diferente do pequeno núcleo de Peter, Jaime conta com uma rede de apoio um pouco maior: sua irmã, Milagro (Belissa Escobedo); seu pai, Alberto (Damián Alcázar); sua mãe, Rocio (Elpidia Carrillo), sua avó (Adriana Barraza) e o tio Rudy (George Lopez).

Essa grande família latina, soma ao longa, ora para bem, ora para mal em Besouro Azul. A representatividade, o espírito, as tradições e o bom-humor latino aparecem para agregar. Esse protagonismo, na frente e por trás das câmeras (o diretor, Angel Manuel Soto, é porto-riquenho), como constantemente comentamos por aqui, é essencial. Assim, começamos a ter novas narrativas e situações para as telonas, que mostrem a realidade e a voz de diferentes grupos. Com a família Reyes temos presente a pauta da desigualdade social, da resiliência e da imigração. E por mais relevante que tudo isso seja e por mais divertidos que eles sejam, algo saiu um pouco errado. Acerto na ideia, falha na execução. 

Falta de tom

Essa questão, inclusive, vai para além do ponto da família. Parece que os responsáveis pelo filme simplesmente aumentaram a intensidade de tudo, entregando excesso e intensidade, onde poderia haver mais sutileza e nuance.

Assim, muitas situações ficaram corridas, facilmente resolvidas ou pouco levadas a sério. Em um estalo de dedos, a personagem Jenny é jogada na tela. Em um piscar de olhos, Tio Rudy sabe pilotar uma nave sinistra da década de 1980. E, claro, deixam uma adolescente sem preparação entrar em uma fortaleza sinistra para lidar com vilões armados. 

As situações vão passando, em sua maioria, sem grandes problemáticas, tirando a falta de tom. As coisas fluem, mas sem conseguir nos cativar o suficiente, sem gerar o nível de emoção que nós sabemos que filmes de super-heróis podem sim proporcionar. 

Mesmo quando (alerta de spoiler) um personagem importante morre, o impacto é mínimo. Em uma posterior cena do nosso protagonista o encontrando “no além”, temos um momento que poderia ter valido por todos os outros. Se até o infame e debochado Deadpool conseguiu, em seu segundo filme (2018), trazendo Vanessa (Morena Baccarin) o esperando em casa, ao som de uma tristérrima versão acústica de “Take on Me”, do A-Ha, nos entregando lágrimas e mais lágrimas, Besouro Azul poderia ter feito melhor. Em uma referência mais recente, Guardiões da Galáxia Vol.3 (2023) nos provou o quanto é possível equilibrar humor e emoção em um filme repleto de VFX/CGI/Tanto Faz.

Personagens Medianos

E nessa falta de cativação, nenhuma atuação realmente se destaca. Susan Sarandon conseguiu entregar uma personagem detestável, mas sem nenhuma construção. Já há tempos se fala sobre a importância de entregar vilões relacionáveis, que por mais cruéis e absurdos que sejam, tragam algum ponto relevante, tenham algum propósito maior. Para isso, não preciso nem mencionar Thanos, o vilão de uma saga inteira, pois trago um antagonista de outra história de origem de herói que bem se encaixa nisso: o Killmonger de Pantera Negra (2018). Nesse sentido, até o minion Carapax (Raoul Max Trujillo) entregou um pouco mais de conexão com o público, apesar de sua narrativa previsível.

Carapax (Raoul Max Trujillo), Victoria Kord (Susan Sarandon) e Jenny Kord (Bruna Marquezine) em Besouro Azul (2023)
Carapax (Raoul Max Trujillo), Victoria Kord (Susan Sarandon) e Jenny Kord (Bruna Marquezine) em Besouro Azul (2023)

Xolo Maridueña é razoável, simpático e promissor. O ator tem potencial para construir mais o personagem, a partir da evolução do Besouro Azul dentro do universo cinematográfico da DC. O que, aliás, pode realmente acontecer de uma boa forma com o poder agora nas mãos de James Gunn e Peter Safran. 

Bruna Marquezine, talvez por um carinho e anseio maior pelo seu debut internacional, é quem mais superou as expectativas. Aliás, entregou um bom par romântico, teve uma boa história de fundo e mostrou muito potencial, tanto em continuar nesse mundo, como peça importante da história, quanto em se destacar cada vez mais em produções estrangeiras. 

Acertos de Consolação

Besouro Azul, no entanto, surpreendeu ao entregar bons efeitos visuais, o que não tivemos no recente The Flash (2023) e que, com certeza, não andamos vendo no estado degradante da Marvel no momento. Outro ponto acertado, visando, é claro, o futuro do personagem, foi a respeito das menções aos outros heróis a vestirem o manto do Besouro Azul, Dan Garrett e Ted Kord. Em breves momentos, foram nos dadas informações suficientes a respeito dos dois, que, aparentemente, possuem aqui histórias muito similares às suas versões nos quadrinhos.

Outro ponto vai para o longa não ter recorrido ao plot de destruição e salvação do mundo, focando nas dificuldades desse novo herói, em sua família e em uma vilã.

Com tudo isso, Besouro Azul acabou não sendo tão ruim quanto poderia (e parecia) ser. Apesar das conexões com o universo já construído, ele funciona muito bem de forma individual, contando com poucas menções aos heróis da Liga da Justiça, o que acabou sendo uma ótima coisa. Assim, vale a expectativa para um futuro do personagem muito mais por um queridismo, do que por ter sido um filme memorável. Também vale a pipoca, basta chegar sem muitas expectativas.

Veredito da Vigilia

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