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Beau Tem Medo angustia do início ao fim

Quando falamos em Ari Astra, pensamos em dois dos seus filmes de sucesso, Hereditário e Midsommar. E precisamos pensar em outra característica marcante do diretor. A sua capacidade de fazer medo no claro. De nos deixar em estado de alerta mesmo olhando para belas casas, jardins floridos e pessoas simpáticas. Desconfiamos de tudo. Em Beau Tem Medo, seu novo lançamento, não é diferente.

Joaquin Phoenix (Coringa) é Beau, um homem que precisa fazer uma tarefa temida por muitos adultos: visitar a mãe. Vivida por Patti LuPone, por uma ligação, vemos que ela é uma mulher implacável. Porém, a vida de Beau é complicada e viajar para ver a mãe se torna uma odisséia.

Astra acerta quando coloca os transtornos psicológicos em pauta e trabalha seu cinema para mostrar o quanto isso pode ser paralisador e angustiante. Angústia é a palavra certa. Como uma pessoa com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), me identifiquei com Beau no momento que o conheci. As crises de ansiedade eram tão reais que eu me via mentalmente dando conselhos para ele. Todas as cenas em que ele tem dificuldade de escolher, que ele não consegue se posicional ou que ele tenta agradar todos em todas as situações, mostram a vida de um ansioso.

É muito interessante observar onde a insegurança pode levar uma pessoa. Beau tem medo. Mas medo de quê? De quem? Muitas vezes, parece que ele tem medo de ser ele mesmo. De tomar as decisões, de ter atitudes. De sair do núcleo familiar, de cortar o cordão umbilical.

Joaquin Phoenix está brilhante no papel. Mais uma vez, ele consegue cativar e mostrar todas as camadas e nuances que Beau possui. Infantilizado, medroso, inseguro, angustiado. Entendemos todos os sentimentos que o protagonista apresenta apenas observando seus olhos e sua expressão corporal.

Patti LuPone é outro grande destaque. Sua interpretação é perfeita desde a primeira conversa por telefone com Beau. Ela nos deixa angustiados e, principalmente, nos faz refletir sobre os conflitos que temos com as nossas próprias mães. O quanto da sua formação como adulto vem da sua criação? O quanto isso afeta seu dia a dia? Pense e, após ficar paranoico, marque uma sessão de terapia.

Ao que tudo indica, Beau Tem Medo não é um filme feito para entender. Explico. A linha do tempo é confusa. Os acontecimentos são confusos. O que é verdade? O que é paranoia? O que é pensamento distorcido? Quando o filme terminou e os créditos subiram, eu entendi que cabia a cada espectador julgar o que era real e o que era fantasioso. A viagem por dentro da cabeça de Beau é confusa e angustiante, como na cabeça de qualquer ansioso. E o que é verdade ou mentira? Dificilmente saberemos.

Esperamos que tudo dê errado em Beau Tem Medo graças a Midsommar
Esperamos que tudo dê errado graças a Midsommar

Ari Astra joga com sua própria cinematografia para nos deixar em estado de alerta. Muitas vezes, desconfiamos de uma situação ou de alguém por lembrar de Hereditário, ou Midsommar. Porém, desta vez temos muito mais perguntas que respostas. Como disse antes, as respostas estão dentro do que você acha conveniente acreditar. Uma dica preciosa é: observe os detalhes. Veja marcas, anos, locais. Isso tudo vai ajudar a criar o sentido para muitas perguntas. Ou não.

Beau Tem Medo é um daqueles filmes que vai dividir opiniões. As pessoas vão amar ou odiar, mas dificilmente irão esquecer, assim como as outras obras do mesmo diretor. Vá com o coração aberto ao cinema e se prepare para 3 horas insanas.

Veredito da Vigilia

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