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AmarElo – É Tudo Pra Ontem mistura Rap com Samba para contar a história dos negros no Brasil

Estreia na Netflix no dia 8 de dezembro, o documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem, com os bastidores do show do rapper, cantor e compositor Emicida no Theatro Municipal de São Paulo. A apresentação fez parte da turnê do CD AmarElo, álbum que o artista lançou em 2019, tratando sobre temas do cotidiano, preconceito e saúde mental

Ao assistir o documentário, o espectador se depara com muito mais do que apenas a cobertura do show realizado em 27 de novembro do ano passado. Dividido em três atos (Plantar, Regar e Colher), Emicida narra um recorte histórico de 100 anos, contando a história daqueles que construíram um tipo de Brasil, mas que foram apagados dos registros históricos: os negros. Negros esses que ergueram a maioria dos prédios vistos hoje em dia, um deles alías, é o próprio Theatro Municipal. Motivo esse que levou o rapper a realizar a apresentação que serviria como carro-chefe para o documentário e que esteve repleto de ícones negros na plateia, incluindo membros do Movimento Negro Unificado (MNU), que nas escadarias desse mesmo prédio, protestaram contra o preconceito em plena ditadura em 1978. 

Além dessa retratação histórica, temos também uma forte presença do Samba durante os quase 90 minutos de filme. O motivo é justificado por meio de uma árvore genealógica, que liga esse gênero musical ao Rap que vemos hoje em dia e que acompanha a vida de Leandro Roque de Oliveira, vulgo Emicida, desde a mais tenra idade. “A Raiz do Rap é o Samba. Foi ouvindo Pixinguinha que eu percebi que podia ser grande como ele e contar as minhas histórias”, revelou o músico ao classificar a própria música como um “Neo-Samba”.

Emicida no Theatro Municipal de São Paulo

E claro, um documentário que se propõe a voltar 100 anos no tempo, comparando com os momentos atuais, não poderia deixar de fora o grande acontecimento de 2020, a pandemia do novo coronavírus. Coincidência macabra ou não, em AmarElo – É Tudo Pra Ontem, vemos como foi importante A Semana da Arte Moderna, que ocorreu em 1922, para que a Cultura Brasileira fosse retratada sem excluir nenhum povo. Outro acontecimento foi a apresentação do grupo Os Oito Batutas, que levou o Samba à França, em um evento para a volta do público a aglomerações, pós Gripe Espanhola (daí a coincidência macabra). Esses dois pilares, junto do conceito da palavra AmarElo (A força do Amar + a construção de um Elo) que formam o tripé de tudo que abrange o CD de 2019. 

Falando no disco, para quem gosta de Emicida, mas não escutou o seu último trabalho, é recomendável ouvi-lo antes de assistir ao documentário. Por mais que tenhamos muita história sobre a importância dos negros na construção do Brasil, ainda estamos falando sobre uma narrativa contada a partir do álbum AmarElo. Todas as participações dos artistas que estão no CD são explicadas durante o filme, mostrando bastidores das gravações das músicas, mesclando com a apresentação ao vivo no Theatro Municipal. A interpretação da atriz Fernanda Montenegro em Ismália (e que teria a colaboração da atriz Ruth de Souza, que infelizmente faleceu antes da gravação da canção); o bom humor de Zeca Pagodinho e a homenagem ao também falecido, o baterista Wilson das Neves em Quem Tem um Amigo Tem Tudo e claro, as performances poderosas de Majur e Pabllo Vittar na música que dá nome ao disco e o porquê da escolha de Sujeito de Sorte, do cantor Belchior estar presente, fazem com que você fique mais emocionado ao assistir e entender como AmarElo foi concebido.

AmarElo: Participações especiais cheias de motivação

Mas as homenagens não param por aí. São tantas que essa crítica precisaria ter uma “parte dois” para nomeá-las. Contudo, a última pessoa a ser lembrada é Mariele Franco, vereadora carioca assassinada em 2018. Um símbolo atual de luta pelos direitos dos negros, das mulheres e de tantas outras bandeiras.

AmarElo – É Tudo Pra Ontem é um documentário didático, que pode muito bem ser exibido em uma aula de História, ensinando muito em pouco tempo de tela, e ainda por cima, consegue entreter aqueles que apreciam uma boa música, com letras fortes, mas inspiradoras. Além disso, a premissa de que precisamos lutar para que não vivamos as coisas ruins que já aconteceram, mesmo parecendo que vivemos um passado, presente e futuro ao mesmo tempo atualmente, é sintetizada na frase que inicia e encerra o filme: “Exú matou um pássaro ontem, com uma pedra que ele jogou hoje”

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