CríticaFilmes

Acrimônia: novelão no cinema | Crítica

É interessante entrar numa sessão de cinema e entender o filme logo nos primeiros minutos. Na verdade, interessante talvez não seja o melhor termo. A previsibilidade tem mais proximidade com mediocridade, embora alguns filmes venham embalados em um pacote visualmente bonito. Mas é um outro problema quando uma ideia mirabolante se transforma em uma história ruim e pouco original. Isso tudo para começar a falar de Acrimônia, filme que estreia dia 9 de agosto, com a indicada ao Oscar Taraji P. Henson. A direção é de Tyler Perry.

Acrimônia tem uma ideia mal executada e um tanto presunçosa. Talvez fosse um bom filme na virada dos anos 80 ou 90, época em que algumas situações seriam mais facilmente digeridas pelo público. Mas o mundo e o cinema evoluíram, e hoje só consigo pensar em Acrimônia como aqueles filmes que passam no sábado à noite na TV aberta, aproveitando o dia em que ninguém fica em casa. Fora isso, deve ser um tanto degradante vê-lo de um ponto de vista feminino. Revoltante e ofensivo não seriam termos descartáveis. O fato é que temos uma história que começa no tribunal, passa pelo divã de um psicanalista e termina em uma tragédia mexicana em alto mar. Minto. Uma tragédia mexicana traria mais dignidade para a sessão.

 

Taraji P. Henson (Estrelas Além do Tempo) dá vida à Melinda, uma mulher abnegada, dedicada ao casamento, mas descontrolada quando traída. Um completo estereótipo. Ela engole todo o tipo de sapo que você pode imaginar para manter a casa, as contas e a relação com o marido, interpretado pelos ruins Lyriq Bent (fase adulta) e Antonio Madison (fase jovem). O marido engenheiro tem uma origem humilde e passa a vida tentando construir uma bateria auto-renovável, que, se aceita como projeto por uma multinacional, vai lhe render fama e dinheiro. É o suficiente para ele manter mais de 20 anos de casamento sem ter trabalhado um dia sequer. Mas voltamos à Melinda. Adivinhe qual é a única coisa que faz ela mudar seu comportamento para com o marido? Outra mulher. Falei que era ofensivo. Mas o negócio piora.

Taraji P. Henson é Melinda e Lyriq Bent é Robert.

Depois de muito sofrimento, e uma história arrastada (ao todo são duas horas de tortura), finalmente a pressão para cima de Robert chega. Em um tom de ameaças da família de Melinda. E quando tudo parece que vai dar errado, bom, é aí que dá errado mesmo. Mas é melhor não dar tantos detalhes, até porque o negócio é bem previsível. Ao mesmo tempo que a ruína chega ao casamento de Melinda e Robert, temos a conquista do maior objetivo profissional do engenheiro. Agora milionário, e com um divórcio forçado, Robert toca sua vida como sempre planejou com Melinda, mas ao lado de uma velha conhecida do casal. E a partir daí, começa um show de atuações forçadas, dramalhão e atitudes doentias por parte de Melinda. Fora o uso de grafismos na tela para nos convencer que os significados de “Acrimônia” e outros termos dariam mais importância para o filme.

Tudo culmina num desfecho trágico, é claro, mas que pode arrancar algumas risadas da plateia pela forma que foi montada, conduzida e produzida. Acrimônia é para 2018 o que Paixão Obsessiva foi para 2017. Um pouco de vergonha alheia e a certeza de que estará na nossa lista de piores filmes do ano.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *