CríticaFilmes

A Pequena Sereia reconta uma história. Mas será que precisava?

Desenvolver releituras de clássicos já virou uma tradição para Disney. Assistimos Mogli, Dumbo, Aladdin, A Bela e a FeraPinóquio… e agora chegou a vez de A Pequena Sereia. Envolto na polêmica pela escolha da atriz principal, o filme chega aos cinemas despertando curiosidade.

Vou começar a crítica saciando uma grande curiosidade que você deve ter. Halle Bailey está bem em seu papel de Ariel. Ela consegue ser uma adolescente rebelde na medida certa. Mas minha atuação favorita foi de Javier Bardem (Duna) como Rei Tritão. Bardem é um excelente pai de adolescente e talvez não tivéssemos nos dado conta disso. Melissa McCarthy entrega uma boa Úrsula e Noma Dumezweni também vai bem no seu papel de Rainha. Quem deixa a desejar com uma atuação mediana é Jonah Hauer-King, o Príncipe Eric. Seu papel não é cativante e perde força ao lado de Ariel e dos outros atores. Parece um tanto quanto limitado e robótico.

Quanto ao fundo do mar, temos boas imagens e ver na tela de cinema é realmente impressionante. Mas, preciso confessar que minha criança interior ficou um tanto quanto desapontada com os ajudantes de Ariel, principalmente com o linguado, que sempre foi um peixinho fofo e ganhou uma roupagem real demais. Aqui cabia uma licença poética. 

Javier Bardem entrega tudo como Rei Tritão em A Pequena Sereia
Javier Bardem entrega tudo como Rei Tritão

Sebastião e Sabichão fazem parte de um núcleo cômico que dá uma aliviada no drama excessivo da princesa. Ela, como uma boa adolescente, sofre muito e isso faz com que o filme tenha um ritmo lento. O sofrimento alternado com a cantoria somam 2h20 de duração, o que parece quase impensável para uma criança. Aliás, as músicas ganharam um ritmo mais melancólico no live-action de A Pequena Sereia. Enquanto tínhamos versões mais divertidas na animação, agora o drama toma conta.

Me chamou atenção que, como adulta, eu consigo entender melhor as motivações da Pequena Sereia. Ela é a adolescente clássica que apenas queria enfrentar seu pai e descobrir aquele mundo proibido. Ariel queria saber o que tinha para além do que a prendia. Queria saber como o mundo era fora do que ela conhecia. Como todos nós. Sempre quisemos explorar para fora da casa dos nossos pais, além do que já conhecemos. E sabemos que uma proibição pode gerar revolta e curiosidade. Ariel é curiosa e não aceita não como resposta. Ela quer entender que o mundo é maior que o próprio “quarto”. E seu pai não aceita isso.

Halle Bailey é uma boa Ariel
Halle Bailey é uma boa Ariel

Por outro lado, a história do príncipe Eric é semelhante. Ele também quer entender o que tem do lado de fora dos muros do palácio. Quer saber como as pessoas vivem, quer desbravar. E podemos fazer uma analogia com a vida. Quando queremos desbravar, conhecer, viver, queremos apoio, principalmente dos nossos pais. Os pais precisam deixar a gente voar, sabendo que eles estão no ninho que nos aguarda caso precisarmos voltar. E a história de Ariel é isso. Ela quer desbravar o mundo, mas precisa de apoio.

O que mais me incomoda em A Pequena Sereia é talvez a sua falta de propósito. Sai da sala de cinema com um sentimento de: será que precisava? É como se estivéssemos saturados com o que está sendo oferecido. Já conhecemos essas histórias há anos e anos e, mesmo ela ganhando uma nova roupagem, ela é mais do mesmo. Não tem novos elementos, ficamos novamente presos a castelos, realeza, bruxas e amor verdadeiro. Sinceramente, em 2023, não sei se cabe. Não sei se não deveríamos estar conhecendo novas histórias que dialogam melhor com a nossa realidade. A Pequena Sereia reconta, de forma mediana, uma história que não tinha necessidade de ser recontada. 

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *