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A comédia dramática argentina em “Recreo” | Crítica

O segundo filme estrangeiro do 46º Festival de Cinema de Gramado veio com a responsabilidade de representar o cinema argentino, reconhecido por seguidas safras de qualidade e um requinte comum à produção dos nossos “hermanos”. Recreo de Hernán Guerschuny e Jazmín Stuart conta uma história de três casais, famílias em diferentes estágios da vida, mas a maioria beirando os 40 (um pouco mais, um pouco menos) que se reencontram para passar o fim de semana em uma fazenda. E por lá, vão aflorar sentimentos e desejos, ao mesmo tempo que a vida vai surpreendê-los com situações que servem para nos fazer pensar e voltar ao eixo, à realidade que não poderíamos deixar fugir, principalmente em nossos relacionamentos mais próximos. Mas, como sabemos, a vida realmente nos cansa com rotinas, padrões e tabus.

Recreo é um clássico filme que retrata os “problemas” das pessoas de classe média alta. Todos já se sustentam, tem filhos, e são privilegiados perante a maioria da realidade, seja na Argentina, Uruguai ou Brasil. E nessa situação dos “white people problems”, são abordadas frustrações ou desejos sexuais, a “força” que é precisa ser feita para manter relacionamentos, que a princípio não tem qualquer problema, os filhos pequenos e o trabalho que dá mantê-los, a frustração no trabalho, entre outros. Enfim, situações que podem ser comparadas a alguém que reclama de barriga cheia, mas que são verdadeiros.

O ator Juan Minujin, e os diretores Jazmín Stuart e Hernán Guerschuny, de “Recreo”. Foto: Cleiton Thiele / Pressphoto

A história passa sem pressa, construindo o perfil de cada um dos personagens. O casal mais velho, donos da fazenda e com filho adolescente. O casal que recém teve um filho, onde o marido é egoísta e abafa a esposa, que está de saco cheio, deixando até mesmo sua fuga do companheiro afete o filho de colo e o casal mais novo, com trigêmeos, que flertam com sua beleza e desprendimento.

O início amigável entre todos, aos poucos vai dando espaço para birras e pequenas concorrências. Atores, cenários e fotografias estão bem coerentes com a proposta e competentes na forma de contar a história, embora nada tenha grande impacto para o público, até o desfecho, onde vemos que realmente questões até certo ponto “bestas” acabam realmente impactando negativamente nos relacionamentos. E normalmente os adultos só se dão conta de que estão errando quando um ato externo surge quase como que uma tragédia. Recreo acaba sendo um bom passatempo, agradável em suas cores e fotografia, e que traz uma boa mensagem ao final. Uma lição de moral bem embalada com as competentes mãos argentinas para o cinema.

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