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Malasartes e o Duelo com a Morte | Crítica

O cinema brasileiro retoma a fantasia, o bom humor e uma certa dose de seu folclore com Malasartes e o Duelo com a Morte. Em uma produção que até surpreende pela aplicação de efeitos especiais, o longa é dirigido por Paulo Morelli (Viva Voz, Cidade dos Homens), e traz aspectos que dificilmente não serão comparados com o clássico de Guel Arraes e Fernanda Montenegro em O Auto da Compadecida (1999). Sem o grande elenco do longa que depois virou série de TV, Malasartes e o Duelo Com a Morte nos traz a adaptação de um conto popular brasileiro e resgata nos cinemas o herói malandro que tanto é retratado na nossa terrinha.

Numa pacata cidade do interior (mas interior mesmo), somos jogados a vida de Pedro Malasartes (vivido por Jesuíta Barbosa). A ideia de vender um cara esperto, que engana a todos é facilmente compreendida, embora não tenhamos nenhum brilhantismo em suas trapaças. Namorado de Áurea (Isis Valverde), ele também espicha o olho para outra menina, enquanto vive fugindo do então cunhado, o rabugento, mal-humorado e pouco simpático Próspero (Milhem Cortaz, o quase Darin brasileiro, de tantas produções que ele se envolve). Completam o elenco principal Zé Candinho (Augusto Madeira), a Morte (Júlio Andrade), Fiandeira (Julia Ianina), Tecedeira (Luciana Paes), Cortadeira (Vera Holz) e Esculápio (Leandro Hassum). O mestre Lima Duarte empresta sua voz para os créditos iniciais.

A julgar pelos primeiros momentos, Malasartes é um filme promissor, mas vai se perdendo pelo caminho. Talvez funcionasse melhor mesmo como uma minissérie para a TV, sem grande responsabilidade de levar as pessoas até o cinema (e quem sabe não pensaram o filme dessa forma, não é?). Mesmo assim, temos coisas bem interessantes. Como Malasartes realmente desafia a Morte, temos boas ambientações, principalmente do “limbo”, onde a Morte e as três rendeiras habitam. A encarnação de morte por parte do gaúcho Júlio Andrade também é destaque. O mesmo não acontece com o badalado Leandro Hassum, que não funciona em nenhuma das piadas que lhe cabem. Por vezes elas viram um certo incômodo também. Por se tratar de um filme com pegada folclórica, Jesuíta, Isis e Milhem encarnam personas bem teatrais e fica fácil distinguir que os mais experientes acabam também se sobressaindo.

Na história, o malandro aguarda a chegada de um padrinho no dia de seu aniversário de 21 anos. A vida toda ele escutou que ele chegaria, mas ele não sabia nada a respeito. O que Malasartes não imaginava era que seu padrinho é a própria Morte, que quer arranjar um substituto, por um motivo muito simples, ela não quer mais ser a Morte. Ela quer se aposentar. Mas sabemos que no Brasil aposentadoria não é mais para todos (ou não vai ser). Com alguns dons dados pela Morte, Malasartes passa a ganhar dinheiro. Mas a escolha e o uso desses dons vai lhe colocar em uma encruzilhada.

É nessa encruzilhada o filme passa a se arrastar. Mas fica sempre clara a relação do que estamos vendo, e o personagem Zé Candinho está lá para digerir isso ao espectador. A metáfora e a lição de moral do filme, de que cada um tem um caminho e faz o seu próprio destino fica clara, embora um pouco óbvia e até clichê. Ao mesmo tempo, ela não deixa de ser sempre uma boa lembrança. E o desfecho de tudo é tal qual uma novela e talvez não seja uma solução tão boa para tudo que vimos.

Veredito da Vigilia

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