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Venom: Tempo de Carnificina é uma continuação constrangedora

Venom (2018) não foi nem de longe um dos momentos mais inspirados da Marvel nos cinemas. Mas fez dinheiro, o que nesse jogo, é basicamente o que importa, e garantiu sua continuação a partir do gancho – aleatório – de sua cena pós-créditos. Pulamos para 2021, após vários adiamentos em função da pandemia, e finalmente nos deparamos com Venom: Tempo de Carnificina, a continuação que consegue superar seu predecessor no nível de ruindade, provando na prática que deixar suas propriedades intelectuais (tudo bem que os direitos são da Sony Pictures, mas ainda estamos falando do mundo Marvel como um todo) nas mãos de quem não é do traçado pode novamente trazer a palavra ‘constrangimento’ para o dicionário de Kevin Feige e cia, coisa que parecia estar num passado já um pouco distante, mas que olhando para o retrovisor, é fácil de enxergar, como no final da era X-Men sob os mandos da 21th Century Fox. Estou falando mais precisamente de X-Men: Fênix Negra.

Em Venom: Tempo de Carnificina, temos de volta todo o elenco do primeiro filme, com o acréscimo de estrelas (completamente desperdiçadas) como Woody Harrelson (Kate) e Naomie Harris. Tão aleatória quanto a já mencionada cena pós-créditos de Venom (2018), é a trama de agora. Temos um fiapo de história que, pelo menos, não se furta a ser dinâmica e conta tudo (ou acha que conta) em 1h30. Esta talvez seja uma das únicas boas notícias no filme comandado por Andy Serkis (Uma Razão Para Viver) . O diretor, por sinal, não deixa de ser também uma decepção orquestrando o longa, entregando um produto bem inferior ao assinado por Ruben Fleischer (Zumbilândia). A culpa precisa ser dividida com Tom Hardy, que além do papel principal, assina o roteiro como Kelly Marcel (Cruella e 50 Tons de Cinza). 

andy serkis venom tempo de carnificina
Andy Serkis tirando ideias aleatórias para Venom: Tempo de Carnificina

No retorno do simbionte que veio da lua e (de certa forma) se apropriou de Eddie Brock (Tom Hardy), vemos o jornalista resgatando sua carreira com a possibilidade de entrevistar o serial killer condenado à cadeira elétrica Cletus Kasady (Woody Harrelson). E, me permita, vou usar a palavra ‘aleatória’ novamente, pois é a única forma de entender o porquê Eddie Brock é ‘convidado’ pelo criminoso. Quem vem dos quadrinhos já sabe, uma divisão do simbionte se unirá (acidentalmente) a Cletus e formará o vilão Carnificina. Infelizmente, o caminho até que isso aconteça é regado a diálogos ruins, tentativas de humor que não funcionam e a introdução do ‘grande amor’ do psicopata, a também poderosa Frances Barrison/Shriek (pobre Naomie Harris), que, novamente de forma aleatória, aparece já com seus poderes no epílogo do filme, sem qualquer tipo de explicação.

eddie brock e cletus kasady
Eddie (Tom Hardy) entrevista Cletus Kasady (Woody Harrelson) na prisão

Aliás, na falta de ter uma história contundente e explicações que façam a narrativa avançar, Venom: Tempo de Carnificina se dá ao direito de ser expositiva o tempo todo, com qualquer personagem que esteja em frente às câmeras. Nessa linha, ainda recorre a uma pequena animação gráfica para tentar conectar Cletus e Shriek e passar a ideia de que pessoas tão diferentes poderiam realmente ter uma relação tão forte. É uma dinâmica que não funciona e vai piorando a cada momento que vemos Woody Harrelson e Naomi Harris em tela, como se já não bastasse o protagonismo forçado de Tom Hardy e sua quase dupla personalidade em função do constante (e irritante) conflito com o simbionte que insiste em “devorar cérebros”. Mas tudo pode piorar, pois ainda teremos a participação ‘amorosa’ com Anne e mais desperdício de elenco com Michelle Williams e seu noivo Dan (vivido por Reid Scott). 

naomie harris é a vilã shriek
Shriek (Naomie Harris): a personagem aleatória que foi jogada na trama por conveniência de roteiro

Na ânsia de ser um produto de entretenimento rápido, Venom: Tempo de Carnificina se preocupa muito mais com gracejos do que qualquer outra coisa, dando a impressão que foi roteirizado, produzido e filmado em questão de poucos dias. A edição é picotada e as transições são um grande problema, pois em nenhum momento temos a construção de alguma coisa que se possa chamar de clímax. Personagens agem e se encontram como mesmo? Sim, de forma aleatória. A verdade é que a aleatoriedade parece perseguir todos os aspectos do filme e servir para basear as falas que vão ficando cada vez mais constrangedoras com o passar do tempo, deixando para Michelle Williams e Naomie Harris o fardo de falas quase que ridículas e algumas soluções de roteiro convenientes apenas para quem o fez. Como a tônica é não explicar nada, ainda temos um pseudo-gancho para uma continuação. que vai deixar muita gente se perguntando: Pra quê?

O terceiro ato acaba sendo o menos ruim de todos, pois as falas dão lugar a ação, que, novamente é um grande combate em CGI que repete o primeiro filme: luta de dois simbiontes alienígenas que espelham seus próprios poderes. A originalidade mandou lembranças.

venom 2 tempo de carnificina
Venom: Tempo de Carnificina e sua trágica sequência

Como se não bastasse, o prometido Tempo de Carnificina foi tão somente um subtítulo de impacto (aka marketing) que em nada se justifica, pois temos no máximo uma gota de sangue no filme todo. Por fim, e provavelmente mais importante que o filme todo, temos uma aguardada cena pós-créditos, que tem a pretensão de conectar um dos piores vilões da galeria do Homem-Aranha ao grandioso Universo Cinemático da Marvel. É nela que residem as principais esperanças dos fãs que devem encarar Venom: Tempo de Carnificina (estreia dia 7 de outubro) nas salas de cinema, mas eu vos digo: não se animem. Ela é tão aleatória e inexplicável quanto qualquer outra ideia do filme, o que deve deixar muita gente com medo do futuro do já tão mencionado Aranhaverso que se encaminha. Kevin Feige precisa melhorar sua relação com Amy Pascal urgentemente.

Veredito da Vigilia

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