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Uma Noite de 12 anos, uma visita ao passado como alerta para o futuro | Crítica

Pensando em assistir “Uma Noite de 12 anos”? Prepare-se para uma experiência sensorial. Não, nada vai saltar da tela, você não receberá nada em seu celular para interagir e a exibição tão pouco será em 3D. Mas você irá SENTIR. Uma Noite de 12 anos é um filme com co-produção do Uruguai, Argentina e Espanha, do diretor uruguaio Álvaro Brechner (Sr. Kaplan, Mal día para pescar e do curta The Nine Mile Walk). O longa teve honrosas indicações de Melhor Filme e Melhor Diretor durante o Festival de Veneza de 2018.

O filme reconta fatos históricos da ditadura militar no país vizinho. Desde o início da produção, percebe-se o foco na resiliência dos três membros do Movimento de Nacional Libertação Tupumaros, que se opôs à ditadura militar uruguaia, e que foram expostos às maiores barbaridades durante os 12 anos em que foram mantidos encarcerados.

 

A perspectiva apresentada pelo cineasta Álvaro Brechner traz a tensão da história (tragicamente real) de três figuras emblemáticas do Uruguai: Mauricio Rosencof (Chino Darín, filho de quem? Dele mesmo, Ricardo Darín), Eleutério Fernández Huidobro (Alfonso Tort) e do ex-presidente José “Pepe” Mujica (Antonio de la Torre), durante um luta, na escuridão, pela democracia do país. São quase 4.500 dias de privação do essencial e da dignidade (entre surras, falta de higiene e abusos psicológicos). Proibidos de se comunicarem verbalmente entre eles, os protagonistas criam linguagens alternativas para aguentar o sofrimento. É assim que acompanhamos boa parte da narrativa, que ainda mostra suas fugas ao passado e a luta dos protagonistas contra seus próprios pensamentos dentro daquele ambiente torturante. Por tudo isso, você sai do cinema com a certeza que a resistência é a grande protagonista deste longa metragem. Um fio de esperança em tempos obscuros. Vale lembrar ainda que Soledad Villamil (O Segredo dos Teus Olhos, Teu Mundo não Cabe nos Meus Olhosamiga da Vigília!) também está no elenco.

Soledad Villamil faz uma ponta no longa de Álvaro Brechner

Caro leitor, com o decorrer da história a possibilidade de você chorar vai aumentando gradativamente. Na dosagem certa, o sentimentalismo permeia a fase de reabertura democrática uruguaia e a liberdade dos três amigos. Mas vale lembrar que em tempos assim, nem todas as histórias são felizes. A própria dramaturgia nacional já recontou alguns recortes históricos importantes. Ainda que essa dura fase da história não tenha mostrado tantas histórias de superação, é esperançoso o reencontro entre mães, filhos, pais, amigos e irmãos…  Que “Uma Noite de 12 anos” sirva de alerta em tempos em que nosso País anda flertando com o totalitarismo e a intolerância.

*crítica por Michele Rocha

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