Crítica

“Um Broto Legal” e uma grande cantora de rock

“Um Broto Legal”, que traz a história de Celly Campello, considerada a percursora do rock no Brasil, que saiu do interior e conquistou o País, tinha tudo para ser um filme interessante e divertido de se assistir: a estética dos anos 1950 e 1960, músicas clássicas que vivem em nossos corações até hoje e a biografia de uma mulher que ultrapassou fronteiras em seu tempo. Uma pena que as expectativas não foram atingidas.

Ok, não vou negar, o filme é sim bem ambientado na época, com os looks e penteados clássicos, mostrando também os costumes desse outro tempo, como os programas de rádio gravados ao vivo com audiência e as famílias de classe média alta que marcavam presença constante em clubes renomados da cidade. Os maiores hits da cantora também estão presentes, é claro, e são muito bem interpretados na voz da intérprete de Celly, Marianna Alexandre. Mas, fora isso, o longa trata todas as demais situações de forma rasa, quando poderia muito bem ter aproveitado para nos cativar muito mais.

Mas vamos à trama! Em “Um Broto Legal”, acompanhamos a trajetória do rebelde Tony Campello (nome que veio a adotar ao longo da história), interpretado por Murilo Armacollo, um jovem apaixonado por música, que vive no interior de São Paulo (a hoje famosa Taubaté), e que quer trazer o rock and roll, uma novidade no Brasil, para a sua cidade. Se tratando dos anos 1950, é claro que nada disso era visto com bons olhos pela sociedade, muito menos por sua mãe (Martha Meola), que prevê uma vida de “vagabundagem” para o filho, caso ele decida seguir a carreira musical. Assim, Tony é enviado para trabalhar em um escritório na capital, onde, claramente, acaba encontrando ainda mais oportunidades de se conectar com a música. E é aí que tudo começa a acontecer para a dupla de irmãos.

Uma pausa na história para comentar que, apesar de ter lido a sinopse e saber que a história se tratava de Celly, até essa parte do filme, eu imaginava que o protagonista era, de fato, Tony, por conta do destaque, atenção e tempo de tela do personagem. Ainda bem que não foi o caso, pois apesar de Armacollo ter uma boa voz e ser sim um clássico galã visualmente, seu destaque não o favoreceu. Faltou carisma ou alguma motivação pessoal que gerasse conexão com o personagem. Assim, nossa história já começa decepcionando.

Durante a jornada de Tony por São Paulo, temos cenas intercaladas de sua família em Taubaté. E é aí que Célia, que viria a se chamar Celly (por conta de marketing), começa a ter seu destaque. Apesar de ter sim aparecido no início do longa, Marianna mais parecia a irmãzinha do protagonista do que, de fato, a estrela do filme. 

Marianna Alexandre e Murilo Armacollo em “Um Broto Legal”

E é aí que “Um Broto Legal” poderia ter se aprofundado muito mais. Assim como faltou motivação para Tony, Celly poderia ter brilhado muito mais, caso tivesse mais oportunidades de mostrar mais das situações complicadas que uma jovem do interior que busca trabalhar com música, em um ambiente majoritariamente masculino, sofreu naquela época.

Com isso, não quero dizer que toda obra de época precise, declaradamente, “militar” nas causas de gênero e sexualidade, mas acredito que é preciso sim enfatizar as problemáticas daquele momento da história.

Veredito da Vigilia

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