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Tomb Raider: A Origem | Crítica

Uma grande franquia dos games ganhando o cinema (novamente), desde seu anúncio já tem atenção total dos fãs. Se essa franquia for Tomb Raider, a atenção fica ainda redobrada. Um clássico lançado ao mundo em 1996 (sim, já são 22 anos!) cravou a personagem Lara Croft como ícone da cultura pop, ganhou suas primeiras adaptações com a estrela Angelina Jolie, e agora tem sua retomada com a igualmente estrela Alicia Vikander (Oscar de Atriz Coadjuvante por Garota Dinamarquesa). Tomb Raider: A Origem, por tudo isso, já cheira a um sucesso de bilheteria. Mas poderia ganhar proporções maiores. O reboot capricha na ação, mas esquece da história. E como eu gosto de pensar, texto é tudo.

Com estreia marcada para 15 de março, Tomb Raider: A Origem carrega consigo a essência do jogo em sua nova versão (quase idêntica ao porte de Alicia Vikander) lançada em 2013. E desde os primeiros segundos de filme, dá pra dizer que temos realmente algo diferente. Aquele frescor necessário para uma personagem que ganhou seu primeiro longa há apenas 17 (apenas???) anos atrás. Agora sob o comando do diretor Roar Uthag (não é uma onomatopeia), responsável por A Onda (2015), Fuga (2012) e Presos no Gelo (2006), a proposta é recontar a história de Lara e da família Croft.

Daniel Wu e Alicia Vikander no reboot de Tomb Raider

Ao contar com o desempenho e simpatia de uma protagonista extraordinária (Alicia Vikander pode fazer qualquer coisa nessa vida de atriz), soma-se aos pontos altos as inúmeras referências aos games. Já a história fica cheia de furos desde sempre. É aquele tipo de produção que você até certo ponto fecha o olho, mas depois de um tempo, os buracos começam realmente a incomodar. Um pouco mais de capricho daria para a Warner e sua nova empreitada um sucesso e tanto. É mais um reboot que falha como reboot.

Vale elencar alguns desses pontos negativos: vemos Lara como uma atleta amadora, que ok, sabe um pouco de MMA, é uma entregadora de lanches e herdeira de uma fortuna pra lá de incrível. Mas o passado do pai e essa herança ela prefere evitar. E sabe-se lá o porquê. O trauma do ente querido desaparecido e dado como morto é quase injustificável para uma adulta que sonegou por tanto tempo seu passado. Isso piora quando ela sem grande impulso, toma para si pistas deixadas pelo Lord Croft. Ah, mas o game é assim, vai gritar o gamer. Ok, pode até ser, mas aqui estamos falando de outra mídia, e motivações são importantes quando não se tem um controle com direcionais e botões especiais nas mãos.

Com as pistas deixadas pelo pai no testamento, que como hobby costumava encarnar o Indiana Jones, Lara começa sua caça ao tesouro, ou melhor, caça à misteriosa lenda de Himiko, uma espécie de deusa da morte, que deixou poderes sobrenaturais em sua tumba. O que fazer numa situação dessas? O mais óbvio, vender o amuleto que é sua principal ligação com o falecido pai e embarcar num avião rumo a uma ilha desconhecida na China. Outra ação que não se explica é a personagem chegar num lugar totalmente novo e adentrar mar adentro com uma pessoa mais nova ainda (Lu Ren, interpretado por Daniel Wu). Sem mais nem menos, eles parecem velhos amigos de infância sem trocar pelo menos 12 frases. E claro, pra chegar até ele, uma antiga gravação de mais de sete anos estava pronta para o play em uma handcam com uma bateria (com carga eterna) deixada pelo pai de Angelina, digo.. Alicia, digo… Lara Croft. Mas ok, vamos adiante e ignoramos que isso possa realmente ter um valor verossímil.

Referências: o game está bem representado em várias cenas do filme.

É na ilha desconhecida que o filme foge um pouco ao padrão das aventuras do tipo caça ao tesouro. Os desafios impostos são friamente calculados para que possamos ver as cenas que já existiam nos games. E claro, carrega-se nos efeitos especiais. Os trailers já deflagraram isso. O visual não incomoda tanto, o problema é acreditar que sem grandes introduções, Lara possa realmente ultrapassar tantas barreiras apenas com sua motivação pessoal. Apesar de um grande porte físico (Alicia ganhou consideráveis músculos na sua preparação para o papel) nada explica ou, novamente, justifica o que ela faz a partir de sua entrada na ilha. Pulos, escaladas, arco e flecha, ela encarna realmente uma heroína. Mas… gente ela entregava sanduíches até 10 minutos atrás. Faltou um background que nos fizesse acreditar em tudo que passou a acontecer.

Em sua nova construção, basicamente Lara é capaz de qualquer coisa, sem se ater ao clássico arco do herói, onde provações, aprendizados e auxílios são necessários para que haja crescimento do personagem. Dá até pra encarar metralhadoras e um exército com armas brancas. Enfim, dava pra ficar até amanhã só contando as peripécias dela na ilha e suas reviravoltas, mas não vamos cair em spoilers importantes, principalmente no embate direto com os vilões que já estarão lhe esperando na ilha.

 

Com total franqueza, Tomb Raider: A Origem não é digno o suficiente para uma das franquias de games mais famosas do mundo… mas ao mesmo tempo coloca novas possibilidades. Temos uma excelente protagonista, pronta para corrigir os erros desse primeiro filme em uma continuação que não deve chegar tão tarde, além de uma série de histórias já escritas pelos seus criadores desde 1996. Basta escolher e aparar bem as arestas. Podemos ter sim um novo Indiana Jones. Basta querer.

Essa crítica deixa para suas últimas frases um paradoxo. Com suas quase duas horas de duração, nem vemos o tempo passar em Tomb Raider: A Origem. É basicamente o padrão pipoca de ser, sem medo de ser feliz. Muita ação, pouca lógica. Mas diverte.

 

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