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Tempo: Shyamalan acaba com o bem mais precioso da vida

Para muitos, apenas o nome do cineasta M. Night Shyamalan já é o suficiente para conferir “Tempo” (Old), filme que chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira, dia 29 de julho. Eu sou um deles, não vou negar. Ele tem seu apelo e já conseguiu contar histórias incríveis nas telonas. Outras, entretanto, nem tanto. E em Tempo, adaptação de seu roteiro baseado na história em quadrinhos Castelo de Areia de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters, conseguimos reconhecer seus méritos em criar tensão e estranheza, ao mesmo tempo que fica fácil encontrar deslizes e escolhas um pouco duvidosas, entregando um filme interessante, no máximo. 

A ideia, como já visto nos trailers, foca toda em um grupo de turistas que é levado para uma praia paradisíaca e cheia de exclusividade. O problema é que lá o tempo passa de forma acelerada e isso vai impactar de maneira muito particular cada um dos veranistas, que, por óbvio, guardam um perfil e uma história diversa e cheia de nuances. Temos a idosa (Kathleen Chalfant), a mulher vaidosa Chrystal (Abbey Lee), um médico (Ruffus Sewel), um rapper (Aaron Pierre), um enfermeiro (Ken Leung), uma psicóloga (Nikki Amuka-Bird), e a família formada por Guy (Gael Garcia Bernal), Prisca (Vicky Krieps, de Trama Fantasma) e os filhos Maddox (interpretada por Thomasin Mackenzie, de Jojo Rabbit; Embeth Davidtz e Alexa Swinton) e Trent (interpretado por Alex Wolff, de Hereditário, Emun Elliott, Nolan River e Luca Faustino Rodriguez).

m. night shyamalan atua e dirige
Tempo: Gael García Bernal e M. Night Shyamalan prestes a envelhecer muito debaixo desse sol

E essa premissa é interessante ao ponto de nos entregar uma evidente estranheza, ao mesmo tempo em que a curiosidade e a tensão aumentam a medida em que cada um desses personagens vai sendo afetado. Shyamalan mistura truques de câmera para deixar o espectador nervoso. O jogo é funcional até determinado “tempo”, mas tem também algumas montagens que podem te fazer torcer o nariz. Por mais que seja proposital esconder partes da história, alguns dos jogos de vai-e-vem acabam parecendo na verdade um problema de edição, justamente por ficar fácil de distinguir a geografia e continuidade dentro do cenário paradisíaco proposto.

tempo: tensão e angústia na praia
Eliza Scanlen é Kara: venha sofrer com ela

Como sempre nos filmes de Shyamalan, é legal ficar atento às pequenas pistas nos cenários e em alguns diálogos, mesmo embora esse último não seja o grande forte do filme. Lembra da clássica ponta que o diretor faz em todos os filmes? Bom, prepare-se para uma dose um tanto exagerada dela. Talvez nem dê mais para chamar de ponta. 

Enquanto os personagens tentam se situar, a espiral de confusões e problemas vai aumentando, ao mesmo “tempo” em que eles brigam para responder questões como: 1- o que se passa?; 2- porquê não conseguem sair de lá? e 3-como o passar do dia está impactando em seus envelhecimentos? Isso, claro, é um prato cheio para ficarmos angustiados em frente à tela. Por outro lado, a cada minuto que passa, outra ideia que cresce junto é de que o filme pode não ter um desfecho satisfatório.

tempo
O médico e o louco: Rufus Sewell é Charles em Tempo

E este talvez seja o calcanhar de aquiles de “Tempo”. Depois de tanta angústia, o grande mistério é revelado. Absurdamente mastigado, sem margens para que o nosso imaginário possa trabalhar, Shyamalan vai entregando passo a passo todos os truques, tal qual o personagem Mister M fazia antigamente no quadro do Fantástico (pegou a referência ou não é do seu “Tempo”? ). E nessa virada de deixar tudo explicado, o espectador pode se frustrar bastante. Afinal, Shyamalan se notabilizou por grandes plot-twists nos finais de suas obras.

Oscilando bons e maus momentos, Shyamalan fica na média em Tempo, amparando sua trama em muita tensão e momentos de reflexão. Afinal, o que cada um de nós está fazendo com o seu próprio tempo?

Veredito da Vigilia

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