A história real (e panfletária) de “Superação – O Milagre da Fé” | Crítica
Uma história real contada no cinema é sempre uma história digna, desde que o processo todo seja bem feito. E agora temos uma história de vida incrível em “Superação – O Milagre da Fé”, que cumpre seu papel, mas traz problemas que podem incomodar o público mais crítico. A começar pela adaptação do título, que no original é Breakthrough, podendo indicar avanço, ruptura, descoberta. Mas, entenderemos em breve esta situação tão comum na adaptação dos nomes de filmes aqui no Brasil. O filme é dirigido por Roxann Dawson, que já trabalhou em séries como This Is Us e House of Cards).
Apesar de se posicionar como filme religioso e de história comovente, com atores conhecidos e boa produção, “Superação – O Milagre da Fé” é exaustivamente panfletário. Certamente este é um dos objetivos da produção, com forte apego à comunidade evangélica norte-americana, fatia que cresce muito em vários lugares do mundo (e não por acaso em várias vertentes em nosso País). E por isso, pode soar tão artificial ao longo de toda suas quase duas horas de duração. O roteiro é baseado no livro de Joyce Smith (vivida por Chrissy Metz, de This Is Us), uma devota mãe que vê uma tragédia em sua vida quando o filho adotivo John (Marcel Ruiz) quase morre afogado após brincar com os amigos em um lago congelado no interior dos Estados Unidos. Não foi pouco, o garoto ficou quase 15 minutos embaixo d’água até ser resgatado pelo bombeiro Tommy (Mike Colter, o Luke Cage da série de TV). Quase desacreditada pela medicina, foi Joyce quem jamais deixou de lado sua fé, mostrando que ela poderia sim ajudar seu filho a (literalmente) voltar a viver.
Em vários momentos percebemos que o filme quer vender uma igreja moderna, unida e que ampara seus membros. E em outros tantos quer empurrar a versão de que tudo foi uma obra divina. Vemos isso com muita frequência, desde a introdução do grupo de mulheres de Joyce, no personagem do pastor Jason (vivido por Topher Grace) e em sua família perfeita, na banda da igreja, no momento do resgate no gelo e depois ao longo de quase todos os diálogos. Tudo gira em torno de apontar que a família fervorosamente religiosa e sua comunidade foram abençoados por um toque de Deus. Toda a responsabilidade por tudo de bom que acontece na cidade, e, consequentemente, no milagre após a tragédia tem relação com divino. E tudo isso fica muito caricato, mesmo com o competente elenco. Chrissy Metz, até se destaca pelo seu papel de mãe superprotetora, mas acaba sendo prejudicada no andamento do filme pelo roteiro e diálogos pesadamente didáticos e com viés evangelizador. Mas é importante deixar claro, toda obra tem sua intenção. E aqui ela é clara até demais.
Fora toda a novelização, vemos um filme que pode emocionar muita gente. A produção seguidamente apelará para a trilha sonora, hinos de igreja, e uma mobilização da comunidade escolar que acaba não fazendo sentido quando tenta incluir uma incômoda virada de roteiro ao final de tudo, quando John retorna à sua normalidade. E novamente, tudo é um gancho para tornar as ideias religiosas ainda mais fortes, mesmo quando você é questionado do contrário. No final das contas, fica claro o porquê de uma adaptação para um título que nos jogue ainda mais a ideia de “Superação – o Milagre da Fé”.
A crescente de filmes deste gênero aponta para que “Superação – O milagre” da fé tenha uma boa participação nas bilheterias e reforce muito a fé e a religiosidade de devotos por todo o mundo.