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“Suburbicon – Bem-vindo ao paraíso” traz a direção de George Clooney na levada dos irmãos Coen | Crítica

George Clooney volta a ficar atrás, isso mesmo, atrás das câmeras, em Suburbicon – Bem-vindos ao Paraíso. Com roteiro do próprio Clooney e também dos irmãos Joel e Ethan Coen, mais Grant Heslov, o longa tem estreia dia 21 de dezembro e remete a um caso típico dos já produzidos pelos Coen. Fica bem fácil associar a outras obras como o clássico Fargo: Uma Comédia de Erros (de 1996), E aí meu irmão, cadê você? e Queime Depois de Ler. A assinatura fica bem visível, o que de longe já credita a obra como um bom filme. De quebra, temos em uma só levada ótimas interpretações de Matt Damon, Julianne Moore, Oscar Isaac e o novato Noah Jupe, que também chegou nas telonas com a boa adaptação de Extraordinário. Com um time desses, fica até fácil.

Mas Suburbicon nos remete a um bairro em uma pacata cidade norte-americana. É o símbolo do sonho americano, um local projetado, com casas bonitas onde vivem os “cidadãos de bem”, como diriam aqui no Brasil. Mas os tais “cidadãos de bem” não conseguem conviver com a diversidade, e passam a agir de forma racista (e bizarra) quando a primeira família negra muda para o bairro dos homens de bem. É quase um dia comum no Facebook, eu diria. Mas essa é uma trama paralela, para mostrar o quanto a família padrão pode esconder os piores membros da sociedade. Na trama principal, temos o clássico caso das coisas que começam e errado e seguem dando errado até o final. E isso envolve assassinatos, golpes em seguradoras, envolvimento com criminosos e a falsa fachada e moral de cuecas. Essa última parte é também um dia comum no Facebook e nas redes sociais da internet da vida.

No meio desse rolo todo está Nicky (Jupe Noah). Filho de Julianne Moore (em papel duplo como Rose e Margaret) e de Matt Damon (Gardner), ele perde sua mãe e passa a ter a presença da sua tia (gêmea da falecida) em sua casa. Nicky é também o único que interage com a família dos novos vizinhos, mostrando que a pureza das crianças ainda é a esperança do futuro. Ele vê toda a encrenca que sua família faz e vai aos poucos juntando as peças de um quebra-cabeças divertido de se acompanhar. Uma mescla de thriller irônico, mas que pesa um pouco a mão na crueza dos fatos. A ironia está em quase tudo no filme, desde o figurino anos 50 e a contextualização do bairro modelo, até o comportamento equivocado de quase 100% dos adultos. É aquela pitada de ver que a vida é mais falsa do que imaginamos normalmente.

Responsável por filmes como Boa Noite e Boa Sorte e Caçadores de Obras-Primas, Clooney pode muito bem deixar a atuação quando quiser. Sua versatilidade permite, e ele mostrou isso mais uma vez em Suburbicon. Que pode até não ser um grande marco cinematográfico, mas conta a história fechadinha, dá o recado, aponta sub-tramas e sub-textos importantes para o mundo atual. Tudo isso envolvendo um elenco incrível. Talvez o filme não tenha lá aquela vida de grande prestígio do público, mas você pode ter certeza que, ao entrar na sala escura para assistir Suburbicon, terá 1h45 de um belo filme e aquela sensação boa de ter feito um valoroso investimento.

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