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Stranger Things: irmãos Duffer entregam a primeira parte de uma supertemporada

Stranger Things volta de um grande hiato na sexta-feira, dia 27 de maio. Desde 2019, quando a turma de Hawkins nos entregou a batalha no shopping Starcourt estamos órfãos dessa mistura de anos 80, ficção científica e comédia sessão da tarde. A mescla quase perfeita dos Irmãos Matt e Ross Duffer fez de Stranger Things o carro-chefe da Netflix. E com todo carinho de quem sabe que tem um hit nas mãos, o canal de streaming preparou uma supertemporada para este quarto ano da série. Com episódios maiores, mais investimento e um tom mais sombrio, você será capaz de sentir todo esse carinho e cuidado com o show após apertar o play. E tudo isso já faz da quarta temporada (que será dividida em duas etapas, a primeira com os episódios 1 a 7 e a segunda, que chega dia 1º de julho, com os episódios 8 e 9) a maior de todas. Seja para o bem, ou seja para o mal. Eu conferi os sete episódios e abaixo seguem minhas primeiras impressões.

https://youtu.be/yTX0HxTq9wo

Culto ao terror

Sim, o terror reina nessa primeira etapa. Avançamos um pouco na linha do tempo e Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin), Eleven (Millie Bobby Brown), Dustin (Gaten Matarazzo), Max (Sadie Sink) e Will (Noah Schnapp) agora vão para o High School. Agora, Will e seu irmão mais velho Jonathan (Charlie Heaton) moram na Califórnia, dividindo o grupo de amigos. Com eles, Eleven vira uma nova integrante da família, que claro, conta com sua mãe superprotetora Joyce (Wynona Rider). Para se integrar com novos amigos na escola em Hawkins, Dustin e Mike entram para o Hellfire Club – um clube de Dungeons And Dragons, que apresenta uma das figuras mais marcantes desse novo arco, que é o metaleiro Eddie Munson (Joseph Quinn, de Operação Overlord). Ele traz consigo uma verve meio “Robert Downey Jr.” e presencia um dos momentos mais marcantes da abertura da quarta temporada. Afinal, Stranger Things botou os dois pés no terror para construir uma ameaça ainda ainda maior que a dos acéfalos Demogorgons vistos até então. A violência sobrenatural começa permeando este novo personagem, e as cenas são realmente bem impactantes. Quase como se James Wan estivesse ali atrás das câmeras.

Efeitos especiais e o Vecna

Vecna, o grande vilão de Stranger Things
Bem-vindos ao Mundo Invertido, a terra natal do Vecna

Os efeitos especiais estão melhores, assim como todos os acabamentos técnicos. Com isso, vemos que a nova e grandiosa ameaça da quarta temporada de Stranger Things tem novas características – distintas dos designs de monstros vistos até então na série. Apesar de guardar algumas semelhanças às características do Mundo Invertido das temporadas anteriores, nota-se uma preocupação em criar fisicamente um grande vilão, algo icônico como toda franquia de terror tem. Criando este grande vilão, que se convencionou chamar de Vecna – graças aos nossos jogadores de RPG, os irmãos Duffer colocam no tabuleiro de xadrez um par que ainda não existia para rivalizar, muito provavelmente, com Eleven. Aliás, os paralelos que o grupo de Dustin e toda turma encontram para explicar seus adversários do Mundo Invertido são sempre muito didáticos. Uma fórmula que já vem desde as primeiras temporadas, e parece bem funcional para toda a trama, mas que, de alguma forma, resolve enigmas de forma grosseira em dados momentos. E claro, temos Eleven com seus mistérios, e uma cena de abertura que é para deixar todo mundo fritando logo de cara (aliás, você pode conferir no vídeo acima).

Stranger Things 4: A origem do mal

É interessante acompanhar que a nova temporada tem também episódios mais longos. A maioria com mais de uma hora de duração. Isso não chega a ser um problema, pois com tantos núcleos de personagens para se trabalhar, é louvável que cada um ganhe um tempo digno de tela. Desta vez, nada a reclamar sobre. Além disso, todos eles possuem um ritmo interessante, e nada aqui nesta temporada é enrolação. Pelo contrário, vemos nitidamente que há uma necessidade de se contar várias coisas (muito provavelmente para que elas tenham seu desfecho, logo ali na frente, na última temporada). E esse ritmo vai nos trazendo muitas novidades e informações, ao cabo que dá muito mais destaque para quem está em Hawkins. Dustin, Lucas, Max, Steve, Nancy (Natalia Dyer) e Robin (Maya Hawke) parecem muito mais destacados nestes novos episódios, deixando Mike, Will e Jonathan com menos espaço – e até mesmo menos importância na trama. Por outro lado, ainda temos a trama paralela de Hooper (David Harbour) tentando sobreviver na Rússia após ter atravessado um dos portais do Mundo Invertido. Nesse aspecto, pouco tempo se tem para trabalhar personagens (a maioria afinal, já conhecemos bem). A jornada até aqui é justamente para aparar arestas da saga de Eleven (talvez a mais arrastada) e contar como surgiu a grande ameaça de Hawkins. É uma temporada de origem do mal, talvez um ponto negativo para a série, já que estamos na quarta temporada.

Stranger Things 4 Trailer oficial
Eleven (Millie Bobby Brown) tem sua história desvendada e novos momentos surtados

Independente do núcleo que estamos acompanhando, fica claro perceber que a cada episódio as cores e o tom mais cômico vão dando lugar para a escuridão e as soluções mais contundentes. O grupo de Hawkins, o mais ativo, busca tentar entender o porque a cidade ainda sofre com mortes e o que é esta “tal maldição”, saindo totalmente do escopo de base científica de outras temporadas para afundar de vez em uma saga mais mística, com o terror sobrenatural. O núcleo da Califórnia fica em segundo plano, até que Eleven comece a ganhar mais destaque na busca por recuperar seus poderes. Enquanto isso, Hooper tem uma saga bem difícil e sofrida, que condiz muito mais com a dureza de seu personagem. David Harbour está excelente em sua “nova versão”. Ainda assim, parece que agora realmente os irmãos Duffer entregaram uma resposta (goste ou não) para todo o mistério construído desde a temporada de origem. Nitidamente, essas soluções foram pensadas somente após o sucesso da primeira temporada de Stranger Things, pois as coisas não funcionam de forma tão orgânica e surpreendente quanto quando vimos Eleven e as crianças pela primeira vez.

A quarta temporada de Stranger Things tem muitos pontos altos. O seu aspecto menor, se podemos assim dizer, é o já mencionado o grande vilão surgindo … somente agora. É como se Thanos surgisse somente em Vingadores: Guerra Infinita e não estivesse orbitando a galáxia antes disso. Fica um pouco estranho, pois, desde muito antes, sua sombra já pairava sobre a saga. Sem ela, nitidamente temos uma temporada para se aprofundar na origem de um vilão que até então não tinha se mostrado. Uma correção de rumos (um filler? ou mesmo um pneu sendo trocado durante a corrida?) para que Stranger Things seja ou se torne ainda mais memorável.

De qualquer forma, os Irmãos Duffer entregaram novamente uma grande temporada. Agora, vamos aguardar com ainda mais ânimo pela chegada dos dois últimos episódios. Não é a toa que este é o grande hit da Netflix.

Veredito da Vigilia

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