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Somente o mar sabe: solidão e mentiras | Crítica

Acredito que chegar ao cinema e ser surpreendido é, quase sempre, uma coisa boa (exceto uma vez). Somente o mar sabe, drama dirigido por James Marsh (A Teoria de Tudo, 2015) e com um elenco incrível, estreia nos cinemas brasileiros em 26 de abril.

A ideia de fazer algo até então impossível – e obter uma recompensa em dinheiro – é o que move o inventor, empresário e velejador amador Donald Crowhurst (Colin Firth) a entrar em uma corrida solitária ao redor do mundo. Donald começa então uma jornada para ter tudo pronto para disputar a Golden Globe Race com uma chance de vencer. Como a proposta da aventura é dar a volta ao mundo sozinho e sem ancorar em nenhum lugar, Donald deixa em terra firme seus três filhos e sua esposa, Clare (Rachel Weisz).

O que teria tudo para ser uma história clichê, de separação e choros por saudade em um pier de frente para o mar, muda completamente quando Donald percebe que, na realidade, não é um velejador bom o bastante para competir na volta ao mundo, e também não pode mais voltar para casa pois criou dívidas impagáveis para poder construir o barco e arcar com os valores da competição.

O longa me lembra muito o clássico A Montanha dos Sete Abutres (1951), onde um jornalista tenta de tudo para conseguir uma boa notícia, não se importando com a situação ou as pessoas nela. Em Somente o Mar Sabe, vemos toda a construção midiática ao redor de Donald, uma idealização do “azarão”, notícias fantasiosas e um assessor de imprensa que faz de tudo para manter seu cliente parecendo o melhor possível, mesmo que isso não seja verdade.

Rachel Weisz no belíssimo Somente o Mar Sabe

Uma das melhores frases do filme é dita por Clare, enquanto vê os concorrentes de seu marido desistirem durante a corrida: “O que a água salgada faz com a mente desses homens?” e essa colocação se encaixa muito bem com a trama. Durante o desenvolvimento do longa observamos a transformação de Donald, que era um homem de família e cheio de vida, em uma pessoa louca, triste e sozinha no meio do oceano.

A produção usa muito bem a fotografia, não deixando chatas nem mesmo as cenas de completo silêncio. As imagens são incrivelmente bem produzidas, retratando solidão, beleza e dando ênfase a quão pequeno o homem é perante a imensidão do mar. Ainda sobre a filmagem, o longa utiliza um efeito que faz o filme parecer ter saído diretamente de décadas, atrás, dando um tom agradável e retrô.

Esse não é um drama que arranca lágrimas do público, mas que faz as pessoas refletirem. É o tipo de filme que depois de terminar a sessão, você continua falando sobre ele e pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes.

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