Singular Point procura ser complexo demais e esquece de Godzilla
Aproveitando o embalo de Godzilla vs. Kong, no dia 24 de junho tivemos mais um gostinho do lagartão japonês criado pela Toho Copany, com a estreia na Netflix de Godzilla: Singular Point (Ponto Singular). O anime é fruto da parceria entre os estúdios de animação Bones e Orange, já tendo estreado na TV japonesa em março deste ano.
Os 13 episódios da série possuem uma animação belíssima, com o design, tanto dos personagens quanto dos kaiju, sendo um espetáculo à parte. Porém, sua história é tão complexa que parece ter sido escrita por Christopher Nolan (Tenet, Interestelar, trilogia Batman).

Na história, uma misteriosa canção começa a tocar, atraindo os primeiros Kaiju a aparecerem na trama, os Rodans (uma espécie de pterossauro). Os funcionários da oficina Otaki, Yun Arikawa e Haberu Kato, descobrem essa frequência ao mesmo tempo que a super dotada Mei Kamino, dando início a uma jornada que envolve criaturas saindo das profundezas do mar, descobertas científicas decodificadas, conspirações e até viagem no tempo, mas apenas com a informação fazendo essa viagem.

Cito Nolan porque praticamente todos os diálogos de Singular Point são para explicar ou reexplicar alguma teoria, experimento, fórmula científica ou matemática. E tem até espaço para citações de poemas de William Blake, Dante Alighieri, a Bíblia Sagrada ou qualquer coisa que te faça parecer mais inteligente em uma conversa que poderia ser simplificada. E é esse justamente o defeito do anime, que dificulta demais os conceitos apresentados, deixando o Godzilla do título como um coadjuvante, que mal aparece, dando as caras do meio para o final da série, fazendo pontas aqui e ali durante os episódios. Tá bem que quando vemos ele soltando o famoso raio azul, é de arrepiar até o último fio de cabelo, mas se o nome do personagem está no título, eu esperava um pouco mais de protagonismo dele.

Mesmo problemáticos, alguns conceitos são sim bem legais e importantes no enredo de Singular Point. Os Kaiju evoluem a cada interação com os humanos, e nesse novo mundo, vão se tornando resistentes às ameaças, com uma espécie de “instinto vindo de um futuro próximo daquele evento”. A poeira vermelha que é trazida junto deles, fazendo com que a nossa superfície seja um pouco mais parecida com o habitat deles também é muito bem elaborada, demonstrando como é importante a fauna e a flora para o desenvolvimento de qualquer ser vivo.

Aparentemente, o único que consegue bater de frente com esses monstros é o robô Jet Jaguar (personagem da Toho que já apareceu nos filmes antigos de Godzilla), que inicialmente possui um design tosco (bem tosco) e com os membros desproporcionais ao seu corpo. Isso é proposital, já que estamos vendo uma máquina construída pela oficina Otaki e não por uma super organização governamental. Curioso ver que conforme os Kaiju vão evoluindo, o Jet Jaguar também precisa adquirir upgrades, fazendo com que seu desempenho melhore à medida que seu corpo adquire proporcionalidade, como se estivesse em uma jornada do herói das máquinas.


Godzilla: Singular Point é exaustivo e te prende apenas pela animação, bem como pelo apreço que todos possuem pelo lagartão mais famoso do Japão. Talvez se fosse em um longa-metragem, com menos tempo desperdiçado para explicar teses e citar escritores famosos, dando mais tempo de tela para o dono do programa, o roteiro seria melhor aproveitado. Mesmo assim, é um anime que vale a pena ser conferido com calma e com a mente descansada. Ah, fique atento a cena pós-créditos que nos confirma mais uma temporada.