Shade – Entre bruxas e heróis | Crítica
Não sei vocês, mas eu nunca tinha assistido um filme em Sérvio. Mas “Shade – Entre Bruxas e Heróis” veio para mudar isso. É o que dizem: há uma primeira vez para tudo. Assim como para assistir um filme em sérvio, sobre um garoto incrível e com paralisia cerebral. Pensem em uma surpresa mega agradável.
Baseado na obra da escritora sérvia Jasminka Petrovic e dirigido pelo novato Rasko Miljkovic, a história traz um twist ao tradicional drama que trata de bullying nas escolas. Mesmo mantendo o padrão de “há esse grupo que é mau, mas também há essa parte que é boa e só que acaba sofrendo”, Shade – Entre Bruxas e Heróis mostra que pessoas são pessoas e tem uma predisposição ao erro, às escolhas ruins e coisas que são naturais. O filme passou por mais de 20 festivais pelo mundo e ganhou os prêmios do júri popular no Festival Internacional de Toronto (Tiff Kids) e de melhor filme na Mostra Geração do Festival do Rio. Por aqui, ele terá uma estreia reduzida às cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Jaboatão dos Guararapes e Barueri, com distribuição da Cineart Filmes.
Conhecemos duas histórias que acabam interligadas, a de Jovan (Mihajlo Milavic), um garoto de 10 anos com paralisia cerebral, e Milica (Silma Mahmuti), uma garota tomboy recém transferida para uma escola nova, que tem uma predisposição para acabar em brigas e dificuldade em fazer amigos.
Um dos melhores diálogos do filme acontece quando Milica diz durante uma brincadeira “doutor, salve meu burro” enquanto ela ainda está conhecendo Jovan. E Jovan, que não tem amigos ou pessoas de sua idade que são próximas, apenas corrige dizendo “isso é uma lhama”. Milica, que também sofre bullying e que está se adaptando a nova vida, fica um pouco perdida e, novamente, se adapta dizendo “doutor, salve minha lhama que parece um burro”. Acho que esse diálogo é tão importante porque mostra a capacidade de adaptação de crianças que não tem um preconceito formado sobre outras. Milica “precisa de um amigo” tanto quanto Jovan.
Shade – Entre Bruxas e Heróis seria um filme muito parado caso não tivesse toda sua história contada paralelamente através da imaginação dos dois protagonistas. Milica e Jovan criam histórias, mundos e realidades diferentes para conseguirem lidar com a vida real, como a Cidade Fantasma em que Jovan é um super-herói chamado Shade ou quando Milica conta sobre a mulher muito estranha, que é uma bruxa e enfeitiçou seu pai para acabar com o casamento dele com a mãe dela.
Durante todo o filme fiquei com a impressão de estava assistindo um pouco de Ponte para Terabitia e O Poderoso Chefinho, só que com um ar mais obscuro. Mesmo que o filme trate sobre situações reais, no mundo real, uma vez que o adulto assistindo se dá conta de como a fantasia infantil está alterando a realidade, o filme perde um pouco o brilho e o sentimento de “aiiii, que bonitinho, mas quem sabe vocês falam com um adulto responsável e não fazem isso sozinhos” toma o lugar.
Shade – Entre Bruxas e Heróis é uma experiência única. Não é um filme que é completamente inovador ou que vai mudar a história da indústria de filmes – talvez da indústria sérvia, mas não conheço o bastante para dizer – mas é um filme agradável. Deem uma chance ao cinema sérvio e me contem o que acharam!