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Sense8: a série e seu final | Crítica

A ideia atrás de Sense8 de vez em quando passa em nossas cabeças como uma grande dúvida. E se, em algum lugar do mundo, existisse alguém como nós? Para os neófitos, é isso que a série das irmãs Wachowski retrata, e de diversas formas. Seis graus de separação, entrelaçamento quântico, telepatia, e a ideia que o homo sapiens será substituído por uma espécie mais avançada chamada homo sensorium (alô mutantes!).

Foi com essa pegada que as irmãs Lana e Lilly Wachowski (famosas pela troca de gênero e por nada mais nada menos que a trilogia Matrix, que revolucionou o cinema de ação) e também J. Michael Straczynski (Thor, Guerra Mundial Z e também diversas histórias em quadrinhos como Homem-Aranha e Poder Supremo) criam um história de conspiração, ação, e que no final entrega uma mensagem de amor, aceitação e diversidade (essa foi a maior bandeira que a série levantou e reunindo muitos fãs para as telinhas da Netflix desde o início, inclusive foi graças a eles que tivemos o episódio final).

E foi nessa última característica que a série se destacou, mostrando 8 pessoas dos mais diversos lugares do mundo com um “entrelaçamento psíquico”. Nele, além da comunicação entre os 8 “sensates” acontecer naturalmente, há também trocas de experiências do conhecimento entre eles, fazendo assim todos conseguirem se sair muito bem de situações específicas. Por exemplo, em uma luta, alguém com treino e conhecimento, passa esse dom para outra pessoa conseguir resolver a situação, entre diversos outros exemplos que encheriam ainda mais esse textão. Isso funciona muito bem pela direção dos atores e cenas de luta em que as Wachowski são especialistas.

 

Já o roteiro em si não colabora muito. A velha história de uma organização maléfica quer exterminar e fazer experimentos com os homo sensorium. É clichê e já vimos muito disso em diversas séries e filmes. Esse roteiro (ainda mais no último episódio) deixa muitos furos ou ainda arranja soluções preguiçosas para a trama. A gente até entende isso. A série é incrivelmente cara de se produzir (um dos motivos do cancelamento precoce), todos os oito atores principais (e seus núcleos de amizade e família) vivem em lugares como: Islândia, Coréia do Sul, Estados Unidos, Quênia, México, Berlin e Índia. Uma logística que deve ter sido um incrível plano para se arquitetar.

Esperava-se uma terceira temporada, para fechar melhor as arestas que o último episódio deixou. Seria o ideal para os fãs que foram homenageados nos créditos finais do último episódio. Não posso deixar de falar (atenção aos spoilers!) o quão bom é ver a série nos Ultra HD 4K da Netflix. Cenas incríveis do último episódio, como a explosão do helicóptero em Nápoles, ou o casamento de Nomi (Jamie Clayton) e Neets (Freema Agyeman) na Torre Eiffel em Paris (entendeu agora porque a série custou muito?) valorizaram e muito todo o trabalho envolvido.

Outro ponto positivo foram as cenas bem tocantes (não do último episódio) como a morte do pai de Will (Brian J. Smith) interpretado pelo colaborador ocasional das Wachowski, Joe Pantoliano (Matrix). O casamento da irmã de Nomi também trouxe um discurso sobre aceitação e família muito emocionante. Entre outros, como quando Capheus (Toby Onwumere) vira candidato no Quênia e fala com propriedade sobre política e a pobreza de sua cidade.

Sense8 e o elenco que conquistou o mundo, ou pelo menos, parte dele.

O final

Falando novamente do episódio final (Amor vincit Omnia – tradução do latim: Amor conquista tudo) e dos personagens… Tudo começa onde paramos em 2017, com o sequestro e tortura de Wolfgang (Max Riemelt, do ótimo A Onda), de onde os sensates criam um plano para resgatá-lo e todos se encontram em Paris para o resgate e eliminar a “evil corp” OPB. Quanto sangue! Quanto tiro! É um êxtase de tiroteio e luta … e ninguém importante morre. Quando pensamos e nos emocionamos na cena em que Kala (Tina Desai) é atingida, e no desfecho coerente pro trio Wolfgang-Kala-Rajan (Purab Kohli), ressuscitam ela… totalmente anti-climático – e isso que a relação Kala-Wolfgang era um plot interessante, mas acabou tendo o final mais “tanto-faz” da série. É essa preguiça de dar um fim ao roteiro que me incomodou (aceito o problema de terem pouca verba e tempo, mas convenhamos que nossos escritores já foram mais criativos). Outro exemplo foi darem a Sun (Doona Bae, uma das melhores coisas da série) um par apenas no último episódio. Mais uma solução fraca, afinal, as pessoas não podem ser felizes sozinhas?

O trio Lito (Miguel Ángel Silvestre), Hernando (Alfonso Herrera) e Dani (Eréndira Ibarra) já tivera o seu final feliz no final da temporada, com direito a vinda ao Brasil de TODO O ELENCO para a Parada Gay de São Paulo (que gerou o clipe abaixo).

O final de Capheus também poderia ter sido melhor. E a necessidade da cena final de todos estarem transando juntos teve só caráter de homenagem aos fãs (ao contrário das temporadas anteriores). Fora isso, praticamente a série se encerra deixando muitos fãs órfãos – mas quem sabe não façam um spin-off mostrando os outros grupos/clusters, com uma trama mais compacta, utilizando os mesmos efeitos utilizados para trazerem todos os personagens no mesmo lugar e utilizando as características de cada um para resolver novos problemas? Fica a dica – e com a mensagem de que unindo nossos talentos e sentimentos podemos passar por todo ódio e todo medo que temos como indivíduos e sociedade.

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Veredito da Vigilia

Éderson Nunes

@elnunes

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