Segunda temporada de Beastars prioriza a relação entre seus personagens

No dia 15 de julho tivemos a estreia da segunda temporada de Beastars – O Lobo Bom, na Netflix. A série, que segundo pesquisas, foi o anime preferido do público brasileiro em 2020, já foi renovada para uma terceira temporada, que assim como as primeiras, também ficará a cargo do estúdio Orange.

Sobre a segunda temporada de Beastars, é importante dizer que ela vai te enganar logo de cara. Isso porque ainda não sabemos quem é o responsável pelo assassinato de Tem, a alpaca que foi devorada por um carnívoro logo no primeiro episódio do primeiro ano do anime. Com esse mistério a ser resolvido, nosso protagonista Legoshi é convocado pela vigia da Escola, Cherryton, a cascavel Seis Olhos, para encontrar o culpado e restaurar a harmonia entre carnívoros e herbívoros. E a temporada te engana pelo fato de sugerir que poderíamos ter uma história de assombração, mas logo vemos que o possível fantasma era a cobra, que pouco depois dá as caras na trama. Outra “pegadinha” é a de que quem solucionar o crime será o novo Beastars. No entanto, essa ideia é esquecida no meio do roteiro e terminamos sem uma justificava.

Após essa missão, Legoshi parte para a investigação, sendo até mesmo confrontado pelo meliante, que realiza um atentado contra a vida do lobo cinzento, mas sem se revelar. Com esse enredo, somos induzidos a pensar que essa situação vai se arrastar até o final, nos deixando desconfiados de tudo e todos, criando inúmeras teorias. Só que não é isso que acontece e descobrimos cedo demais quem é o carnívoro que matou o “coleguinha”. 

Essa escolha acaba dando uma quebrada no ritmo da temporada, mas é justificável pelas questões que a partir daí serão levantadas e discutidas, e de certa forma, humaniza o agressor. Por estarmos assistindo uma história com seres antropomórficos, fica difícil chegar a um consenso sobre as motivações dos personagens, uma vez que eles tem rosto animal, mas usam roupas, falam e se movem como humanos. Então, muitas vezes não conseguimos comprar a ideia de que foi “puro instinto”.

No meio disso tudo, temos uma jornada paralela de Legoshi para buscar autoconhecimento com seu mentor, o panda Gohin. As literais transformações do lobo vão muito além de sua forma física, provando que não precisamos agir conforme a vontade do mundo ou de nossa natureza.

Paralela a essa jornada do nosso protagonista, vemos o que se passou com Louis, após o final da primeira temporada. Depois de matar o líder da máfia composta apenas por leões, a Shishi – Gumi, o cervo vermelho, acaba se tornando o líder do grupo, entrando para o mundo do comércio ilegal de carnes no Mercado Negro. É interessante pensar que temos dois personagens se espelhando em Beastars, bem como suas trajetórias: Legoshi, um carnívoro que usa como motivação defender os herbívoros, e Louis, um herbívoro que lidera um grupo de carnívoros e não se importa em vender a carne de outros animais.

Aliás, todos os momentos em que vemos um ser vivo consumir outro, temos sempre um discurso de como aquilo não é somente um pedaço de carne ou alimento. Um deles, que acontece no final da temporada, é muito bonito de se ver e refletir. Todas as vidas são valorizadas no anime. Desde uma minhoca até um mamífero grande. Você vai ter pena de comer qualquer coisa que já esteve viva algum dia depois de assistir a essa série. 

Obviamente temos outros personagens que roubam a cena, além de Legoshi e Louis. Vale destacar a evolução de Juno, a loba que era contra a interação entre espécies, principalmente entre carnívoros e herbívoros, mas que descobre ser insegura por pura ignorância. A coelha-anã Haru teve o seu tempo em tela bastante reduzido, aparecendo somente em cenas pontuais nessa segunda temporada. Os membros do Grupo de Teatro também são atores (com o perdão do trocadilho), na discussão sobre o convívio sadio entre os comedores de carne e os de folhas verdes, com direito a cenas chocantes e redenções emocionantes.

A segunda temporada de Beastars – O Lobo Bom é reflexiva, tratando sobre as relações que muitas vezes são prejudicadas por preconceitos bobos ou ensinamentos impostos pela sociedade, que teima em separar os seres, classificando-os em prateleiras. Porém, o ritmo dela, assim como na primeira temporada, perde o seu embalo na metade, crescendo novamente apenas nos episódios finais. Mesmo assim, suas discussões são engrandecedoras e necessárias.