CríticaFilmesStreaming

Samaritano seria um bom filme… nos anos 80

Em Samaritano (Samaritan) Sylvester Stallone vive um herói que precisa voltar da aposentadoria

Depois de ter um gostinho de aparecer em grandes produções da Marvel Studios (Guardiões da Galáxia 2) e DC/Warner (O Esquadrão Suicida), Sylvester Stallone agora é protagonista de seu próprio filme de super-herói. Em Samaritano (Samaritan) o nosso eterno Rocky Balboa encarna um herói do passado, que depois de uma grande batalha contra seu maior inimigo, passa a viver nas sombras, como um lixeiro que aproveita sua profissão recolhendo aparelhos eletrônicos jogados fora. A premissa e os trailers do longa, que é dirigido por Julius Avery, de Operação Overlord, nos remetem a algo que poderia ser espelhado no personagem David Dunn, interpretado por Bruce Willis no excelente Corpo Fechado (M. Night Shyamalan), mas no final das contas, essa comparação pode ter arruinado minha experiência com Samaritano. E como sabemos, quanto maior a expectativa, maior o tombo. O filme chega no Prime Video no dia 26 de agosto.

Mas calma, Samaritano não é uma calamidade. Na verdade, seria um bom filme de ação se ainda estivéssemos nos anos 80. Pois, é. Infelizmente, temos que contar com o contexto de que estamos mais de 40 anos na frente da década de ouro, e o que temos no final é um filme que logo perde seu vigor ao cair em uma trama tão básica quanto dos filmes que a Sessão da Tarde imortalizou. Nada contra tramas básicas, mas, mesmo pra quem faz feijão com arroz, o capricho faz toda a diferença.

Dentro do escopo do herói indestrutível de Corpo Fechado, Stallone é relutante quanto ao voltar a usar seus poderes para defender a cidade. Mas é claro, um estopim será necessário para que sua aposentadoria seja deixada de lado. E esse estopim se chama Sam (Javon ‘Wanna’ Walton, que vimos recentemente na terceira temporada de The Umbrella Academy). O menino é fã do Samaritano e seu exemplo, embora o roteiro o coloque (de forma bem providencial) a trabalhar para a gangue do mal do bairro, distorcendo um pouco essa adoração por quem faz o bem.

Sam e Joe em Samaritano
Javon Walton é Sam Cleary e Sylvester Stallone é Joe Smith em Samaritano. © 2022 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc. All Rights Reserved.

É na gangue do mal que temos o antagonista da história: Cyrus, vivido pelo sempre vilão Pilou Asbæk, o Euron Greyjoy de Game of Thrones e que recentemente vimos também em Uncharted. Aproveitando seu porte e cara de mal, ele entrega o que se espera, mas é um vilão sem grandes camadas. Como nos anos 80, ele é do mal e é isso. Tá tudo certo. Ele rouba a arma usada antigamente pelo Nemesis, arqui-inimigo do Samaritano, e começa a pregar a selvageria de outras décadas, usando também o manto do vilão.

A gangue do mal em Samaritano
Pilou Asbæk é Cyrus, repetindo sua fama de vilão. Metro Goldwyn Mayer Pictures © 2022 Metro-Goldwyn-Mayer Pictures Inc. All Rights Reserved.

O problema todo começa quando vemos que as ameaças e razões que movem todos os tabuleiros da trama são fracos. Sam precisa levar dinheiro pra casa, pois sua mãe que é enfermeira (oi?) não tem dinheiro para a família (só vivem os dois no apartamento). Ao se envolver ao mesmo tempo com a gangue e redescobrir o herói aposentado, ele vira o elo que motiva Joe/Samaritano a botar ordem no bairro (e na cidade toda). Aí caímos em sequências bem previsíveis, clichês de ação (novamente dos anos 80) e um terço final de filme que peca na direção de lutas e nos acabamentos necessários para a batalha que deveria ser o clímax. O cenário da “guerra” entre bem e mal é bizarramente mal feito, com efeitos especiais ruins (bem ruins) e isso nos tira completamente do propósito e da simpatia que poderíamos ter pela receita de ver Stallone encarnando seu próprio super-herói. Soma-se aí os diálogos fáceis, bordões e um plot-twist (que não vou entregar aqui), mas que pouco vai ajudar em toda a trama.

Por tudo isso, Samaritano chega diretamente no streaming, poupando nosso astro do cinema de um vexame maior caso fosse lançado nos cinemas. E chega com mais de 40 anos de atraso. O menino Robson de 9 anos adoraria ter visto esse filme.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *